Avançar para o conteúdo principal

O jogo do vale tudo

O cabeça de lista do PS às eleições europeias, Vital Moreira, recorreu a um discurso despropositado, acusando o PSD de estar envolvido no escândalo do BPN e referindo-se ao caso de um modo impróprio e a raiar a boçalidade, utilizando termos como "roubalheira". O discurso próprio de café é sintomático de algum desnorte da candidatura do PS ao Parlamento Europeu que assiste quer à aproximação do PSD, quer à perda de votos para os partidos à esquerda do PS. Por outro lado, a campanha tem-se pautado por alguma descoordenação entre o cabeça de lista às eleições europeias e o secretário-geral do partido. Por fim, o PS e Vital Moreira sabem que estas eleições, marcadas para dia 7 deste mês, são essencialmente um teste à governação do Executivo liderado por José Sócrates.

De um modo geral, o PS e, em larga medida, os restantes partidos que concorrem ao Parlamento Europeu gastam o seu tempo com ataques e crispações políticas que pouco ou nada têm a ver com questões europeias. Vital Moreira terá ido longe de mais ao associar o PSD à "roubalheira" do BPN, em primeiro lugar porque associa, genericamente, um partido a situações ilícitas cujas deliberações devem pertencer aos tribunais; em segundo lugar, a generalidade das pessoas no PSD merece mais respeito e consideração por parte do constitucionalista; em terceiro lugar, quem nos garante que não há gente ligada ao PS também envolvida no escândalo; em quarto lugar, Vital Moreira devia ponderar a actuação do Banco de Portugal em todo este processo, Banco de Portugal liderado pelo putativo socialista Vítor Constâncio; e finalmente, impõem-se as seguintes perguntas: qual o contributo de um discurso persecutório para o esclarecimento dos cidadãos em matéria de União Europeia? E será que o Governo não se terá precipitado ao mostrar tanta disponibilidade para ajudar o BPN? Nunca faltou ao Governo falta de vontade de ajudar o banco em questão.

O caso BPN e o caso do Banco Privado Português têm contornos de grave amoralidade e tiveram e continuam a ter efeitos nefastos para clientes e para o Estado português. Quanto a isso, creio que são muitos os consensos. Mas em plena campanha eleitoral para o Parlamento europeu associar o principal partido da oposição de estar envolvido na "roubalheira" não só é de mau gosto como demonstra que há quem não olhe para sua própria casa. O candidato Vital Moreira tem todo o direito de criticar a situação do BPN, mas ao fazê-lo que não se esqueça de referir a actuação do Banco de Portugal e do Governo em todo este caso e que se deixe de populismos baratos que não lhe ficam nada bem.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Mais uma indecência a somar-se a tantas outras

 O New York Times revelou (parte) o que Donald Trump havia escondido: o seu registo fiscal. E as revelações apenas surpreendem pelas quantias irrisórias de impostos que Trump pagou e os anos, longos anos, em que não pagou um dólar que fosse. Recorde-se que todos os presidentes americanos haviam revelado as suas declarações, apenas Trump tudo fizera para as manter sem segredo. Agora percebe-se porquê. Em 2016, ano da sua eleição, o ainda Presidente americano pagou 750 dólares em impostos, depois de declarar um manancial de prejuízos, estratégia adoptada nos tais dez anos, em quinze, em que nem sequer pagou impostos.  Ora, o homem que sempre se vangloriou do seu sucesso como empresário das duas, uma: ou não teve qualquer espécie de sucesso, apesar do estilo de vida luxuoso; ou simplesmente esta foi mais uma mentira indecente, ou um conjunto de mentiras indecentes. Seja como for, cai mais uma mancha na presidência de Donald Trump que, mesmo somando indecências atrás de indecências, vai fa

Outras verdades

 Ontem realizou-se o pior debate da história das presidenciais americanas. Trump, boçal, mentiroso, arrogante e malcriado, versus Biden que, apesar de ter garantido tudo fazer  para não cair na esparrela do seu adversário, acabou mesmo por cair, apelidando-o de mentiroso e palhaço.  Importa reconhecer a incomensurável dificuldade que qualquer ser humano sentiria se tivesse que debater com uma criança sem qualquer educação. Biden não foi excepção. Trump procurou impingir todo o género de mentiras, que aos ouvidos dos seus apoiante soam a outras verdades, verdades superiores à própria verdade. Trump mentiu profusamente, até sobre os seus pretensos apoios. O sheriff de Portland, por exemplo, já veio desmentir que alguma vez tivesse expressado apoio ao ainda Presidente americano. Diz-se por aí que Trump arrastou Biden para a lama. Eu tenho uma leitura diferente: Trump tem vindo a arrastar os EUA para lama. Os EUA, nestes árduos anos, tem vindo a perder influência e reputação e Trump é o ma

Normalização do fascismo

O PSD Açores, e naturalmente com a aprovação de Rui Rio, achou por bem coligar-se com o "Chega". Outros partidos como o Iniciativa Liberal (IL) e o CDS fizeram as mesmas escolhas, ainda que o primeiro corra atrás do prejuízo, sobretudo agora que a pandemia teve o condão de mostrar a importância do Estado Social que o IL tão avidamente pretende desmantelar, e o segundo se tenha transformado numa absoluta irrelevância. Porém, é Rui Rio, o mesmo que tem cultivado aquela imagem de moderado, que considera que o "Chega" nos Açores é diferente do "Chega" nacional. Rui Rio, o moderado, considera mesmo que algumas medidas do "Chega" como a estafada redução do Rendimento Social de Inserção é um excelente medida. Alheio às características singulares da região, Rui Rio pensa que com a ajuda do "Chega" vai tirar empregos da cartola para combater a subsidiodependência de que tanto fala, justificando deste modo a normalização que está a fazer de um pa