Avançar para o conteúdo principal

Instabilidade no Afeganistão e Paquistão

A instabilidade que tem vindo a recrudescer no Afeganistão e no Paquistão, consequência do regresso em força dos talibãs, é um dos problemas mais graves que o mundo tem de enfrentar. Sempre se tratou a intervenção militar americana no Afeganistão, coadjuvada por outros países, como sendo similar àquela que tem lugar no Iraque. Ora, a comparação é desprovida de sentido quando se sabe que o Afeganistão, durante o período de liderança talibã, foi o principal palco do terrorismo, em particular ao nível do treino e da doutrinação. Não se pode fechar os olhos a esta perigosa realidade. Note-se que o problema do Afeganistão é, de um modo geral, indissociável, do Paquistão.

A ameaça talibã tem vindo a crescer e a traduzir-se na procura de um regresso ao poder no Afeganistão, mas também no Paquistão onde as forças militares têm combatido esta ameaça. Há um facto que não pode ser ignorado e que se prende com a força que o islamismo radical tem nesta região, em larga medida graças à tibieza dos governos paquistanês e afegão e à rejeição daquilo que é considerado uma ingerência abusiva dos Estados Unidos na região. Não é suficiente que os governos cedam em matérias sensíveis com a implementação da Sharia, os talibãs procuram um regresso ao poder no Afeganistão e a extensão da sua influência ao Paquistão.

Paralelamente importa referir que o Paquistão é detentor de armas nucleares o que torna todo o problema da instabilidade potencialmente explosivo. O Paquistão tem vivido ao longo de largas décadas em constante crispação com a Índia, mas os problemas políticos internos que misturam a preponderância dos militares com a ameaça do islamismo radical num caldo de crescente instabilidade governativa constitui uma conjuntura para a qual a comunidade internacional tem de prestar particular atenção.

O Presidente Obama tem, desde a sua campanha eleitoral para as presidenciais americanas, dado especial importância a esta região do globo, fazendo do Afeganistão uma das grandes prioridades da política externa americana. Infelizmente, essa sua preocupação nem sempre conta com a compreensão e colaboração de outros países e conta ainda menos com a opinião pública desses mesmos países. Esta incompreensão é grave na medida em que proporciona as condições ideais para que o radicalismo que subjaz ao terrorismo se instale definitivamente na região. Infelizmente, só quando estes problemas nos batem à porta é que passamos a ter a percepção da dimensão do assunto. Pelo caminho, muitos vão perdendo tempo com críticas cerradas à política externa americana, aos erros consequência dessa política e são exímios na tarefa de atacar os Estados Unidos e ignorar o que se passa no Afeganistão e no Paquistão.
procuram um regresso ao poder no Afeganistão e a extensão da sua influência ao Paquistão.


Quantas vezes ouvimos falar de direitos humanos no Afeganistão? Estas questões como outras são ignoradas por quem não se coíbe de fazer dos Estados Unidos o grande malfeitor do mundo. De resto, o Presidente americano, apesar da sua enorme capacidade em reunir consensos, tem sentido manifestas dificuldades em conseguir apoios para restaurar a estabilidade da região. Embora seja comummente aceite que o problema do Afeganistão não se resolve exclusivamente através da via militar e que é preciso mais, designadamente medidas que tornem a vida dos afegãos mais digna, a verdade é que a ajuda internacional é escassa e a incompreensão generalizada. Entretanto, o radicalismo vai-se instalando na região e talvez se o problema chegar à Europa quer as suas lideranças quer a opinião pública em geral ganhem nova consciência para este problema. Resta saber se já não será tarde.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Mais uma indecência a somar-se a tantas outras

 O New York Times revelou (parte) o que Donald Trump havia escondido: o seu registo fiscal. E as revelações apenas surpreendem pelas quantias irrisórias de impostos que Trump pagou e os anos, longos anos, em que não pagou um dólar que fosse. Recorde-se que todos os presidentes americanos haviam revelado as suas declarações, apenas Trump tudo fizera para as manter sem segredo. Agora percebe-se porquê. Em 2016, ano da sua eleição, o ainda Presidente americano pagou 750 dólares em impostos, depois de declarar um manancial de prejuízos, estratégia adoptada nos tais dez anos, em quinze, em que nem sequer pagou impostos.  Ora, o homem que sempre se vangloriou do seu sucesso como empresário das duas, uma: ou não teve qualquer espécie de sucesso, apesar do estilo de vida luxuoso; ou simplesmente esta foi mais uma mentira indecente, ou um conjunto de mentiras indecentes. Seja como for, cai mais uma mancha na presidência de Donald Trump que, mesmo somando indecências atrás de indecências, vai fa

Outras verdades

 Ontem realizou-se o pior debate da história das presidenciais americanas. Trump, boçal, mentiroso, arrogante e malcriado, versus Biden que, apesar de ter garantido tudo fazer  para não cair na esparrela do seu adversário, acabou mesmo por cair, apelidando-o de mentiroso e palhaço.  Importa reconhecer a incomensurável dificuldade que qualquer ser humano sentiria se tivesse que debater com uma criança sem qualquer educação. Biden não foi excepção. Trump procurou impingir todo o género de mentiras, que aos ouvidos dos seus apoiante soam a outras verdades, verdades superiores à própria verdade. Trump mentiu profusamente, até sobre os seus pretensos apoios. O sheriff de Portland, por exemplo, já veio desmentir que alguma vez tivesse expressado apoio ao ainda Presidente americano. Diz-se por aí que Trump arrastou Biden para a lama. Eu tenho uma leitura diferente: Trump tem vindo a arrastar os EUA para lama. Os EUA, nestes árduos anos, tem vindo a perder influência e reputação e Trump é o ma

Normalização do fascismo

O PSD Açores, e naturalmente com a aprovação de Rui Rio, achou por bem coligar-se com o "Chega". Outros partidos como o Iniciativa Liberal (IL) e o CDS fizeram as mesmas escolhas, ainda que o primeiro corra atrás do prejuízo, sobretudo agora que a pandemia teve o condão de mostrar a importância do Estado Social que o IL tão avidamente pretende desmantelar, e o segundo se tenha transformado numa absoluta irrelevância. Porém, é Rui Rio, o mesmo que tem cultivado aquela imagem de moderado, que considera que o "Chega" nos Açores é diferente do "Chega" nacional. Rui Rio, o moderado, considera mesmo que algumas medidas do "Chega" como a estafada redução do Rendimento Social de Inserção é um excelente medida. Alheio às características singulares da região, Rui Rio pensa que com a ajuda do "Chega" vai tirar empregos da cartola para combater a subsidiodependência de que tanto fala, justificando deste modo a normalização que está a fazer de um pa