Avançar para o conteúdo principal

Ainda a violência em Xinjiang

Segundo alguns órgãos de comunicação social a violência e a morte continuam na província de Xinjiang no início desta semana, a polícia chinesa disparou fatalmente contra dois uigures, ferindo um terceiro. A estratégia do regime chinês passa pelo uso da repressão no sentido de cortar com os focos de instabilidade que se tem vivido em Xinjiang. O silêncio da comunidade internacional é mais um elemento que joga a favor do regime chinês, tal como o silêncio das principais lideranças internacionais no que diz respeito ao Tibete e aos direitos humanos em geral tem servido os intentos do regime.
Paralelamente, o regime chinês não poupa esforços no sentido de associar a revolta uigur a grupos terroristas como a Al-qaeda, embora não existam provas dessa ligação. Na realidade, as autoridades chinesas nem precisavam de estabelecer paralelismos e ligações entre os uigures e a Al-qaeda. A comunidade internacional está completamente rendida aos encantos do colosso chinês. Um país que cresce economicamente, que gera a as influências que bem entende não só na sua região geográfica, mas também em continentes como o africano; um país que tem sob a sua esfera de influência a Coreia do Norte, sendo aliás, o único a ter uma verdadeira influência sobre o mesmo é um país que, sem grandes exageros, tem o mundo na mão.
Nestas circunstâncias, é virtualmente impossível que regiões como Xinjiang, através do povo uigur, possa, de facto, mudar alguma coisa. O regime chinês vai continuar a seguir a estratégia que tem seguido, não só em Xinjiang como no Tibete: criar condições para que étnia han se instale na região, através dos melhores empregos, bem remunerados, a isto acrescente-se a venda de ilusões que a religião e a cultura do povo uigur será respeitada, num quadro de autonomia e, finalmente, cada vez que surgir um foco de instabilidade ou revolta é reprimi-lo imediata e eficazmente.
Em suma, a violência mais ou menos esporádica vai continuar. O povo uigur não conta com a solidariedade do resto do mundo e nesse quadro de grande isolamento as esperanças do povo uigur manter alguma autonomia de facto são apenas isso, esperanças. Ao regime chinês convém um rápido regresso à estabilidade por duas ordens de razão: primeiro porque a região de Xinjiang tem uma importância estratégica decisiva para a economia chinesa e em segundo lugar porque estes actos de insurreição não são bem vistos num país que é, em muitos aspectos, uma manta de retalhos étnica. A equação torna-se ainda mais intrincada quando grupos ligados à Al-qaeda não se coíbem de mostrar o seu apoio ao povo uigur, ao mesmo tempo que clamam por vingança.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Mais uma indecência a somar-se a tantas outras

 O New York Times revelou (parte) o que Donald Trump havia escondido: o seu registo fiscal. E as revelações apenas surpreendem pelas quantias irrisórias de impostos que Trump pagou e os anos, longos anos, em que não pagou um dólar que fosse. Recorde-se que todos os presidentes americanos haviam revelado as suas declarações, apenas Trump tudo fizera para as manter sem segredo. Agora percebe-se porquê. Em 2016, ano da sua eleição, o ainda Presidente americano pagou 750 dólares em impostos, depois de declarar um manancial de prejuízos, estratégia adoptada nos tais dez anos, em quinze, em que nem sequer pagou impostos.  Ora, o homem que sempre se vangloriou do seu sucesso como empresário das duas, uma: ou não teve qualquer espécie de sucesso, apesar do estilo de vida luxuoso; ou simplesmente esta foi mais uma mentira indecente, ou um conjunto de mentiras indecentes. Seja como for, cai mais uma mancha na presidência de Donald Trump que, mesmo somando indecências atrás de indecências, vai fa

Normalização do fascismo

O PSD Açores, e naturalmente com a aprovação de Rui Rio, achou por bem coligar-se com o "Chega". Outros partidos como o Iniciativa Liberal (IL) e o CDS fizeram as mesmas escolhas, ainda que o primeiro corra atrás do prejuízo, sobretudo agora que a pandemia teve o condão de mostrar a importância do Estado Social que o IL tão avidamente pretende desmantelar, e o segundo se tenha transformado numa absoluta irrelevância. Porém, é Rui Rio, o mesmo que tem cultivado aquela imagem de moderado, que considera que o "Chega" nos Açores é diferente do "Chega" nacional. Rui Rio, o moderado, considera mesmo que algumas medidas do "Chega" como a estafada redução do Rendimento Social de Inserção é um excelente medida. Alheio às características singulares da região, Rui Rio pensa que com a ajuda do "Chega" vai tirar empregos da cartola para combater a subsidiodependência de que tanto fala, justificando deste modo a normalização que está a fazer de um pa

Outras verdades

 Ontem realizou-se o pior debate da história das presidenciais americanas. Trump, boçal, mentiroso, arrogante e malcriado, versus Biden que, apesar de ter garantido tudo fazer  para não cair na esparrela do seu adversário, acabou mesmo por cair, apelidando-o de mentiroso e palhaço.  Importa reconhecer a incomensurável dificuldade que qualquer ser humano sentiria se tivesse que debater com uma criança sem qualquer educação. Biden não foi excepção. Trump procurou impingir todo o género de mentiras, que aos ouvidos dos seus apoiante soam a outras verdades, verdades superiores à própria verdade. Trump mentiu profusamente, até sobre os seus pretensos apoios. O sheriff de Portland, por exemplo, já veio desmentir que alguma vez tivesse expressado apoio ao ainda Presidente americano. Diz-se por aí que Trump arrastou Biden para a lama. Eu tenho uma leitura diferente: Trump tem vindo a arrastar os EUA para lama. Os EUA, nestes árduos anos, tem vindo a perder influência e reputação e Trump é o ma