Avançar para o conteúdo principal

Falta de Solidariedade na Europa

As recentes eleições na Bélgica são sintomáticas da total ausência de solidariedade até dentro dos próprios Estados. Trata-se afinal de um país dividido entre flamengos e francófonos e a questão da solidariedade esteve sempre presente nas campanhas eleitorais com os flamengos a afirmarem o seu cansaço de subsidiar o sul e com os francófonos a queixarem-se da falta de solidariedade dos seus vizinhos flamengos.
Este é o retrato do país que assume a presidência da União Europeia a partir de 1 de Julho e é também mais um exemplo da irrelevância da solidariedade numa Europa ela própria pouco solidária.
De resto, nos últimos meses assistiu-se à relutância alemã em ajudar um país da zona euro – a Grécia. Essa relutância por muito bem fundamentada que possa ter parecido foi determinante para a fragilidade de toda a zona Euro e da União Europeia.
Com efeito, a demora da Alemanha em participar activamente num plano de ajuda à Grécia acabou por redundar na ideia de que a Europa está muito longe de ser coesa, mostrando fragilidades que acabaram por fazer as delícias da ainda presente ditadura dos mercados. Mas a ausência de solidariedade entre Estados é tanto mais dramática quando contraria os princípios da própria construção europeia. A Europa é hoje apenas uma união económica e nem isso consegue ser com a devida acuidade. As questões sociais e a aproximação entre povos foram relegadas para o plano da quase indiferença. A Europa rege-se hoje pelas medidas de austeridade mais draconianas, esquecendo que os excessos dessas medidas inviabilizam o crescimento económico e, subsequentemente, o combate ao desemprego. A Europa é hoje um clube de egoísmos. Por conseguinte, a próxima presidência belga da União Europeia encaixa na perfeição numa Europa dividida e sem rumo.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Saídas para os impasses

As últimas semanas têm sido pródigas na divulgação de escândalos envolvendo o primeiro-ministro e as suas obrigações com a Segurança Social e com o Fisco. Percebe-se que os princípios éticos associados ao desempenho de funções políticas são absolutamente ignorados por quem está à frente dos destinos do país - não esquecer que o primeiro-ministro já havia sido deputado antes de se esquecer de pagar as contribuições à Segurança Social. A demissão está fora de questão até porque o afastamento do cargo implica, por parte do próprio, um conjunto de princípios que pessoas como Passos Coelho simplesmente não possuem. A oposição, a poucos meses de eleições, parece preferir que o primeiro-ministro coza em lume brando. E com tanta trapalhada insistimos em não discutir possíveis caminhos e saídas para os impasses com que o país se depara. Governo e oposição (sobretudo o Partido Socialista) agem como se não tivessem de possuir um único pensamento político. Assim, continuamos sem saber o que...

Fim do sigilo bancário

Tudo indica que o sigilo bancário vai ter um fim. O Partido Socialista e o Bloco de Esquerda chegaram a um entendimento sobre a matéria em causa - o Bloco de Esquerda faz a proposta e o PS dá a sua aprovação para o levantamento do sigilo bancário. A iniciativa é louvável e coaduna-se com aquilo que o Bloco de Esquerda tem vindo a propor com o objectivo de se agilizar os mecanismos para um combate eficaz ao crime económico e ao crime de evasão fiscal. Este entendimento entre o Bloco de Esquerda e o Partido Socialista também serve na perfeição os intentos do partido do Governo. Assim, o PS mostra a sua determinação no combate à corrupção e ao crime económico e, por outro lado, aproxima-se novamente do Bloco de Esquerda. Com efeito, a medida, apesar de ser tardia, é amplamente aplaudida e é vista como um passo certo no combate à corrupção, em particular quando a actualidade é fortemente marcada por suspeições e por casos de corrupção. De igual forma, as perspectivas do PS conseguir uma ma...

Outras verdades

 Ontem realizou-se o pior debate da história das presidenciais americanas. Trump, boçal, mentiroso, arrogante e malcriado, versus Biden que, apesar de ter garantido tudo fazer  para não cair na esparrela do seu adversário, acabou mesmo por cair, apelidando-o de mentiroso e palhaço.  Importa reconhecer a incomensurável dificuldade que qualquer ser humano sentiria se tivesse que debater com uma criança sem qualquer educação. Biden não foi excepção. Trump procurou impingir todo o género de mentiras, que aos ouvidos dos seus apoiante soam a outras verdades, verdades superiores à própria verdade. Trump mentiu profusamente, até sobre os seus pretensos apoios. O sheriff de Portland, por exemplo, já veio desmentir que alguma vez tivesse expressado apoio ao ainda Presidente americano. Diz-se por aí que Trump arrastou Biden para a lama. Eu tenho uma leitura diferente: Trump tem vindo a arrastar os EUA para lama. Os EUA, nestes árduos anos, tem vindo a perder influência e reputação ...