Avançar para o conteúdo principal

"Malhar" na própria qualidade democrática

A qualidade dos políticos portugueses tem conhecido uma degradação acentuada, havendo, naturalmente, honrosas excepções. Mas as palavras do ministro dos assuntos parlamentares, Augusto Santos Silva, a propósito de acusações de falta de debate no seio do PS, são perfeitamente sintomáticas dessa degradação. Vale a pena recordar as palavras do ilustre ministro: "Eu cá gosto é de malhar na direita e gosto de malhar com especial prazer nesses sujeitos e sujeitas que se situam de facto à direita do PS. São das forças mais conservadoras e reaccionárias que eu conheço e que gostam de se dizer de esquerda plebeia ou chique". "

Ora, depois desta manifestação de eloquência, resta muito pouco a dizer. Há quem, no entanto, desvalorize as palavras do ministro, alegando que existem preocupações bem mais prementes. Todavia, a degradação da qualidade de parte da classe política, em particular daqueles que têm responsabilidades governativas, aliada à inexistência de soluções para uma crise que está a ter custos sociais incomportáveis, à ineficácia da justiça potenciadora de iniquidades e ao mais completo cerceamento das esperanças dos cidadãos, é uma mistura potencialmente explosiva.

É precisamente esta conjuntura de factores que pode desencadear dissabores para a própria democracia. É ilusório pensar que o grau de tolerância dos cidadãos é ilimitado. E facto, o desgaste do sistema democrático também se faz de políticos irresponsáveis que só vivem bem numa partidocracia.

Aliás, tem sido bem notória a falta de qualidade de muitos dos políticos de todo o espectro político na Assembleia da República. O ministro dos Assuntos Parlamentares prestou um mau serviço ao país e à própria classe política que aos olhos da opinião pública deixa cada vez mais a desejar. Embora o confronto político faça parte dos partidos políticos, a conversa própria de um taberneiro não vem dar um contributo em matéria de qualidade ao sistema político português.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Normalização do fascismo

O PSD Açores, e naturalmente com a aprovação de Rui Rio, achou por bem coligar-se com o "Chega". Outros partidos como o Iniciativa Liberal (IL) e o CDS fizeram as mesmas escolhas, ainda que o primeiro corra atrás do prejuízo, sobretudo agora que a pandemia teve o condão de mostrar a importância do Estado Social que o IL tão avidamente pretende desmantelar, e o segundo se tenha transformado numa absoluta irrelevância. Porém, é Rui Rio, o mesmo que tem cultivado aquela imagem de moderado, que considera que o "Chega" nos Açores é diferente do "Chega" nacional. Rui Rio, o moderado, considera mesmo que algumas medidas do "Chega" como a estafada redução do Rendimento Social de Inserção é um excelente medida. Alheio às características singulares da região, Rui Rio pensa que com a ajuda do "Chega" vai tirar empregos da cartola para combater a subsidiodependência de que tanto fala, justificando deste modo a normalização que está a fazer de um pa...

Fim do sigilo bancário

Tudo indica que o sigilo bancário vai ter um fim. O Partido Socialista e o Bloco de Esquerda chegaram a um entendimento sobre a matéria em causa - o Bloco de Esquerda faz a proposta e o PS dá a sua aprovação para o levantamento do sigilo bancário. A iniciativa é louvável e coaduna-se com aquilo que o Bloco de Esquerda tem vindo a propor com o objectivo de se agilizar os mecanismos para um combate eficaz ao crime económico e ao crime de evasão fiscal. Este entendimento entre o Bloco de Esquerda e o Partido Socialista também serve na perfeição os intentos do partido do Governo. Assim, o PS mostra a sua determinação no combate à corrupção e ao crime económico e, por outro lado, aproxima-se novamente do Bloco de Esquerda. Com efeito, a medida, apesar de ser tardia, é amplamente aplaudida e é vista como um passo certo no combate à corrupção, em particular quando a actualidade é fortemente marcada por suspeições e por casos de corrupção. De igual forma, as perspectivas do PS conseguir uma ma...

Mais uma indecência a somar-se a tantas outras

 O New York Times revelou (parte) o que Donald Trump havia escondido: o seu registo fiscal. E as revelações apenas surpreendem pelas quantias irrisórias de impostos que Trump pagou e os anos, longos anos, em que não pagou um dólar que fosse. Recorde-se que todos os presidentes americanos haviam revelado as suas declarações, apenas Trump tudo fizera para as manter sem segredo. Agora percebe-se porquê. Em 2016, ano da sua eleição, o ainda Presidente americano pagou 750 dólares em impostos, depois de declarar um manancial de prejuízos, estratégia adoptada nos tais dez anos, em quinze, em que nem sequer pagou impostos.  Ora, o homem que sempre se vangloriou do seu sucesso como empresário das duas, uma: ou não teve qualquer espécie de sucesso, apesar do estilo de vida luxuoso; ou simplesmente esta foi mais uma mentira indecente, ou um conjunto de mentiras indecentes. Seja como for, cai mais uma mancha na presidência de Donald Trump que, mesmo somando indecências atrás de indecência...