O Programa de Estabilidade e Crescimento (PEC) apresentado pelo Governo é uma verdadeira caixinha de surpresas. Afinal, o PEC contém medidas draconianas que terão impacto na vida já por si depauperada de tantos e tantos portugueses.
A mentira é indissociável do PEC, ou dito por outras palavras, o PEC é a prova de que a mentira é uma das grandes armas para ganhar eleições. Há seis meses atrás, o défice atingia um determinado valor, o endividamento não era nada de preocupante ao ponto de se contemplar a construção de grandes obras como forma de investimento e a economia ia crescer. Em suma, não era expectável que se exigissem novos sacrifícios aos portugueses. Há umas semanas atrás, este PEC – sempre associado a uma espécie de mal necessário – iria afectar negativamente apenas os mais abastados. Hoje, muito poucos portugueses se podem dar ao luxo de dizer que o PEC do Governo não terá um impacto muito negativo sobre as suas vidas. A mentira vigorou há seis meses atrás, continuando até há escassas semanas e vai-se desvanecendo por força da realidade.
Importa não esquecer que o PEC é o resultado de anos de incúria e de irresponsabilidade. Depois de décadas de restrições fruto de um regime castrador não só das liberdades, como da plenitude dos indivíduos, chegou o tempo da megalomania e da irresponsabilidade que se acentuou nos últimos anos. De resto, ainda hoje se considera que o investimento, designadamente o de natureza pública, deve ser direccionado para a megalomania.
De igual modo, a escolha de um modelo de desenvolvimento económico e social que redundou no empobrecimento é essencial para se perceber a situação que o país está a viver.
Ora, o resultado acaba por ser invariavelmente o mesmo: o país vive um novo ataque à sua cada vez mais anódina classe média. Após uma década de sacrifícios, surge agora o zénite: mais e novos sacrifícios, talvez os mais duros das últimas décadas. Simultaneamente, somos alvo de crescentes humilhações a nível externo ao assistirmos ao recrudescimento da letra “P” de PIGS e ao sentirmos a asfixia fruto de pressões de uma União Europeia esquecida dos seus princípios fundadores de solidariedade e das inefáveis agências de notação financeira.
Em conclusão, o presente assemelha-se a um paroxismo, o futuro causa-nos arrepios e o passado, como tem sido habitual, é esquecido e, quem sabe, novamente perdoado.
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