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"Malhar" na própria qualidade democrática

A qualidade dos políticos portugueses tem conhecido uma degradação acentuada, havendo, naturalmente, honrosas excepções. Mas as palavras do ministro dos assuntos parlamentares, Augusto Santos Silva, a propósito de acusações de falta de debate no seio do PS, são perfeitamente sintomáticas dessa degradação. Vale a pena recordar as palavras do ilustre ministro: "Eu cá gosto é de malhar na direita e gosto de malhar com especial prazer nesses sujeitos e sujeitas que se situam de facto à direita do PS. São das forças mais conservadoras e reaccionárias que eu conheço e que gostam de se dizer de esquerda plebeia ou chique". "

Ora, depois desta manifestação de eloquência, resta muito pouco a dizer. Há quem, no entanto, desvalorize as palavras do ministro, alegando que existem preocupações bem mais prementes. Todavia, a degradação da qualidade de parte da classe política, em particular daqueles que têm responsabilidades governativas, aliada à inexistência de soluções para uma crise que está a ter custos sociais incomportáveis, à ineficácia da justiça potenciadora de iniquidades e ao mais completo cerceamento das esperanças dos cidadãos, é uma mistura potencialmente explosiva.

É precisamente esta conjuntura de factores que pode desencadear dissabores para a própria democracia. É ilusório pensar que o grau de tolerância dos cidadãos é ilimitado. E facto, o desgaste do sistema democrático também se faz de políticos irresponsáveis que só vivem bem numa partidocracia.

Aliás, tem sido bem notória a falta de qualidade de muitos dos políticos de todo o espectro político na Assembleia da República. O ministro dos Assuntos Parlamentares prestou um mau serviço ao país e à própria classe política que aos olhos da opinião pública deixa cada vez mais a desejar. Embora o confronto político faça parte dos partidos políticos, a conversa própria de um taberneiro não vem dar um contributo em matéria de qualidade ao sistema político português.

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