O título remete, naturalmente, para o bairro da Bela Vista em Setúbal que tem sido o palco de violência e de forte vigilância da polícia. Há quem assevere que existe um real perigo de contágio e que os exemplos que vêm da Grécia ou de França podem servir de referência para jovens que vivem em bairros sociais. Na Grécia, os conflitos entre jovens e a polícia têm subjacente a existência de lideranças e influências políticas que não podem ser ignoradas, designadamente de partidos anarquistas; em França, a emigração, a existência de bairros colossais em volta de grandes cidades como Paris e os falhanços de uma política que pretendeu integrar emigrantes que recusam essa integração e cujos filhos vivem numa complicada mescla de cultura dos progenitores e cultura do país onde nasceram resulta numa instabilidade urbana são elementos destabilizadores. Prever que Portugal possa mergulhar numa situação semelhante é um claro exacerbamento.
Paralelamente, há quem sublinhe que a crise poderá desencadear situações de violência urbana, consequência do aumento do desemprego e das dificuldades. Também aqui parece haver algum exagero. Quem está por detrás destes tumultos - chamemos-lhe assim - não é propriamente alguém que, depois de ter caído numa situação de desemprego, acaba por ceder à fácil tentação do distúrbio e da violência. Não é disso que se trata. Aliás e tanto mais é assim que os acontecimentos dos últimos dias têm demonstrado que a violência está associada a crimes como roubos e assaltos à mão armada. Poder-se-á falar de uma multiplicidade de razões que poderão eventualmente explicar os distúrbios da Bela Vista, mas associá-los à crise é um bocado rebuscado. Este tipo de paralelismo até acaba por ser ofensivo para quem na realidade vive as consequências da crise e são muitos portugueses sem emprego, com emprego precário, com empresas em manifestas dificuldades que conhecem a dura realidade agravada pela crise.
O CDS-PP tem enfatizado a questão da emigração para justificar, em parte, aquilo que se tem vindo a passar no Bairro da Bela Vista. Estabelecer uma correlação entre a emigração e a violência destes bairros sociais é igualmente difícil na medida em que muitos dos jovens envolvidos nos desacatos são jovens portugueses filhos ou netos de emigrantes. O problema da emigração tem toda a pertinência, mas não neste caso específico.
Os problemas da Bela Vista estarão certamente relacionados com o precoce abandono escolar, com a pobreza, com a "guetização" e até eventualmente com a tibieza da estrutura familiar. Todavia, importa tratar estes problemas com seriedade e com alguma sensatez. O discurso de alguma direita que pede mais controlo da emigração e penas mais pesadas, acaba por diluir-se na precipitação; o discurso da esquerda pejado de boas intenções é, amiúde, contraproducente porque se cinge apenas às causas e raras vezes às soluções.
Paralelamente, há quem sublinhe que a crise poderá desencadear situações de violência urbana, consequência do aumento do desemprego e das dificuldades. Também aqui parece haver algum exagero. Quem está por detrás destes tumultos - chamemos-lhe assim - não é propriamente alguém que, depois de ter caído numa situação de desemprego, acaba por ceder à fácil tentação do distúrbio e da violência. Não é disso que se trata. Aliás e tanto mais é assim que os acontecimentos dos últimos dias têm demonstrado que a violência está associada a crimes como roubos e assaltos à mão armada. Poder-se-á falar de uma multiplicidade de razões que poderão eventualmente explicar os distúrbios da Bela Vista, mas associá-los à crise é um bocado rebuscado. Este tipo de paralelismo até acaba por ser ofensivo para quem na realidade vive as consequências da crise e são muitos portugueses sem emprego, com emprego precário, com empresas em manifestas dificuldades que conhecem a dura realidade agravada pela crise.
O CDS-PP tem enfatizado a questão da emigração para justificar, em parte, aquilo que se tem vindo a passar no Bairro da Bela Vista. Estabelecer uma correlação entre a emigração e a violência destes bairros sociais é igualmente difícil na medida em que muitos dos jovens envolvidos nos desacatos são jovens portugueses filhos ou netos de emigrantes. O problema da emigração tem toda a pertinência, mas não neste caso específico.
Os problemas da Bela Vista estarão certamente relacionados com o precoce abandono escolar, com a pobreza, com a "guetização" e até eventualmente com a tibieza da estrutura familiar. Todavia, importa tratar estes problemas com seriedade e com alguma sensatez. O discurso de alguma direita que pede mais controlo da emigração e penas mais pesadas, acaba por diluir-se na precipitação; o discurso da esquerda pejado de boas intenções é, amiúde, contraproducente porque se cinge apenas às causas e raras vezes às soluções.
Notícia in Público: http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1380071&idCanal=59
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