Avançar para o conteúdo principal

Sem futuro

O texto que se segue será considerado como um exemplo de pessimismo, mas o futuro que se avizinha, do ponto de vista político e de governação, não é seguramente promissor. Vem isto a propósito de uma notícia do jornal Público em que são traçados vários cenários para o futuro governo de José Sócrates. Fala-se num "governo hiperpolítico", formado de forma a coadunar-se com as várias forças políticas presentes no Parlamento e com uma perspectiva de curta duração. O Público on-line fala em dois anos.

Segundo o jornal em questão há ministros que deixarão o cargo que ocupam, designadamente Maria de Lurdes Rodrigues com a Pasta da Educação, Nuno Severiano Teixeira com a pasta da Defesa, Rui Pereira na Administração Interna e o irascível Augusto Santos Silva - o Sr. que gosta de "malhar" na oposição. Nestas circunstâncias, o próximo governo será constituído por novos rostos (alguns nem tanto assim) e serão escolhidos em função de futuros acordos necessários para governar quer com a direita, quer com a esquerda.

Considero que esta estratégia é a mais adequada, mas, e paradoxalmente, nas circunstâncias presentes será seguramente falível. O futuro governo de Sócrates terá duas batalhas: uma, hercúlea, no Parlamento e outra na Presidência da República depois dos recentes episódios que denotam uma acentuada degradação da relação entre Presidente da República e o primeiro-ministro. Deste modo, assumo a minha posição - porventura pessimista - de não ver futuro no Executivo de Sócrates e na governabilidade do país.

Seria mais profícuo para o país que a inevitável ingovernabilidade não se estendesse por demasiado tempo. Será prejudicial para o país que se aguente a agonia de um governo inábil e ineficaz.

De resto, o desgaste do Governo que se verifica na figura do primeiro-ministro e que não se resolve com mudanças nos ministérios, com isso apenas se ganha algum tempo, é um forte elemento a ter em conta aliado a uma oposição que sempre se mostrou frontalmente contra a política seguida pelo Governo e não escondia o desagrado perante os inúmeros episódios de arrogância do primeiro-ministro. A isto acresce o facto dos partidos à esquerda do PS, sem capacidade para governar e arautos de propostas irrealistas ou desastrosas e uma relação com o Presidente da República degradada, provavelmente irreversivelmente degradada, e será com estes dados que o próximo governo tem de contar. Neste contexto é um exercício de grande optimismo ver algum futuro no próximo Executivo de José Sócrates.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Mais uma indecência a somar-se a tantas outras

 O New York Times revelou (parte) o que Donald Trump havia escondido: o seu registo fiscal. E as revelações apenas surpreendem pelas quantias irrisórias de impostos que Trump pagou e os anos, longos anos, em que não pagou um dólar que fosse. Recorde-se que todos os presidentes americanos haviam revelado as suas declarações, apenas Trump tudo fizera para as manter sem segredo. Agora percebe-se porquê. Em 2016, ano da sua eleição, o ainda Presidente americano pagou 750 dólares em impostos, depois de declarar um manancial de prejuízos, estratégia adoptada nos tais dez anos, em quinze, em que nem sequer pagou impostos.  Ora, o homem que sempre se vangloriou do seu sucesso como empresário das duas, uma: ou não teve qualquer espécie de sucesso, apesar do estilo de vida luxuoso; ou simplesmente esta foi mais uma mentira indecente, ou um conjunto de mentiras indecentes. Seja como for, cai mais uma mancha na presidência de Donald Trump que, mesmo somando indecências atrás de indecências, vai fa

Normalização do fascismo

O PSD Açores, e naturalmente com a aprovação de Rui Rio, achou por bem coligar-se com o "Chega". Outros partidos como o Iniciativa Liberal (IL) e o CDS fizeram as mesmas escolhas, ainda que o primeiro corra atrás do prejuízo, sobretudo agora que a pandemia teve o condão de mostrar a importância do Estado Social que o IL tão avidamente pretende desmantelar, e o segundo se tenha transformado numa absoluta irrelevância. Porém, é Rui Rio, o mesmo que tem cultivado aquela imagem de moderado, que considera que o "Chega" nos Açores é diferente do "Chega" nacional. Rui Rio, o moderado, considera mesmo que algumas medidas do "Chega" como a estafada redução do Rendimento Social de Inserção é um excelente medida. Alheio às características singulares da região, Rui Rio pensa que com a ajuda do "Chega" vai tirar empregos da cartola para combater a subsidiodependência de que tanto fala, justificando deste modo a normalização que está a fazer de um pa

Outras verdades

 Ontem realizou-se o pior debate da história das presidenciais americanas. Trump, boçal, mentiroso, arrogante e malcriado, versus Biden que, apesar de ter garantido tudo fazer  para não cair na esparrela do seu adversário, acabou mesmo por cair, apelidando-o de mentiroso e palhaço.  Importa reconhecer a incomensurável dificuldade que qualquer ser humano sentiria se tivesse que debater com uma criança sem qualquer educação. Biden não foi excepção. Trump procurou impingir todo o género de mentiras, que aos ouvidos dos seus apoiante soam a outras verdades, verdades superiores à própria verdade. Trump mentiu profusamente, até sobre os seus pretensos apoios. O sheriff de Portland, por exemplo, já veio desmentir que alguma vez tivesse expressado apoio ao ainda Presidente americano. Diz-se por aí que Trump arrastou Biden para a lama. Eu tenho uma leitura diferente: Trump tem vindo a arrastar os EUA para lama. Os EUA, nestes árduos anos, tem vindo a perder influência e reputação e Trump é o ma