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Os lucros da Galp

A Galp anunciou um lucro de perto de 500 milhões de euros, valor referente ao ano de 2008. Segundo o relatório da própria Galp, os últimos três meses foram determinantes para o lucro da petrolífera. Como já seria de se esperar, o tempo que a Galp demorava a acertar os preços (a descer os preços, leia-se) foi fundamental para que a empresa alcançasse um valor perto dos 500 milhões de euros de lucro. É simplesmente vergonhosa a forma como estas empresas actuam, com a inequívoca conivência do orgão de supervisão.

Chega a ser anedótico assistir-se à inépcia demonstrada por uma Autoridade da Concorrência que neste caso, como em outros, permite que as grandes empresas tenham rédea solta para agirem da forma como bem entenderem. Não é possível pensar-se num mercado saudável, com livre concorrência e que não lesam os consumidores quando as autoridades competentes revelam tão grande incompetência.

Por outro lado, e não querendo sucumbir à tentação da demagogia, é curioso verificar a forma como os cidadãos e as empresas são tratadas em Portugal. No caso das empresas, se se tratar de uma pequena ou micro empresa, a carga fiscal, a inoperância dos tribunais e a forma draconiana de autoridades como a ASAE funciona dão conta do recado - coarctando a viabilidade dessas pequenas e micro empresas; mas ao invés se se tratar de uma grande empresa, por norma, que mantém uma relação pouco saudável com o Estado, estas conseguem prosperar amiúde à custa dos cidadãos, com a clara conivência das autoridades responsáveis.
Os lucros da Galp são mais um sinal da degradação de um país que aguarda há séculos o seu último estertor. Esses lucros seriam legítimos se fossem conseguidos de forma transparente e sem malabarismos que mais não fazem do que prejudicar os cidadãos. São situações como esta que têm contribuído para que os cidadãos acreditem cada vez menos nas autoridades do país, sejam elas políticas ou de outra natureza. A quebra sistemática da confiança entre Estado e cidadãos é, em larga medida, responsabilidade do actual Executivo. Seria profícuo que muitos se lembrassem disso durante estes quase seis meses que falta até novo período eleitoral.

Mais in Público online: http://economia.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1367797&idCanal=57

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