Avançar para o conteúdo principal

Síntese da campanha eleitoral para as eleições europeias

As últimas sondagens convergem na vitória - residual - do Partido Socialista, em sentido diametralmente oposto ao que tudo indica vai acontecer no resto da Europa. E será muito provavelmente esse o culminar de umas eleições cuja campanha eleitoral foi pobre e caracterizada pelas trocas de acusações entre os principais partidos da oposição. Pelo caminho ficaram as questões europeias.

O processo de construção europeu nem sequer foi tema central das respectivas campanhas de PS e PSD. Paulo Rangel, cabeça de lista do PSD, ainda trouxe para a discussão, de forma superficial é certo, a questão do federalismo e Vital Moreira falou e arrependeu-se de ter falado num imposto europeu. Esta é a síntese do mais relevante da campanha eleitoral de PS e PSD.

Pouco ou nada se falou do Tratado de Lisboa que visa reformar o funcionamento da UE, embora o Bloco de Esquerda tenha feito várias referências ao Tratado. Nunca se referiu o financiamento e questões orçamentais de uma União com 27 Estados-membros; de pouco ou nada se falou das políticas económicas e monetárias da UE, designadamente das vantagens e desvantagens do Pacto de Estabilidade e Crescimento em particular em momentos de abrandamento económico ou até de recessão; aparentemente a questão da integração e a possível entrada da Turquia para a UE também não fizeram parte das agendas dos vários partidos políticos.

Poder-se-á alegar que no resto da Europa a situação é muito semelhante, ou dito de outra forma, as campanhas incidiram mais sobre políticas nacionais do que sobre a Europa, isto quando a UE não serve mesmo de justificação para os próprios falhanços internos. Mas há uma diferença: em Portugal, a classe política sempre fugiu do tema Europa e a isto acrescente-se um povo desinteressado e apático o que reforça a pouca importância dada pelos responsáveis políticos às questões europeias. Aliás, a classe política, embora haja algumas honrosas excepções, perpetua ideias pré-concebidas sobre a Europa, como é o caso de se olhar para a UE como fonte de dinheiro e pouco mais, isto quando não passa verdadeiros atestados de menoridade a um povo que terá muita dificuldade em compreender o Tratado de Lisboa, por exemplo, segundo palavras de vários responsáveis políticos.

Apesar de tudo, o desinteresse dos portugueses sobre a Europa tem sido a regra e acaba por ser um desinteresse de quem também não procura saber mais, de quem se conforma com duas linhas sobre o assunto, de quem considera o assunto enfadonho e longínquo. Estas eleições foram mais uma oportunidade desperdiçada para se falar de Europa. E pese embora a instituição que a nível europeu tome as decisões de maior relevância seja o Conselho Europeu, o órgão de soberania do povo europeu é o Parlamento Europeu que terá, com ou sem Tratado de Lisboa, de ver os seus poderes reforçados.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Mais uma indecência a somar-se a tantas outras

 O New York Times revelou (parte) o que Donald Trump havia escondido: o seu registo fiscal. E as revelações apenas surpreendem pelas quantias irrisórias de impostos que Trump pagou e os anos, longos anos, em que não pagou um dólar que fosse. Recorde-se que todos os presidentes americanos haviam revelado as suas declarações, apenas Trump tudo fizera para as manter sem segredo. Agora percebe-se porquê. Em 2016, ano da sua eleição, o ainda Presidente americano pagou 750 dólares em impostos, depois de declarar um manancial de prejuízos, estratégia adoptada nos tais dez anos, em quinze, em que nem sequer pagou impostos.  Ora, o homem que sempre se vangloriou do seu sucesso como empresário das duas, uma: ou não teve qualquer espécie de sucesso, apesar do estilo de vida luxuoso; ou simplesmente esta foi mais uma mentira indecente, ou um conjunto de mentiras indecentes. Seja como for, cai mais uma mancha na presidência de Donald Trump que, mesmo somando indecências atrás de indecências, vai fa

Outras verdades

 Ontem realizou-se o pior debate da história das presidenciais americanas. Trump, boçal, mentiroso, arrogante e malcriado, versus Biden que, apesar de ter garantido tudo fazer  para não cair na esparrela do seu adversário, acabou mesmo por cair, apelidando-o de mentiroso e palhaço.  Importa reconhecer a incomensurável dificuldade que qualquer ser humano sentiria se tivesse que debater com uma criança sem qualquer educação. Biden não foi excepção. Trump procurou impingir todo o género de mentiras, que aos ouvidos dos seus apoiante soam a outras verdades, verdades superiores à própria verdade. Trump mentiu profusamente, até sobre os seus pretensos apoios. O sheriff de Portland, por exemplo, já veio desmentir que alguma vez tivesse expressado apoio ao ainda Presidente americano. Diz-se por aí que Trump arrastou Biden para a lama. Eu tenho uma leitura diferente: Trump tem vindo a arrastar os EUA para lama. Os EUA, nestes árduos anos, tem vindo a perder influência e reputação e Trump é o ma

Normalização do fascismo

O PSD Açores, e naturalmente com a aprovação de Rui Rio, achou por bem coligar-se com o "Chega". Outros partidos como o Iniciativa Liberal (IL) e o CDS fizeram as mesmas escolhas, ainda que o primeiro corra atrás do prejuízo, sobretudo agora que a pandemia teve o condão de mostrar a importância do Estado Social que o IL tão avidamente pretende desmantelar, e o segundo se tenha transformado numa absoluta irrelevância. Porém, é Rui Rio, o mesmo que tem cultivado aquela imagem de moderado, que considera que o "Chega" nos Açores é diferente do "Chega" nacional. Rui Rio, o moderado, considera mesmo que algumas medidas do "Chega" como a estafada redução do Rendimento Social de Inserção é um excelente medida. Alheio às características singulares da região, Rui Rio pensa que com a ajuda do "Chega" vai tirar empregos da cartola para combater a subsidiodependência de que tanto fala, justificando deste modo a normalização que está a fazer de um pa