A inauguração do Largo Salazar, em Santa Comba Dão, no dia 25 de Abril, está a provocar forte celeuma. A insistência do presidente da autarquia de inaugurar o Largo com o nome do ditador é vista como uma clara provocação e é manifestamente sintomática do mau gosto do autarca. Na verdade, não passa de mais um exemplo da falta de honestidade intelectual de quem ocupa cargos eleitos. Afinal, com tantos dias do ano, escolhe-se precisamente o dia da queda do regime intrinsecamente associado a Salazar para inaugurar um largo com o seu nome. Nestas circunstâncias, não se pode honestamente falar em coincidências, como tem sido o argumento do autarca. Ao mau gosto da iniciativa também se pode acrescentar uma tentativa de publicitar a terra, seguindo um pouco à letra a ideia de que até a má publicidade é boa publicidade.
Importa sublinhar que o autarca tem toda a legitimidade de levar a cabo iniciativas desta natureza - os regimes democráticos são frequentemente atacados por episódios similares que, mais uma vez, denotam o mau gosto seus responsáveis. Mas trata-se apenas disso mesmo, de mau gosto. É claro que haverá sempre que elogie a ideia, até porque António de Oliveira Salazar continua presente na sociedade portuguesa e não raras vezes regressa-se ao ditador. Com efeito, não se trata apenas de falta de informação, ou desinformação, levando as pessoas a consideram-no uma figura de referência, é também o facto de muitos cidadãos deste país darem-se lindamente com regimes autoritários e castradores das liberdades individuais - muitos de nós dispensam as liberdades individuais porque nem sequer saberiam muito bem o que fazer com elas.
Paralelamente, existe indubitavelmente uma desilusão com Abril, ou dito por outras palavras, os ideais de Abril ainda estão por concretizar. O 25 de Abril prometeu mais do que aquilo que o país foi capaz de cumprir. Falhámos colectivamente. Mas as portas que Abril abriu permanecem abertas: a liberdade e democracia palcos ideias para o desenvolvimento do país continuam a ser uma realidade, embora quem tenha responsabilidades públicas nem sempre contribua para o processo de consolidação da democracia. Mas nem será tanto essa desilusão com Abril que está subjacente ao regresso de muitos ao ditador. O que subjaz a esse regresso é a pobreza de espírito, a pequenez e a displicência com que se olha para liberdades que, aos olhos de alguns, não fazem assim tanta falta.
É neste contexto que surgem os saudosistas do Estado Novo que vêem na figura de Salazar um homem íntegro e que tudo deu ao país, ao contrário dos políticos da democracia. Esta é, de um modo geral, a visão dos saudosistas que desprezam as liberdades. Existe de facto um misto de revolta e provocação inerentes ao regresso a Salazar que se agravam em períodos de grande dificuldade como este que estamos a viver. Quanto ao autarca de Santa Comba Dão, a pouca relevância do mesmo encarregar-se-à de tornar este assunto noticia durante alguns dias. Para a semana, poucos lembrar-se-ão deste episódio.
Importa sublinhar que o autarca tem toda a legitimidade de levar a cabo iniciativas desta natureza - os regimes democráticos são frequentemente atacados por episódios similares que, mais uma vez, denotam o mau gosto seus responsáveis. Mas trata-se apenas disso mesmo, de mau gosto. É claro que haverá sempre que elogie a ideia, até porque António de Oliveira Salazar continua presente na sociedade portuguesa e não raras vezes regressa-se ao ditador. Com efeito, não se trata apenas de falta de informação, ou desinformação, levando as pessoas a consideram-no uma figura de referência, é também o facto de muitos cidadãos deste país darem-se lindamente com regimes autoritários e castradores das liberdades individuais - muitos de nós dispensam as liberdades individuais porque nem sequer saberiam muito bem o que fazer com elas.
Paralelamente, existe indubitavelmente uma desilusão com Abril, ou dito por outras palavras, os ideais de Abril ainda estão por concretizar. O 25 de Abril prometeu mais do que aquilo que o país foi capaz de cumprir. Falhámos colectivamente. Mas as portas que Abril abriu permanecem abertas: a liberdade e democracia palcos ideias para o desenvolvimento do país continuam a ser uma realidade, embora quem tenha responsabilidades públicas nem sempre contribua para o processo de consolidação da democracia. Mas nem será tanto essa desilusão com Abril que está subjacente ao regresso de muitos ao ditador. O que subjaz a esse regresso é a pobreza de espírito, a pequenez e a displicência com que se olha para liberdades que, aos olhos de alguns, não fazem assim tanta falta.
É neste contexto que surgem os saudosistas do Estado Novo que vêem na figura de Salazar um homem íntegro e que tudo deu ao país, ao contrário dos políticos da democracia. Esta é, de um modo geral, a visão dos saudosistas que desprezam as liberdades. Existe de facto um misto de revolta e provocação inerentes ao regresso a Salazar que se agravam em períodos de grande dificuldade como este que estamos a viver. Quanto ao autarca de Santa Comba Dão, a pouca relevância do mesmo encarregar-se-à de tornar este assunto noticia durante alguns dias. Para a semana, poucos lembrar-se-ão deste episódio.
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