Avançar para o conteúdo principal

A vergonha da France Telecom

O caso dos mais de vinte casos de suicídio entre trabalhadores da France Telecom não pode ficar encerrado com a demissão de um director de topo. É incrível como em pleno século XXI registam-se casos de pessoas que escolhem a morte devido a pressõesinsustentáveis das empresas que apenas falam em "reestruturações". A crise - responsabilidade de um sector financeiro que prefere a anarquia e de um poder político que preferiu fechar os olhos - só veio agravar o "terrorismo" psicológico que tem o nome de "reestruturação", ou noutros casos "lay off", "downsizing" e por aí fora.
O que se passou na France Telecom merece toda a visibilidade mediática possível porque se trata de uma vergonha para a empresa, para determinado tipo de empresários, para o Estado francês que detém 23 por cento da operadora e para a própria UE que permite que no seu seio grassem situações como a daFrance Telecom. O retrocesso da qualidade de vida dos europeus é uma realidade insofismável e a UE pouco ou nada tem feito para inverter esse retrocesso.
Há quem caracteríze estas novas situações como uma nova forma de escravatura - as pressões, as deslocalizações, as mudanças súbitas de cargo, o medo de perder o emprego aliado a uma situação de crise e subsequente aumento do nível do desemprego são configuram indubitavelmente situações limite a que muitos acabam por sucumbir, seja através de depressões ou em casos mais graves, acabando em suicídios.
Mais irracional é o comportamento do Estado francês que perante este caso não adoptou medidas mais céleres, reforçando mesmo, através da ministra da Economia, a sua confiança no CEO da empresa. Louis-Pierre Wenes, assim se chama o vice-presidente da France Telecom que se afastou do cargo, e toda a direcção devem manter-se debaixo de fogo para que o exemplo da France Telecom não se repita. Cabe também aos cidadãos exercerem pressões junto da classe política para que se tomem medidas de protecção aos trabalhadores, afinal de contas já não estamos em plena Revolução Industrial. É também aqui que os cidadãos europeus devem exercer formas de pressão junto das instâncias comunitárias - em esforços concertados, a começar pelos sindicatos dos vários países europeus, os que representam este sector e não só.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Mais uma indecência a somar-se a tantas outras

 O New York Times revelou (parte) o que Donald Trump havia escondido: o seu registo fiscal. E as revelações apenas surpreendem pelas quantias irrisórias de impostos que Trump pagou e os anos, longos anos, em que não pagou um dólar que fosse. Recorde-se que todos os presidentes americanos haviam revelado as suas declarações, apenas Trump tudo fizera para as manter sem segredo. Agora percebe-se porquê. Em 2016, ano da sua eleição, o ainda Presidente americano pagou 750 dólares em impostos, depois de declarar um manancial de prejuízos, estratégia adoptada nos tais dez anos, em quinze, em que nem sequer pagou impostos.  Ora, o homem que sempre se vangloriou do seu sucesso como empresário das duas, uma: ou não teve qualquer espécie de sucesso, apesar do estilo de vida luxuoso; ou simplesmente esta foi mais uma mentira indecente, ou um conjunto de mentiras indecentes. Seja como for, cai mais uma mancha na presidência de Donald Trump que, mesmo somando indecências atrás de indecências, vai fa

Outras verdades

 Ontem realizou-se o pior debate da história das presidenciais americanas. Trump, boçal, mentiroso, arrogante e malcriado, versus Biden que, apesar de ter garantido tudo fazer  para não cair na esparrela do seu adversário, acabou mesmo por cair, apelidando-o de mentiroso e palhaço.  Importa reconhecer a incomensurável dificuldade que qualquer ser humano sentiria se tivesse que debater com uma criança sem qualquer educação. Biden não foi excepção. Trump procurou impingir todo o género de mentiras, que aos ouvidos dos seus apoiante soam a outras verdades, verdades superiores à própria verdade. Trump mentiu profusamente, até sobre os seus pretensos apoios. O sheriff de Portland, por exemplo, já veio desmentir que alguma vez tivesse expressado apoio ao ainda Presidente americano. Diz-se por aí que Trump arrastou Biden para a lama. Eu tenho uma leitura diferente: Trump tem vindo a arrastar os EUA para lama. Os EUA, nestes árduos anos, tem vindo a perder influência e reputação e Trump é o ma

Normalização do fascismo

O PSD Açores, e naturalmente com a aprovação de Rui Rio, achou por bem coligar-se com o "Chega". Outros partidos como o Iniciativa Liberal (IL) e o CDS fizeram as mesmas escolhas, ainda que o primeiro corra atrás do prejuízo, sobretudo agora que a pandemia teve o condão de mostrar a importância do Estado Social que o IL tão avidamente pretende desmantelar, e o segundo se tenha transformado numa absoluta irrelevância. Porém, é Rui Rio, o mesmo que tem cultivado aquela imagem de moderado, que considera que o "Chega" nos Açores é diferente do "Chega" nacional. Rui Rio, o moderado, considera mesmo que algumas medidas do "Chega" como a estafada redução do Rendimento Social de Inserção é um excelente medida. Alheio às características singulares da região, Rui Rio pensa que com a ajuda do "Chega" vai tirar empregos da cartola para combater a subsidiodependência de que tanto fala, justificando deste modo a normalização que está a fazer de um pa