Avançar para o conteúdo principal

Vítima de nós próprios

Tem-se tornado evidente o esforço concertado no sentido de enfraquecer a zona euro, através do exacerbamento das fragilidades de alguns países que fazem parte da zona Euro, Portugal incluído. Podemos falar de especulação e que estamos a ser vítimas da voracidade dos mercados. É verdade. Mas também é evidente que estamos a ser vítimas de nós próprios, das nossas escolhas dos últimos anos. O país endividou-se enquanto o crescimento da sua economia era e é anódino.
Escolhemos um modelo de desenvolvimento económico-social que nos empobreceu, continuamos a ignorar a importância das reformas estruturais; preferimos viver na megalomania; adiámos indefinidamente o futuro do país. O resultado está à vista: um país frágil alvo de abutres financeiros. É dessa nossa vulnerabilidade de que nos temos de queixar.
A situação parece-me muito grave. Embora sejam óbvios os exageros em torno de algumas análises sobre a nossa economia, o espectro da pré-falência ou mesmo da falência - mesmo sem grande fundamento - é muito oneroso para um país já por si fragilizado. Infelizmente é este o comportamento dos mercados - fragilizam e alimentam-se de fragilizações pré-existentes.
Agora em desespero, PS e PSD parece procurarem soluções para atenuar a fúria dos mercados. As soluções passarão por antecipar algumas medidas do PEC e por cortar mais na despesa - como? Através do contínuo aniquilamento da classe média, ou do que resta dela. É incrível como é que as obras do regime sofreram uma operação de cosmética e não são simplesmente adiadas por tempo indeterminado.
Concluo lamentando o pessimismo indisfarçável deste texto, mas em abono da verdade as evidências dos últimos dias não deixam margem para um texto de uma natureza mais optimista. Espera-se que uma outra atitude da Alemanha possa vir a serenar os ânimos.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Mais uma indecência a somar-se a tantas outras

 O New York Times revelou (parte) o que Donald Trump havia escondido: o seu registo fiscal. E as revelações apenas surpreendem pelas quantias irrisórias de impostos que Trump pagou e os anos, longos anos, em que não pagou um dólar que fosse. Recorde-se que todos os presidentes americanos haviam revelado as suas declarações, apenas Trump tudo fizera para as manter sem segredo. Agora percebe-se porquê. Em 2016, ano da sua eleição, o ainda Presidente americano pagou 750 dólares em impostos, depois de declarar um manancial de prejuízos, estratégia adoptada nos tais dez anos, em quinze, em que nem sequer pagou impostos.  Ora, o homem que sempre se vangloriou do seu sucesso como empresário das duas, uma: ou não teve qualquer espécie de sucesso, apesar do estilo de vida luxuoso; ou simplesmente esta foi mais uma mentira indecente, ou um conjunto de mentiras indecentes. Seja como for, cai mais uma mancha na presidência de Donald Trump que, mesmo somando indecências atrás de indecências, vai fa

Outras verdades

 Ontem realizou-se o pior debate da história das presidenciais americanas. Trump, boçal, mentiroso, arrogante e malcriado, versus Biden que, apesar de ter garantido tudo fazer  para não cair na esparrela do seu adversário, acabou mesmo por cair, apelidando-o de mentiroso e palhaço.  Importa reconhecer a incomensurável dificuldade que qualquer ser humano sentiria se tivesse que debater com uma criança sem qualquer educação. Biden não foi excepção. Trump procurou impingir todo o género de mentiras, que aos ouvidos dos seus apoiante soam a outras verdades, verdades superiores à própria verdade. Trump mentiu profusamente, até sobre os seus pretensos apoios. O sheriff de Portland, por exemplo, já veio desmentir que alguma vez tivesse expressado apoio ao ainda Presidente americano. Diz-se por aí que Trump arrastou Biden para a lama. Eu tenho uma leitura diferente: Trump tem vindo a arrastar os EUA para lama. Os EUA, nestes árduos anos, tem vindo a perder influência e reputação e Trump é o ma

Normalização do fascismo

O PSD Açores, e naturalmente com a aprovação de Rui Rio, achou por bem coligar-se com o "Chega". Outros partidos como o Iniciativa Liberal (IL) e o CDS fizeram as mesmas escolhas, ainda que o primeiro corra atrás do prejuízo, sobretudo agora que a pandemia teve o condão de mostrar a importância do Estado Social que o IL tão avidamente pretende desmantelar, e o segundo se tenha transformado numa absoluta irrelevância. Porém, é Rui Rio, o mesmo que tem cultivado aquela imagem de moderado, que considera que o "Chega" nos Açores é diferente do "Chega" nacional. Rui Rio, o moderado, considera mesmo que algumas medidas do "Chega" como a estafada redução do Rendimento Social de Inserção é um excelente medida. Alheio às características singulares da região, Rui Rio pensa que com a ajuda do "Chega" vai tirar empregos da cartola para combater a subsidiodependência de que tanto fala, justificando deste modo a normalização que está a fazer de um pa