A verdade em política é caminho a evitar, isto é assim é grande parte das democracias ocidentais e, evidentemente, não só nestas democracias. Em Portugal, a relativização da verdade tem vindo a ser uma evidência com o Governo de José Sócrates, em particular no que toca ao estado da economia do país – o verdadeiro estado.
A tentativa de esconder a catástrofe que se avizinha em matéria de endividamento do país é tão grave quanto a forma escolhida para relativizar esta importante questão – através da recusa em responder a perguntas de deputados eleitos pelos cidadãos, e através da arrogância, sempre da arrogância.
Esquece-se José Sócrates que a verdade, mais cedo ou mais tarde, vai rebentar-lhe na cara. Porventura, a ideia do primeiro-ministro seja relativizar a verdade durante mais algum tempo e esperar que a verdade do estado das contas públicas só se revelasse quando Sócrates estivesse longe do cargo de primeiro-ministro.
Felizmente, tudo se começa a revelar. A gravidade do nível de endividamento, a gravidade do défice, a irresponsabilidade política, a ausência de soluções, a chantagem como forma de negociação, a persistência do erro das grandes obras públicas como política de investimento. Deste modo, o primeiro-ministro tem a vida mais complicada, mas pode ainda contar com a complacência de um povo inerte, afundado na resignação da sua condição de pequeno, infeliz e fracassado. Partidos políticos sem rumo e um Presidente apanhado no meio deste cenário, esperando os cidadãos uma decisão da sua parte. Até agora, só puderam contar com frases inócuas.
Pelo caminho é a soberania do país que está, mais uma vez, em causa. Um país endividado acima das possibilidades é um país que põe em causa a sua soberania. E embora a soberania seja ela própria relativa com os ditames das agências internacionais de rating (sim, as mesmas que falharam em todas as previsões e que, em larga medida, estão na origem da crise económica internacional), não possível que os cidadãos continuem a aceitar um Governo que insiste em relativizar a verdade, na maior das impunidades.
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