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Vítima de nós próprios

Tem-se tornado evidente o esforço concertado no sentido de enfraquecer a zona euro, através do exacerbamento das fragilidades de alguns países que fazem parte da zona Euro, Portugal incluído. Podemos falar de especulação e que estamos a ser vítimas da voracidade dos mercados. É verdade. Mas também é evidente que estamos a ser vítimas de nós próprios, das nossas escolhas dos últimos anos. O país endividou-se enquanto o crescimento da sua economia era e é anódino.
Escolhemos um modelo de desenvolvimento económico-social que nos empobreceu, continuamos a ignorar a importância das reformas estruturais; preferimos viver na megalomania; adiámos indefinidamente o futuro do país. O resultado está à vista: um país frágil alvo de abutres financeiros. É dessa nossa vulnerabilidade de que nos temos de queixar.
A situação parece-me muito grave. Embora sejam óbvios os exageros em torno de algumas análises sobre a nossa economia, o espectro da pré-falência ou mesmo da falência - mesmo sem grande fundamento - é muito oneroso para um país já por si fragilizado. Infelizmente é este o comportamento dos mercados - fragilizam e alimentam-se de fragilizações pré-existentes.
Agora em desespero, PS e PSD parece procurarem soluções para atenuar a fúria dos mercados. As soluções passarão por antecipar algumas medidas do PEC e por cortar mais na despesa - como? Através do contínuo aniquilamento da classe média, ou do que resta dela. É incrível como é que as obras do regime sofreram uma operação de cosmética e não são simplesmente adiadas por tempo indeterminado.
Concluo lamentando o pessimismo indisfarçável deste texto, mas em abono da verdade as evidências dos últimos dias não deixam margem para um texto de uma natureza mais optimista. Espera-se que uma outra atitude da Alemanha possa vir a serenar os ânimos.

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