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Eleições autárquicas

A Câmara Municipal de Lisboa tem claro destaque nas eleições autárquicas que se avizinham e o confronto entre António Costa e Santana Lopes vai agradando à comunicação social. Mas as eleições autárquicas são muito mais do que Lisboa ou Porto, as eleições que se aproximam são o derradeiro teste ao entendimento que os eleitores têm da própria democracia. A perpetuação dos mandatos e as suspeições ou acusações que recaem sobre alguns autarcas que se candidatam são sinais de clara degradação da própria democracia.

É paradoxal assistir ao chorrilho de queixas de muitos cidadãos relativamente ao estado em que se encontra o país e à responsabilidade directa dos políticos e simultaneamente, perceber que muitos legitimam, através do voto, a opacidade, o chico-espertismo, o caciquismo, a corrupção e a consequente degradação da própria qualidade democrática. Estas eleições serão invariavelmente sintomáticas quer da falta de cultura e maturidade democráticas, quer das inúmeras incongruências de tantos cidadãos.

Neste contexto, surgem como inevitáveis as vitórias em Felgueiras e Oeiras, apesar de num caso e noutro as fugas e condenações terem sido uma realidade. Por outro lado, a perpetuação de mandatos que a lei vai inviabilizar ainda vai ter lugar, pelo menos durante mais quatro anos, nestas eleições. Por conseguinte, mais importante do que as tricas entre Santana Lopes e António Costa, ou entre Elisa Ferreira e Rui Rio, é a manutenção de quem se encontra a contas com a justiça, sendo que as alegadas irregularidades são, amiúde, cometidas durante o desempenho do cargo.

A amálgama de poder político local, construção civil e, em muitos casos, futebol é outro sinal que vem na linha da imaturidade democrática de que padecemos. Nada disto vai mudar no próximo domingo. Impera assim a valha máxima: "o povo tem o que merece". De um modo geral, o que interessa é haver obra feita - como foi feita? Essa é uma questão secundária, como tantas outras.

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