Avançar para o conteúdo principal

Estabilidade para governar

Tenta-se a muito custo que existam condições de governabilidade, os partidos de centro e de centro direita têm feito esforços consideráveis para não terem que ir a eleições tão cedo. O PS talvez até seja o que menos interesse tem nesta situação e embora o país esteja cansado de Sócrates, o mesmo se pode dizer em relação aos outros partidos políticos. Por outro lado, Sócrates, num cenário de eleições antecipadas, poderia jogar a carta da vitimização. Quanto ao CDS-PP, as negociações em volta do Orçamento de Estado deram visibilidade ao partido e este mostrou ou quis mostrar ser um partido de estabilidade e responsabilidade; um cenário de eleições antecipadas talvez fosse um tiro no escuro para o partido e há a hipótese dos bons resultados de um passado recente simplesmente não se repetirem. E, finalmente, o PSD que é o partido que mais teria a perder um cenário de eleições antecipadas.

Com efeito, o PSD anda à deriva e enquanto não se encontrar, isto é, se se encontrar, só pode afastar a ideia de eleições. Não tem capacidade para um embate, mesmo contra um eventual Sócrates desgastado. Neste contexto, a solução passa pela estabilidade governativa, pelo menos por enquanto, e passa, indubitavelmente, pela viabilização do Orçamento de Estado - o PSD e o CDS não se comprometem e ficam-se pela abstenção.

A fragilidade do Governo, consequência do desgaste do primeiro-ministro poderia ser uma oportunidade para o PSD, mas paradoxalmente não é. E não será enquanto continuar a persistir a indefinição no partido. Quanto ao vazio de ideias, esse não é um mal exclusivo deste partido.

Nestas condições, tudo indica que se vai ter estabilidade governativa para os próximos meses. Porém, não é plausível que essa estabilidade perdure por mais que alguns meses. A paz que, por vezes, se verifica esconde uma verdade insofismável: a actual situação política é insustentável porque demonstra não ter soluções para os problemas do país. A paz é frágil, como demonstra a discussão sobre a Lei das Finanças Regionais, e parte substancial da classe política recusa-se em aceitar o facto de ser parte do problema (grande parte) e não da solução.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Saídas para os impasses

As últimas semanas têm sido pródigas na divulgação de escândalos envolvendo o primeiro-ministro e as suas obrigações com a Segurança Social e com o Fisco. Percebe-se que os princípios éticos associados ao desempenho de funções políticas são absolutamente ignorados por quem está à frente dos destinos do país - não esquecer que o primeiro-ministro já havia sido deputado antes de se esquecer de pagar as contribuições à Segurança Social. A demissão está fora de questão até porque o afastamento do cargo implica, por parte do próprio, um conjunto de princípios que pessoas como Passos Coelho simplesmente não possuem. A oposição, a poucos meses de eleições, parece preferir que o primeiro-ministro coza em lume brando. E com tanta trapalhada insistimos em não discutir possíveis caminhos e saídas para os impasses com que o país se depara. Governo e oposição (sobretudo o Partido Socialista) agem como se não tivessem de possuir um único pensamento político. Assim, continuamos sem saber o que...

Fim do sigilo bancário

Tudo indica que o sigilo bancário vai ter um fim. O Partido Socialista e o Bloco de Esquerda chegaram a um entendimento sobre a matéria em causa - o Bloco de Esquerda faz a proposta e o PS dá a sua aprovação para o levantamento do sigilo bancário. A iniciativa é louvável e coaduna-se com aquilo que o Bloco de Esquerda tem vindo a propor com o objectivo de se agilizar os mecanismos para um combate eficaz ao crime económico e ao crime de evasão fiscal. Este entendimento entre o Bloco de Esquerda e o Partido Socialista também serve na perfeição os intentos do partido do Governo. Assim, o PS mostra a sua determinação no combate à corrupção e ao crime económico e, por outro lado, aproxima-se novamente do Bloco de Esquerda. Com efeito, a medida, apesar de ser tardia, é amplamente aplaudida e é vista como um passo certo no combate à corrupção, em particular quando a actualidade é fortemente marcada por suspeições e por casos de corrupção. De igual forma, as perspectivas do PS conseguir uma ma...

Outras verdades

 Ontem realizou-se o pior debate da história das presidenciais americanas. Trump, boçal, mentiroso, arrogante e malcriado, versus Biden que, apesar de ter garantido tudo fazer  para não cair na esparrela do seu adversário, acabou mesmo por cair, apelidando-o de mentiroso e palhaço.  Importa reconhecer a incomensurável dificuldade que qualquer ser humano sentiria se tivesse que debater com uma criança sem qualquer educação. Biden não foi excepção. Trump procurou impingir todo o género de mentiras, que aos ouvidos dos seus apoiante soam a outras verdades, verdades superiores à própria verdade. Trump mentiu profusamente, até sobre os seus pretensos apoios. O sheriff de Portland, por exemplo, já veio desmentir que alguma vez tivesse expressado apoio ao ainda Presidente americano. Diz-se por aí que Trump arrastou Biden para a lama. Eu tenho uma leitura diferente: Trump tem vindo a arrastar os EUA para lama. Os EUA, nestes árduos anos, tem vindo a perder influência e reputação ...