Avançar para o conteúdo principal

Mário Crespo e José Sócrates

Começou outra novela cujo enredo se vai complicando com a entrada de novas personagens. Em síntese, Mário Crespo escreveu um artigo no qual acusa o primeiro-ministro de o classificar como sendo um problema entre alguns impropérios. Esta é mais uma acusação de tentativa por parte do primeiro-ministro de condicionar a comunicação social, mais uma entre várias. Entretanto, o Director de programas da SIC, que estava no mesmo restaurante, veio a público confirmar e refutar as acusações do jornalista da mesma estação.

Esta é mais uma novela de curta duração. Não existem provas que a conversa terá ocorrido tal como Crespo a descreveu e o primeiro-ministro já sobreviveu a situações mais intrincadas. De um modo geral, há situações menos transparentes que indicam uma eventual tentativa de condicionar jornalistas: o caso de Manuela Moura Guedes, a saída do Director do Público, José Manuel Fernandes, e agora a conversa de José Sócrates sobre Mário Crespo poderão até ser eventualmente explicáveis, mas deixam um rasto de suspeições que a atitude do primeiro-ministro não ajuda a eliminar: não presta esclarecimentos, refugia-se na vitimização e não esconde uma arrogância a todos os níveis reprovável em relação aos jornalistas.

No âmbito da ideia de liberdade que deve pautar a vida no país, importa sublinhar que o primeiro-ministro tem todo direito de proferir as palavras que entender, sem no entanto beliscar outras liberdades, sejam elas individuais ou liberdades como a de imprensa, nem tão-pouco pode exercer pressões, seja a quem for, no sentido de afastar as vozes incómodas. Aparentemente existe uma dificuldade incompreensível em aceitar que viver em democracia é viver num contexto de pluralismo onde a crítica coexiste com o direito ao contraditório. Todavia, José Sócrates abdica desse direito ao contraditório . A recusa em prestar esclarecimentos - tão típica da classe política portuguesa - alimenta todo o tipo de suspeições; o entendimento que se faz da democracia contém em si próprio uma multiplicidade de equívocos.

Voltando ao início, esta é mais uma história com final conhecido e inconsequente. Ficamos sem certezas quanto a quaisquer tentativas por parte do primeiro-ministro de condicionar a actuação da comunicação social, o que, a confirmar-se, seria de uma enorme gravidade. Infelizmente habitamos a terra da acusação pouco fundamentada e da arrogância de quem é representante dos cidadãos e que nem nessa qualidade se digna a esclarecer quem merece esclarecimento.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Normalização do fascismo

O PSD Açores, e naturalmente com a aprovação de Rui Rio, achou por bem coligar-se com o "Chega". Outros partidos como o Iniciativa Liberal (IL) e o CDS fizeram as mesmas escolhas, ainda que o primeiro corra atrás do prejuízo, sobretudo agora que a pandemia teve o condão de mostrar a importância do Estado Social que o IL tão avidamente pretende desmantelar, e o segundo se tenha transformado numa absoluta irrelevância. Porém, é Rui Rio, o mesmo que tem cultivado aquela imagem de moderado, que considera que o "Chega" nos Açores é diferente do "Chega" nacional. Rui Rio, o moderado, considera mesmo que algumas medidas do "Chega" como a estafada redução do Rendimento Social de Inserção é um excelente medida. Alheio às características singulares da região, Rui Rio pensa que com a ajuda do "Chega" vai tirar empregos da cartola para combater a subsidiodependência de que tanto fala, justificando deste modo a normalização que está a fazer de um pa...

Outras verdades

 Ontem realizou-se o pior debate da história das presidenciais americanas. Trump, boçal, mentiroso, arrogante e malcriado, versus Biden que, apesar de ter garantido tudo fazer  para não cair na esparrela do seu adversário, acabou mesmo por cair, apelidando-o de mentiroso e palhaço.  Importa reconhecer a incomensurável dificuldade que qualquer ser humano sentiria se tivesse que debater com uma criança sem qualquer educação. Biden não foi excepção. Trump procurou impingir todo o género de mentiras, que aos ouvidos dos seus apoiante soam a outras verdades, verdades superiores à própria verdade. Trump mentiu profusamente, até sobre os seus pretensos apoios. O sheriff de Portland, por exemplo, já veio desmentir que alguma vez tivesse expressado apoio ao ainda Presidente americano. Diz-se por aí que Trump arrastou Biden para a lama. Eu tenho uma leitura diferente: Trump tem vindo a arrastar os EUA para lama. Os EUA, nestes árduos anos, tem vindo a perder influência e reputação ...

Fim do sigilo bancário

Tudo indica que o sigilo bancário vai ter um fim. O Partido Socialista e o Bloco de Esquerda chegaram a um entendimento sobre a matéria em causa - o Bloco de Esquerda faz a proposta e o PS dá a sua aprovação para o levantamento do sigilo bancário. A iniciativa é louvável e coaduna-se com aquilo que o Bloco de Esquerda tem vindo a propor com o objectivo de se agilizar os mecanismos para um combate eficaz ao crime económico e ao crime de evasão fiscal. Este entendimento entre o Bloco de Esquerda e o Partido Socialista também serve na perfeição os intentos do partido do Governo. Assim, o PS mostra a sua determinação no combate à corrupção e ao crime económico e, por outro lado, aproxima-se novamente do Bloco de Esquerda. Com efeito, a medida, apesar de ser tardia, é amplamente aplaudida e é vista como um passo certo no combate à corrupção, em particular quando a actualidade é fortemente marcada por suspeições e por casos de corrupção. De igual forma, as perspectivas do PS conseguir uma ma...