O trabalhadores da grande distribuição vão fazer greve no próximo dia 24, véspera de Natal. A greve destes trabalhadores é uma resposta à proposta da Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição que, entre outras propostas deliciosas, sugere que a carga horária semanal passe para as sessenta horas, ou seja o período normal de trabalho por dia pode sofrer um acréscimo de quatro horas. São propostas desta natureza que nos remetem para um regresso ao passado longínquo da Revolução Industrial e nos fazem lembrar novas formas de escravatura. Dir-se-á que a comparação é exagerada, mas a verdade é que a crise, a complacência dos Governos em relação ao constante menosprezo pelo bem-estar dos cidadãos, a aceitação do trabalho precário como inevitabilidade abrem portas a novas formas de escravatura e roubam a dignidade daqueles que trabalham.
Para aqueles que contestam esta e todas as outras greves, importa lembrar que hoje são estes trabalhadores a serem confrontados com a possibilidade de virem a trabalhar mais horas, restando ainda menos tempo para a família e para o lazer, com consequências cada vez mais nefastas, muitas das quais já são uma realidade. Mas amanhã serão outros trabalhadores a serem confrontados com esta possibilidade.
A ideia de que uma reforma do Código do Trabalho que imponha mais flexibilidade pode ser a panaceia para o tão almejado aumento da produtividade. Infelizmente, sempre que se fala em flexibilização, acaba-se sempre por falar de aumento da carga horária, como se neste país os cidadãos tenham muito tempo livre entre mãos para dedicar à família, ao descanso e ao lazer. A inépcia é tanta que nem se percebe que trabalhar muitas horas é assim tão rentável, olhe-se para outros países europeus em que se trabalha menos, tem-se mais tempo pessoal e são países muito mais produtivos do que o nosso. De facto, o problema também é mais uma vez cultural: a ideia de descanso e lazer remete para o conceito de indolência; o egoísmo que nos caracteriza não nos faz ver que é deplorável que alguém tenha que passar o seu tempo entre trabalho e transportes públicos, restando poucas horas para a alimentação e para dormir; a nossa estreiteza de espírito ainda nos faz colocar numa posição contra estes trabalhadores porque até dava jeito fazer compras nesse dia.
Por estas razões, os excessos que são aqui referidos vão vulgarizar-se ora porque a lei o permite, ora porque a sociedade remete-se ao silêncio. Pelo caminho, quem promove estas ideias não é criticado e contribui-se assim para que cada vez se oiça mais a palavra "plutocracia".
E depois há aqueles que no seu íntimo deliram com estas notícias porque sempre podem dizer "bem feito, não foram vocês que votaram no partidos do centrão? Agora aguentem". Esquecem-se, porém, que quem vota nestes partidos, não vota necessariamente nesta ou naquela política específica - vota num conjunto de políticas, e pode discordar o concordar com algumas dessas políticas. E quem votou no PS, por exemplo, estará porventura agora pouco legitimado para criticar o PS? É por ideias obtusas como estas que a nossa democracia é dominada por partidos políticos herméticos e afastados dos cidadãos. Os partidos precisam de ser escrutinados também por quem neles votou. Ou talvez fosse melhor votar nos partidos mais à esquerda, partidos que defendem um modelo de desenvolvimento económico e social falido, afinal de contas esse voto seria do agrado de quem se regozija com estas notícias - os tais do "é bem feita".
Estes assuntos devem ser discutidos pela sociedade e não apenas no seio dos partidos políticos, dos sindicatos ou do patronato. Talvez fosse mais profíuo que se pensasse em que tipo de sociedade estamos a construir e será que queremos uma sociedade com mais semelhanças com a Holanda ou com a China?
Para aqueles que contestam esta e todas as outras greves, importa lembrar que hoje são estes trabalhadores a serem confrontados com a possibilidade de virem a trabalhar mais horas, restando ainda menos tempo para a família e para o lazer, com consequências cada vez mais nefastas, muitas das quais já são uma realidade. Mas amanhã serão outros trabalhadores a serem confrontados com esta possibilidade.
A ideia de que uma reforma do Código do Trabalho que imponha mais flexibilidade pode ser a panaceia para o tão almejado aumento da produtividade. Infelizmente, sempre que se fala em flexibilização, acaba-se sempre por falar de aumento da carga horária, como se neste país os cidadãos tenham muito tempo livre entre mãos para dedicar à família, ao descanso e ao lazer. A inépcia é tanta que nem se percebe que trabalhar muitas horas é assim tão rentável, olhe-se para outros países europeus em que se trabalha menos, tem-se mais tempo pessoal e são países muito mais produtivos do que o nosso. De facto, o problema também é mais uma vez cultural: a ideia de descanso e lazer remete para o conceito de indolência; o egoísmo que nos caracteriza não nos faz ver que é deplorável que alguém tenha que passar o seu tempo entre trabalho e transportes públicos, restando poucas horas para a alimentação e para dormir; a nossa estreiteza de espírito ainda nos faz colocar numa posição contra estes trabalhadores porque até dava jeito fazer compras nesse dia.
Por estas razões, os excessos que são aqui referidos vão vulgarizar-se ora porque a lei o permite, ora porque a sociedade remete-se ao silêncio. Pelo caminho, quem promove estas ideias não é criticado e contribui-se assim para que cada vez se oiça mais a palavra "plutocracia".
E depois há aqueles que no seu íntimo deliram com estas notícias porque sempre podem dizer "bem feito, não foram vocês que votaram no partidos do centrão? Agora aguentem". Esquecem-se, porém, que quem vota nestes partidos, não vota necessariamente nesta ou naquela política específica - vota num conjunto de políticas, e pode discordar o concordar com algumas dessas políticas. E quem votou no PS, por exemplo, estará porventura agora pouco legitimado para criticar o PS? É por ideias obtusas como estas que a nossa democracia é dominada por partidos políticos herméticos e afastados dos cidadãos. Os partidos precisam de ser escrutinados também por quem neles votou. Ou talvez fosse melhor votar nos partidos mais à esquerda, partidos que defendem um modelo de desenvolvimento económico e social falido, afinal de contas esse voto seria do agrado de quem se regozija com estas notícias - os tais do "é bem feita".
Estes assuntos devem ser discutidos pela sociedade e não apenas no seio dos partidos políticos, dos sindicatos ou do patronato. Talvez fosse mais profíuo que se pensasse em que tipo de sociedade estamos a construir e será que queremos uma sociedade com mais semelhanças com a Holanda ou com a China?
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