Avançar para o conteúdo principal

Salário Mínimo

O Governo de José Sócrates tem o mérito indiscutível de ter lutado pelo aumento do salário mínimo. Neste particular não tem sido a propaganda a levar a melhor, o primeiro-ministro e a sua equipa mostram querer inverter o valor vergonhoso do salário mínimo nacional. O jornal Público mostra a evolução do salário mínimo e demonstra que o mesmo perdeu poder de compra desde 1974. O valor baixo do salário mínimo é apenas um sintoma de um país que ainda acha possível basear a sua economia em baixos salários. Na verdade aos muitos milhares que auferem o valor do salário mínimo juntam-se outros tantos ou mais que auferem um salário ligeiramente superior ao salário mínimo nacional.

A relação entre baixos salários e baixa produtividade é a grande justificação para manter à actual situação e em época de crise, junta-se a linha de argumentação que pretende defender a incapacidade financeira das empresas suportarem aumentos. Depois da crise logo se vê que desculpa se arranjará para evitar aumentos do salário mínimo. E quanto à produtividade? Quais são os factores que estão subjacentes à baixa produtividade? Também aqui as razões estão relacionadas com os trabalhadores que vão ter eternamente o estigma da escassa formação, quando esta situação nem sempre se verifica e quando os outros factores envolvidos na baixa produtividade raras vezes são invocados.

O problema também é cultural, e embora outros países europeus a procura do lucro seja uma realidade indubitável, também se percebe que uma economia que se baseia em baixos salários não é sustentável em democracia sem outras compensações, geralmente proporcionadas pelo Estado através de subsídios, e, paradoxalmente, não traz grandes vantagens para as empresas, designadamente ao nível na manutenção de funcionários ou para a sua motivação - factor ridiculamente ignorado em Portugal.

Com efeito, reconheça-se o esforço meritório do Governo no sentido de aumentar o salário mínimo nacional, mas critique-se quem, ainda agarrado a uma visão mesquinha do passado, prefere pensar no curto prazo e que continua a negar a dignidade que todos os trabalhadores merecem. E se, de facto, um aumento de 25 euros a cada funcionário é incomportável para as empresas, talvez essas mesmas empresas sejam mesmo insustentáveis.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Mais uma indecência a somar-se a tantas outras

 O New York Times revelou (parte) o que Donald Trump havia escondido: o seu registo fiscal. E as revelações apenas surpreendem pelas quantias irrisórias de impostos que Trump pagou e os anos, longos anos, em que não pagou um dólar que fosse. Recorde-se que todos os presidentes americanos haviam revelado as suas declarações, apenas Trump tudo fizera para as manter sem segredo. Agora percebe-se porquê. Em 2016, ano da sua eleição, o ainda Presidente americano pagou 750 dólares em impostos, depois de declarar um manancial de prejuízos, estratégia adoptada nos tais dez anos, em quinze, em que nem sequer pagou impostos.  Ora, o homem que sempre se vangloriou do seu sucesso como empresário das duas, uma: ou não teve qualquer espécie de sucesso, apesar do estilo de vida luxuoso; ou simplesmente esta foi mais uma mentira indecente, ou um conjunto de mentiras indecentes. Seja como for, cai mais uma mancha na presidência de Donald Trump que, mesmo somando indecências atrás de indecências, vai fa

Outras verdades

 Ontem realizou-se o pior debate da história das presidenciais americanas. Trump, boçal, mentiroso, arrogante e malcriado, versus Biden que, apesar de ter garantido tudo fazer  para não cair na esparrela do seu adversário, acabou mesmo por cair, apelidando-o de mentiroso e palhaço.  Importa reconhecer a incomensurável dificuldade que qualquer ser humano sentiria se tivesse que debater com uma criança sem qualquer educação. Biden não foi excepção. Trump procurou impingir todo o género de mentiras, que aos ouvidos dos seus apoiante soam a outras verdades, verdades superiores à própria verdade. Trump mentiu profusamente, até sobre os seus pretensos apoios. O sheriff de Portland, por exemplo, já veio desmentir que alguma vez tivesse expressado apoio ao ainda Presidente americano. Diz-se por aí que Trump arrastou Biden para a lama. Eu tenho uma leitura diferente: Trump tem vindo a arrastar os EUA para lama. Os EUA, nestes árduos anos, tem vindo a perder influência e reputação e Trump é o ma

Normalização do fascismo

O PSD Açores, e naturalmente com a aprovação de Rui Rio, achou por bem coligar-se com o "Chega". Outros partidos como o Iniciativa Liberal (IL) e o CDS fizeram as mesmas escolhas, ainda que o primeiro corra atrás do prejuízo, sobretudo agora que a pandemia teve o condão de mostrar a importância do Estado Social que o IL tão avidamente pretende desmantelar, e o segundo se tenha transformado numa absoluta irrelevância. Porém, é Rui Rio, o mesmo que tem cultivado aquela imagem de moderado, que considera que o "Chega" nos Açores é diferente do "Chega" nacional. Rui Rio, o moderado, considera mesmo que algumas medidas do "Chega" como a estafada redução do Rendimento Social de Inserção é um excelente medida. Alheio às características singulares da região, Rui Rio pensa que com a ajuda do "Chega" vai tirar empregos da cartola para combater a subsidiodependência de que tanto fala, justificando deste modo a normalização que está a fazer de um pa