Avançar para o conteúdo principal

A importância das eleições iranianas

As eleições iranianas para a escolha do Presidente que começam hoje são de uma importância indiscutível para o futuro do Irão e para as relações do Ocidente com a República Islâmica. O ainda Presidente Ahmadinejad pode bem não ser reeleito e o seu adversário em melhores condições de vencer as eleições é um moderado, Mir-Hossein Moussavi cuja eleição agradaria ao Ocidente. Estas eleições estão, pois, a ser acompanhadas com interesse pelo Ocidente.

Em bom rigor, se Ahmadinejad vencer as eleições, mantém-se o rumo de política externa caracterizada pela constante confrontação entre o Presidente iraniano e o Estados Unidos e Israel. Recorde-se que Ahmadinejad pautou o seu mandato pela polémica e pela provocação, elegendo como grande prioridade da sua política o desenvolvimento de tecnologia nuclear, contra a vontade de Israel, dos Estados Unidos e da União Europeia, e a consolidação da hegemonia da teocracia islâmica na região, aproveitando o desaparecimento hegemónico do Iraque e o enfraquecimento dos Estados Unidos na era Bush. Por outro lado, se Moussavi conseguir ser eleito vence uma corrente mais moderada do regime e, embora não seja expectável que as mudanças sejam profundas ou caiam em catadupa, as relações do Irão com o exterior, em particular com Israel e com os Estados Unidos sofrerão seguramente uma melhoria significativa.

Moussavi é apoiado pela elites urbanas e pelos jovens que constituem uma larga maioria da população e não obstante as eleições iranianas não serem isentas de fraudes - há suspeitas de fraude em actos eleitorais do passado -, existe, segundo muitos analistas, uma real hipótese de Moussavi conseguir a eleição.

É evidente que o homem forte do regime não é o Presidente iraniano, seja ele Ahmadinejad, Moussavi ou qualquer outro, mas sim o Ayatollah Khameini que se encontra, aparentemente mais próximo do actual Presidente Ahmanidejad. De qualquer modo, a dificuldades que os iranianos sentem no dia-a-dia, em particular os mais jovens que se debatem com elevadas taxas de desemprego, um crescimento económico anódino e um regime que parece mais preocupado com demonstrações de força ao exterior e com exultações nacionalistas do que com a melhoria de vida dos iranianos - neste aspecto particular, Moussavi poderá fazer mais pelos iranianos do que Ahmadinejad que, para além de tudo, está a condenar o Irão ao isolamento e ao consequente atraso económico.

Genericamente, as eleições iranianas têm uma particular importância para o Ocidente porque poderão ditar o rumo da relação entre o República Islâmica e os Estados Unidos, UE e Israel. Paralelamente, a postura adoptada pelo Presidente americano Barack Obama coaduna-se na moderação de Moussavi e poderá ter outros resultados bem mais vantajosos para o próprio Irão, em particular agora que Israel é governado por uma coligação menos moderada encabeçada por Benjamin Netanyahu.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Saídas para os impasses

As últimas semanas têm sido pródigas na divulgação de escândalos envolvendo o primeiro-ministro e as suas obrigações com a Segurança Social e com o Fisco. Percebe-se que os princípios éticos associados ao desempenho de funções políticas são absolutamente ignorados por quem está à frente dos destinos do país - não esquecer que o primeiro-ministro já havia sido deputado antes de se esquecer de pagar as contribuições à Segurança Social. A demissão está fora de questão até porque o afastamento do cargo implica, por parte do próprio, um conjunto de princípios que pessoas como Passos Coelho simplesmente não possuem. A oposição, a poucos meses de eleições, parece preferir que o primeiro-ministro coza em lume brando. E com tanta trapalhada insistimos em não discutir possíveis caminhos e saídas para os impasses com que o país se depara. Governo e oposição (sobretudo o Partido Socialista) agem como se não tivessem de possuir um único pensamento político. Assim, continuamos sem saber o que...

Fim do sigilo bancário

Tudo indica que o sigilo bancário vai ter um fim. O Partido Socialista e o Bloco de Esquerda chegaram a um entendimento sobre a matéria em causa - o Bloco de Esquerda faz a proposta e o PS dá a sua aprovação para o levantamento do sigilo bancário. A iniciativa é louvável e coaduna-se com aquilo que o Bloco de Esquerda tem vindo a propor com o objectivo de se agilizar os mecanismos para um combate eficaz ao crime económico e ao crime de evasão fiscal. Este entendimento entre o Bloco de Esquerda e o Partido Socialista também serve na perfeição os intentos do partido do Governo. Assim, o PS mostra a sua determinação no combate à corrupção e ao crime económico e, por outro lado, aproxima-se novamente do Bloco de Esquerda. Com efeito, a medida, apesar de ser tardia, é amplamente aplaudida e é vista como um passo certo no combate à corrupção, em particular quando a actualidade é fortemente marcada por suspeições e por casos de corrupção. De igual forma, as perspectivas do PS conseguir uma ma...

Outras verdades

 Ontem realizou-se o pior debate da história das presidenciais americanas. Trump, boçal, mentiroso, arrogante e malcriado, versus Biden que, apesar de ter garantido tudo fazer  para não cair na esparrela do seu adversário, acabou mesmo por cair, apelidando-o de mentiroso e palhaço.  Importa reconhecer a incomensurável dificuldade que qualquer ser humano sentiria se tivesse que debater com uma criança sem qualquer educação. Biden não foi excepção. Trump procurou impingir todo o género de mentiras, que aos ouvidos dos seus apoiante soam a outras verdades, verdades superiores à própria verdade. Trump mentiu profusamente, até sobre os seus pretensos apoios. O sheriff de Portland, por exemplo, já veio desmentir que alguma vez tivesse expressado apoio ao ainda Presidente americano. Diz-se por aí que Trump arrastou Biden para a lama. Eu tenho uma leitura diferente: Trump tem vindo a arrastar os EUA para lama. Os EUA, nestes árduos anos, tem vindo a perder influência e reputação ...