Avançar para o conteúdo principal

Degradação do sistema democrático

A notícia do Público que dá conta da ilegalidade dos pagamentos aos advogados de Fátima Felgueiras pela Câmara de Felgueiras é mais um sinal da degradação do próprio sistema democrático português, Quando se permite que dinheiros públicos sirvam para pagar autarcas acusados pela Justiça e com a agravante de o país ter assistido à fuga de uma autarca em particular, parece que perdemos o pouco pudor que tínhamos.

Esta situação da autarca de Felgueiras é sintomática de uma paulatina degradação da própria democracia portuguesa com a descredibilização da classe política à cabeça dessa degradação. Com efeito, não se deve incorrer em generalizações quando se fala da classe política. Há um pouco de tudo no espectro político português, mas os casos que se destacam naturalmente são precisamente os maus exemplos de autarcas e outros políticos que vivem na mais abjecta impunidade.

Ora, não se pode estar à espera que o país progrida e se desenvolva quando as suas instituições estão permanentemente em baixo de fogo. E quando a justiça tem dificuldades em responder peremptoriamente às situações que têm vindo a lume nos últimos anos está-se a criar duas situações: uma de desigualdade entre os cidadãos, quando parece haver uma classe Privilegiada e quase intocável - mesmo que isso não corresponda à verdade, é essa imagem que o país vê; e outra de descrença nas instituições democráticas - sobrando espaço para outros menos democráticos aparecerem.

A história contada pelo Público sobre o uso de dinheiros públicos para pagar honorários dos advogados da autarca de Felgueiras já não causa grande perplexidade. E nem a exigência de devolução desses dinheiros menoriza o assunto. Enquanto a noção de serviço público for praticamente inexistente, enquanto a sociedade civil permanecer na sua confortável inércia, o país vai-se afundando nesta amálgama de egoísmo e "chico-espertismo".

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Mais uma indecência a somar-se a tantas outras

 O New York Times revelou (parte) o que Donald Trump havia escondido: o seu registo fiscal. E as revelações apenas surpreendem pelas quantias irrisórias de impostos que Trump pagou e os anos, longos anos, em que não pagou um dólar que fosse. Recorde-se que todos os presidentes americanos haviam revelado as suas declarações, apenas Trump tudo fizera para as manter sem segredo. Agora percebe-se porquê. Em 2016, ano da sua eleição, o ainda Presidente americano pagou 750 dólares em impostos, depois de declarar um manancial de prejuízos, estratégia adoptada nos tais dez anos, em quinze, em que nem sequer pagou impostos.  Ora, o homem que sempre se vangloriou do seu sucesso como empresário das duas, uma: ou não teve qualquer espécie de sucesso, apesar do estilo de vida luxuoso; ou simplesmente esta foi mais uma mentira indecente, ou um conjunto de mentiras indecentes. Seja como for, cai mais uma mancha na presidência de Donald Trump que, mesmo somando indecências atrás de indecências, vai fa

Outras verdades

 Ontem realizou-se o pior debate da história das presidenciais americanas. Trump, boçal, mentiroso, arrogante e malcriado, versus Biden que, apesar de ter garantido tudo fazer  para não cair na esparrela do seu adversário, acabou mesmo por cair, apelidando-o de mentiroso e palhaço.  Importa reconhecer a incomensurável dificuldade que qualquer ser humano sentiria se tivesse que debater com uma criança sem qualquer educação. Biden não foi excepção. Trump procurou impingir todo o género de mentiras, que aos ouvidos dos seus apoiante soam a outras verdades, verdades superiores à própria verdade. Trump mentiu profusamente, até sobre os seus pretensos apoios. O sheriff de Portland, por exemplo, já veio desmentir que alguma vez tivesse expressado apoio ao ainda Presidente americano. Diz-se por aí que Trump arrastou Biden para a lama. Eu tenho uma leitura diferente: Trump tem vindo a arrastar os EUA para lama. Os EUA, nestes árduos anos, tem vindo a perder influência e reputação e Trump é o ma

Normalização do fascismo

O PSD Açores, e naturalmente com a aprovação de Rui Rio, achou por bem coligar-se com o "Chega". Outros partidos como o Iniciativa Liberal (IL) e o CDS fizeram as mesmas escolhas, ainda que o primeiro corra atrás do prejuízo, sobretudo agora que a pandemia teve o condão de mostrar a importância do Estado Social que o IL tão avidamente pretende desmantelar, e o segundo se tenha transformado numa absoluta irrelevância. Porém, é Rui Rio, o mesmo que tem cultivado aquela imagem de moderado, que considera que o "Chega" nos Açores é diferente do "Chega" nacional. Rui Rio, o moderado, considera mesmo que algumas medidas do "Chega" como a estafada redução do Rendimento Social de Inserção é um excelente medida. Alheio às características singulares da região, Rui Rio pensa que com a ajuda do "Chega" vai tirar empregos da cartola para combater a subsidiodependência de que tanto fala, justificando deste modo a normalização que está a fazer de um pa