Avançar para o conteúdo principal

Socialismo à Chávez


O Presidente da Venezuela, Hugo Chávez, voltou dar mostras do seu socialismo ao anunciar a intervenção do Estado Venezuelano em terras exploradas por um grupo internacional que se tem dedicado à produção de papel e cartão. Esta é mais uma medida que se insere no socialismo de Chávez e naquilo que é considerado por ele a herança da revolução bolivariana. Não é por acaso que é sobejamente conhecida a atracção que este homem provoca numa esquerda que se sente sozinha, em particular desde o fim do mandato de George W. Bush. E que nem a crise do capitalismo tem preenchido essa solidão. Assim, homens como Chávez cujas políticas trazem reminiscências de outros tempos, são por essa esquerda, venerados.

Há, contudo, uma questão que é indissociável das práticas políticas de Chávez: o petróleo. É o petróleo que permite ao Presidente venezuelano aplicar políticas de uma pretensa reforma agrária e políticas "socialistas" que estão a condenar a iniciativa privada. Ora, por muitas críticas que recaiam sobre os excessos do capitalismo e sobre a fé cega nos mercados, não é seguramente o inverso que vai produzir resultados surpreendentemente positivos. Aliás, surpreendente é assistir a um regresso a um passado que se julgava falido. De resto, a Chávez tudo lhe é permitido porque ainda vai havendo dinheiro do petróleo para pagar as asneiras. O drama chegará quando o ouro negro deixar de ter o peso que, infelizmente, ainda tem.

É também esta importante fonte de receita que permite a Chávez distribuir algumas migalhas pelos mais pobres e pelos desesperados. Resta saber se o caminho em rumo ao socialismo percorrido por Chávez vai deixar uma economia forte. As dúvidas são mais que muitas.

Com efeito, o socialismo de Chávez está a acabar com as empresas privadas depositado uma fé cega no Estado. O Estado, controlado por Chávez bem entendido, é o centro da economia, não sobrando muito espaço para a iniciativa privada. Enquanto o petróleo for um negócio rentável, o socialismo de Chávez poderá manter-se, mas resta saber o que vai acontecer a uma economia sufocada pelo Estado sem a fonte de riqueza que o petróleo proporciona; o que vai acontecer a um país que, pese embora tenha essa fonte de riqueza, permanece pobre e avesso às mudanças necessárias para sair dessa pobreza.

Os arautos do Presidente Chávez já estarão, por esta hora, a vociferar que o Presidente acabou com a corrupção e mitigou a pobreza inconcebível que assolava o país. Convém é não esquecer que o passado recente da Venezuela - que era negro - não melhorou substancialmente com o inefável Chávez. Não é necessariamente imperativo que se tenha de escolher entre o péssimo e o mau.

Mais in Público online:
http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1367975&idCanal=11

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Saídas para os impasses

As últimas semanas têm sido pródigas na divulgação de escândalos envolvendo o primeiro-ministro e as suas obrigações com a Segurança Social e com o Fisco. Percebe-se que os princípios éticos associados ao desempenho de funções políticas são absolutamente ignorados por quem está à frente dos destinos do país - não esquecer que o primeiro-ministro já havia sido deputado antes de se esquecer de pagar as contribuições à Segurança Social. A demissão está fora de questão até porque o afastamento do cargo implica, por parte do próprio, um conjunto de princípios que pessoas como Passos Coelho simplesmente não possuem. A oposição, a poucos meses de eleições, parece preferir que o primeiro-ministro coza em lume brando. E com tanta trapalhada insistimos em não discutir possíveis caminhos e saídas para os impasses com que o país se depara. Governo e oposição (sobretudo o Partido Socialista) agem como se não tivessem de possuir um único pensamento político. Assim, continuamos sem saber o que...

Fim do sigilo bancário

Tudo indica que o sigilo bancário vai ter um fim. O Partido Socialista e o Bloco de Esquerda chegaram a um entendimento sobre a matéria em causa - o Bloco de Esquerda faz a proposta e o PS dá a sua aprovação para o levantamento do sigilo bancário. A iniciativa é louvável e coaduna-se com aquilo que o Bloco de Esquerda tem vindo a propor com o objectivo de se agilizar os mecanismos para um combate eficaz ao crime económico e ao crime de evasão fiscal. Este entendimento entre o Bloco de Esquerda e o Partido Socialista também serve na perfeição os intentos do partido do Governo. Assim, o PS mostra a sua determinação no combate à corrupção e ao crime económico e, por outro lado, aproxima-se novamente do Bloco de Esquerda. Com efeito, a medida, apesar de ser tardia, é amplamente aplaudida e é vista como um passo certo no combate à corrupção, em particular quando a actualidade é fortemente marcada por suspeições e por casos de corrupção. De igual forma, as perspectivas do PS conseguir uma ma...

Outras verdades

 Ontem realizou-se o pior debate da história das presidenciais americanas. Trump, boçal, mentiroso, arrogante e malcriado, versus Biden que, apesar de ter garantido tudo fazer  para não cair na esparrela do seu adversário, acabou mesmo por cair, apelidando-o de mentiroso e palhaço.  Importa reconhecer a incomensurável dificuldade que qualquer ser humano sentiria se tivesse que debater com uma criança sem qualquer educação. Biden não foi excepção. Trump procurou impingir todo o género de mentiras, que aos ouvidos dos seus apoiante soam a outras verdades, verdades superiores à própria verdade. Trump mentiu profusamente, até sobre os seus pretensos apoios. O sheriff de Portland, por exemplo, já veio desmentir que alguma vez tivesse expressado apoio ao ainda Presidente americano. Diz-se por aí que Trump arrastou Biden para a lama. Eu tenho uma leitura diferente: Trump tem vindo a arrastar os EUA para lama. Os EUA, nestes árduos anos, tem vindo a perder influência e reputação ...