Durante a semana que agora se inicia o país vai ficar a saber o que vai ser feito com as restantes escutas do primeiro-ministro. Ficou-se entretanto a saber que, não obstante a gravidade do teor das escutas em que o primeiro-ministro foi apanhado, designadamente com a existência de indícios do crime de atentado ao Estado de Direito, as primeiras escutas foram consideradas nulas. Ora, esta situação é de uma gravidade sem precedentes.
O primeiro-ministro considera que não tem de dar quaisquer explicações ao país. Haverá muitos que subscrevem esta posição do primeiro-ministro, mas esquecem-se que se trata do primeiro-ministro e que o regime democrático não se coaduna com a opacidade e com a existência de suspeições, em particular em relação aos titulares de um dos cargos públicos mais importantes.
Não restaria outra opção ao primeiro-ministro, caso este fosse um país dito normal, do que esclarecer os portugueses sobre o teor das escutas, isto apesar da gravidade de se ter eliminado escutas simplesmente por se tratar do primeiro-ministro – porque é essencialmente disto que se trata. Infelizmente, o primeiro-ministro, como aliás tem sido prática comum, considera que não deve explicações ao país.
A verdade é que o país não pode continuar a ser governado por alguém que, no alto da sua arrogância, revela um desprezo inqualificável pelos cidadãos e que está permanentemente sob suspeição. O país não pode continuar a ter uma justiça que atribui a alguns dos cidadãos deste país características especiais.
Neste momento, o primeiro-ministro tem poucas razões para se manter no cargo. As escutas vão certamente ser consideradas nulas, mas a suspeição vai permanecer. Depois de umas legislativas que deram a vitória a este partido e a este primeiro-ministro, confirma-se a ideia segundo a qual o país precisa urgentemente de um divã e de terapia depois de ter dado um novo voto de confiança a alguém que não merece qualquer confiança.
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