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Falências, desemprego e a crise

O país começa agora a conhecer o lado mais cruel da crise com o aumento de falências e o consequente desemprego. Também é verdade que o incremento das falências é o resultado directo das dificuldades que os parceiros económicos do país atravessam. A isto acresce as dificuldades de tesouraria e os entraves no acesso ao crédito e o desfecho só poderia ser este. O Governo tem algumas medidas que visam ajudar as empresas: as linhas de crédito serão as mais conhecidas. Mas a verdade é que a nossa economia vai continuar a sofrer os impactos da crise - tal como as restantes economias -, mas vai ter dificuldades acrescidas para sair da crise.

Com efeito, o país vai continuar a pagar duas facturas: a da crise internacional e a da fragilidade da própria economia. Ora, o Governo, que se vangloria de ter mudado o país para melhor, esquece-se que as mudanças que realmente eram necessárias ficaram por fazer - vivemos há quatro anos na redoma da propaganda, nada de substancial foi feito. Hoje a crise internacional justifica tudo, mas o problema é que a crise internacional só veio agudizar problemas que a economia portuguesa já tinha. Não é por acaso que se vive em crise há perto de uma década.

Segundo o Instituto Nacional de Estatística (INE), o número de falências na primeira metade do ano passado já era assombrosa, isto antes da crise internacional. O que é sintomático de uma situação económica que já se vinha a degradar ainda antes da crise. De resto, a situação do país, com ou sem crise internacional, seria de qualquer forma muito negativa.

O Governo tudo tem feito para se esconder atrás da crise, mas a realidade é esta: o país já estava a atravessar um período de grandes dificuldades, a crise só veio agravar aquilo que já era muito negativo. Deste modo, o Governo tem enormes responsabilidades que não podem ser escamoteadas recorrendo ad nauseaum à crise internacional. O Governo tem responsabilidades no falhanço da Justiça, na paródia em que a Educação se tornou, na inépcia demonstrada em relação à reforma da Administração Pública e na implementação de um modelo económico que mais não tem do que empobrecido o país.

Em conclusão, o Governo não pode continuar a esconder-se atrás da crise internacional, sob pena de se deturpar uma realidade insofismável: durante quatro anos o Governo mostrou a sua incapacidade para mudar o país, tendo o mesmo, em muitos aspectos, vindo a conhecer um agravamento dos seus problemas. E o mais grave se verifica com o conjunto de medidas que o Governo apresentou como forma de combater a crise e cuja pedra basilar é a construção de grandes obras públicas, agravando o endividamento do país e tornando o crédito ainda mais difícil para as empresas que queiram investir e criar emprego.

Notícia in Público online: http://economia.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1370790&idCanal=57

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