O país anda meio atordoado com o recrudescimento dos efeitos da crise internacional por um lado, e as suspeições que recaem sobre a classe política aliadas aos falhanços sucessivos da Justiça.
Tenta-se por isso perceber o que correu mal e quais as causas que subjazem a estes males de que o país enferma. Outros perguntam-se como é que, apesar das políticas erradas e das dúvidas sobre a figura do primeiro-ministro envolvido em casos que continuam por esclarecer porque o primeiro-ministro é o primeiro a recusar esses esclarecimentos.
Vasco Pulido Valente no seu espaço no Público advoga que o primeiro-ministro não deve encetar essas tais explicações, abrindo desse modo um precedente grave. Não será, porém, pior continuar a alimentar as suspeições com as dúvidas e com a ausência de esclarecimentos? Não seria mais profícuo esclarecer de uma vez por todas o que se passou? Nesse mesmo texto é também alegado que um político nunca pode contar toda a verdade e há conversas que têm que ficar arredadas do olhar do público. Ora, todos nós temos conversas que não queremos ver escrutinadas por terceiros, mas quando se trata de conversas que deixam a dúvida, não seria melhor dissipar essas dúvidas contando a verdade? Ou a verdade é demasiado onerosa para o primeiro-ministro? Quando se opta por não esclarecer, o que resta é um manto de suspeições, um manto das piores suspeições.
De um modo geral, a responsabilidade pela a actual situação é indissociável do comportamento dos cidadãos ao longo dos últimos anos. A começar pela cultura de indiferença, passando pela aceitação do famigerado “chico-espertismo”, culminando com a existência de um país pouco exigente só podia resultar em falhanços sucessivos.
É esta análise que temos que fazer como cidadãos. Vamos continuar indiferentes, a exigir pouco ou nada de quem nos representa e a aceitar uma cultura de premiar o espertismo mais saloio ou a tentar contrariar o rumo que o país tem levado. Mas isso exige um esforço acrescido de todos nós, deixando por exemplo os exercícios de cidadania activa para os outros. Ou deixando de pensar que a política é um aborrecimento ou um incómodo. Não podemos é continuar a pensar que a responsabilidade é só dos outros.
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