O caso Face Oculta tem servido para mostrar que a opacidade é aceitável em política, mas também tem servido para escamotear a estonteante ausência de ideias dos partidos políticos com assento parlamentar. O último episódio desta triste novela, que teve lugar na semana passada na Assembleia da República, mostrou um primeiro-ministro manifestamente incomodado com o caso e uma oposição que fugindo do tema central relacionado com a economia cedeu à tentação de fazer da Face Oculta e das escutas o tema central.
Além da irresponsabilidade de não se discutir o défice acima dos oito porcento, do grave endividamento do país e da taxa de desemprego de dois dígitos, o PS decidiu encetar ataques contra a líder do principal partido da oposição, acusando Manuela Ferreira Leite de saber antecipadamente das escutas porque tinha dito que o primeiro-ministro estava a mentir sobre o seu conhecimento relativamente ao caso TVI. A inépcia do deputado do PS que fez essas acusações é tanta que não terá percebido que a sua acusação revela que as escutas sempre são o caso TVI.
Enquanto o desemprego sobre, a iniciativa privada esmorece e as expectativas em relação ao futuro são negativas, a classe política passa o tempo a demonstrar que para além de ter pouca consideração pelos portugueses, não tem soluções para tirar o país do buraco em que está metido.
É bom que se perceba que não se tratando de um exercício gratuito de pessimismo, importa perceber a gravidade da situação da economia portuguesa. Como é que se vai lutar contra um défice acima dos oito porcento? Como atenuar o elevado endividamento do país? Será com a construção de grandes obras? E como estimular a iniciativa privada quando a produtividade é baixa e para além de políticas fiscais intrincadas e onerosas, a possibilidade de um aumento de impostos mais parece uma inevitabilidade?
Nenhum partido político mostra estar empenhado para solucionar os graves problemas mencionados. A oposição oscila entre soluções falidas e a ausência completa de ideias; o Governo tenta atenuar as consequências da actual conjuntura através de paliativos que para além de não solucionarem naturalmente o problema, aumenta a despesa. Mas estas políticas vão continuar até se tornarem insustentáveis. Pelo caminho o país empobrece a olhos vistos.
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