Avançar para o conteúdo principal

Afastamento de Fernando Lima a dias das eleições

Este é o facto mais estranho de todo este caso. Não se compreende o silêncio do Presidente da República que já em Agosto devia ter falado; é difícil compreender como é que o Presidente tão cioso da proximidade de eleições, afasta o principal envolvido no caso a escassos dias do acto eleitoral. Cavaco Silva sai muito mal deste caso, desde logo porque deveria ter esclarecido os portugueses em Agosto. Em bom rigor, o Chefe de Estado não pode ficar em silêncio quando saem notícias que indicam que os seus colaboradores prestam informações a um jornal porque existem suspeitas que a presidência está a ser vigiada.

Outro facto a salientar prende-se com a celeuma que este Presidente levantou no que diz respeito ao famigerado Estatuto dos Açores - atitude que poucos cidadãos entenderam - e o menosprezo que revelou ter por supostas vigilâncias da sua presidência. Esta incongruência deixa uma má imagem do próprio Presidente da República. De um modo geral, não resta muito a fazer: Cavaco Silva tem que explicar ao país o que se está a passar e o porquê da demissão de Fernando Lima.

É difícil prever que impacto é que este caso poderá ter nas próprias eleições - o que levanta a questão do porquê da demissão de Fernando Lima a dias das legislativas -, certamente que os efeitos negativos na campanha do PSD serão notórios, pese embora eu não considere este caso determinante para o resultado do próximo domingo. Arrisco mesmo a tese segundo a qual os efeitos serão mais negativos para o Presidente da República do que propriamente para o PSD. Mas é também para afastar conjecturas que são prejudiciais ao PSD e beneficiam naturalmente outros partidos que o Presidente deveria falar ao país o quanto antes. Até lá, ficam as dúvidas, as conjecturas, as hipóteses e nunca as certezas. É essencialmente por essa razão que Cavaco Silva continua a cometer um erro crasso ao optar pelo silêncio.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Normalização do fascismo

O PSD Açores, e naturalmente com a aprovação de Rui Rio, achou por bem coligar-se com o "Chega". Outros partidos como o Iniciativa Liberal (IL) e o CDS fizeram as mesmas escolhas, ainda que o primeiro corra atrás do prejuízo, sobretudo agora que a pandemia teve o condão de mostrar a importância do Estado Social que o IL tão avidamente pretende desmantelar, e o segundo se tenha transformado numa absoluta irrelevância. Porém, é Rui Rio, o mesmo que tem cultivado aquela imagem de moderado, que considera que o "Chega" nos Açores é diferente do "Chega" nacional. Rui Rio, o moderado, considera mesmo que algumas medidas do "Chega" como a estafada redução do Rendimento Social de Inserção é um excelente medida. Alheio às características singulares da região, Rui Rio pensa que com a ajuda do "Chega" vai tirar empregos da cartola para combater a subsidiodependência de que tanto fala, justificando deste modo a normalização que está a fazer de um pa...

Fim do sigilo bancário

Tudo indica que o sigilo bancário vai ter um fim. O Partido Socialista e o Bloco de Esquerda chegaram a um entendimento sobre a matéria em causa - o Bloco de Esquerda faz a proposta e o PS dá a sua aprovação para o levantamento do sigilo bancário. A iniciativa é louvável e coaduna-se com aquilo que o Bloco de Esquerda tem vindo a propor com o objectivo de se agilizar os mecanismos para um combate eficaz ao crime económico e ao crime de evasão fiscal. Este entendimento entre o Bloco de Esquerda e o Partido Socialista também serve na perfeição os intentos do partido do Governo. Assim, o PS mostra a sua determinação no combate à corrupção e ao crime económico e, por outro lado, aproxima-se novamente do Bloco de Esquerda. Com efeito, a medida, apesar de ser tardia, é amplamente aplaudida e é vista como um passo certo no combate à corrupção, em particular quando a actualidade é fortemente marcada por suspeições e por casos de corrupção. De igual forma, as perspectivas do PS conseguir uma ma...

Mais uma indecência a somar-se a tantas outras

 O New York Times revelou (parte) o que Donald Trump havia escondido: o seu registo fiscal. E as revelações apenas surpreendem pelas quantias irrisórias de impostos que Trump pagou e os anos, longos anos, em que não pagou um dólar que fosse. Recorde-se que todos os presidentes americanos haviam revelado as suas declarações, apenas Trump tudo fizera para as manter sem segredo. Agora percebe-se porquê. Em 2016, ano da sua eleição, o ainda Presidente americano pagou 750 dólares em impostos, depois de declarar um manancial de prejuízos, estratégia adoptada nos tais dez anos, em quinze, em que nem sequer pagou impostos.  Ora, o homem que sempre se vangloriou do seu sucesso como empresário das duas, uma: ou não teve qualquer espécie de sucesso, apesar do estilo de vida luxuoso; ou simplesmente esta foi mais uma mentira indecente, ou um conjunto de mentiras indecentes. Seja como for, cai mais uma mancha na presidência de Donald Trump que, mesmo somando indecências atrás de indecência...