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A resposta portuguesa à crise

O Governo português aposta nas grandes obras públicas como forma de combater a crise internacional. Aliás, a mediocridade desta medida salta aos olhos de todos, embora primeiro-ministre se vanglorie com a alegada eficácia da medida. Mais grave é o facto da discussão sobre essas grandes obras públicas estar inquinada. Ora, o Governo socorre-se dos pacotes de medidas de outros países que também enveredam pelo caminho da construção para justificar a sua linha de governação, esquece-se contudo de discutir os inúmeros aspectos negativos das suas políticas. Afinal de contas, importa apenas fazer propaganda, rejeitando qualquer forma de troca de ideias.
A grande medida do Governo é a aposta no investimento público, designadamente em obras públicas. A questão do endividamento do país e do cada vez mais difícil acesso ao crédito não são assuntos que mereçam a atenção do Executivo de José Sócrates. Por outro lado, o peso que os impostos têm nas contas das empresas e famílias são subvalorizadas pelo Governo socialista. Pouco importa se esse peso invalida o investimento das empresas e contribui para a não criação de postos de trabalho, ou se esse peso contribui para reduzir o consumo.
Numa altura de crise o Governo anima as hostes com a aposta nas grandes obras públicas, e redução de impostos está fora de questão porque a redução de despesa do Estado tem provado ser uma impossibilidade. E mesmo sabendo da complexidade da actual crise e da dificuldade em atenuar os seus efeitos nefastos, não se percebe a cegueira de quem nos governa que assiste impávido e sereno à morte de tantas empresas e à supressão de milhares de postos de trabalho.
Paralelamente, o Governo considera que a criação de emprego público é outra forma de se combater a crise. Há algum tempo atrás o discurso do Executivo centrava-se no excesso de funcionários públicos, hoje esse anátema caiu por terra. É por demais evidente que o Executivo de José Sócrates governa consoante as marés. O Governo reformista deu lugar ao Governo eleitoralista.
Estas são algumas das respostas do Governo à crise: obras públicas e emprego público. Receita velha e anacrónica. Os estímulos ao empreendorismo, o apoio às empresas, a criação de emprego fora da esfera pública não são políticas que José Sócrates considere prioritárias. O mais incrivel é a forte possibilidade de serem os responsáveis por estes erros crassos a estarem mais quatro anos à frente do país.

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