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O caso Freeport

O caso Freeport voltou a abrir os serviços noticiosos dos principais canais de televisão. A imagem do primeiro-ministro que já aparecia invariavelmente associada ao caso surge novamente implicada, mas desta vez esse acompanhamento sai reforçado com as diligências à casa e empresa do tio materno de José Sócrates. O envolvimento das autoridades britânicas que investigam a empresa-mãe do outlet desencadeia novas investigações por parte das autoridades portuguesas.

O semanário Sol tem publicado notícias que dão conta das investigações das autoridades britânicas sobre irregularidades no processo de licenciamento do outlet. Essas investigações contém uma lista de 15 suspeitos, incluindo um ex-ministro português do Governo de António Guterres. Ora, o nome desse ministro, apesar de não ter sido revelado, começa a parecer evidente para muitos portugueses.

As suspeições que agora são reforçadas com as buscas de ontem, vêm ensombrar o primeiro-ministro que vê assim o seu nome indirectamente associado ao caso. Recorde-se que já em 2005, em vésperas de eleições, o caso foi também notícia. Relembre-se igualmente que José Sócrates era ministro do ambiente quando se contornou o problema da Zona de Protecção especial.

Em suma, será profícuo para o primeiro-ministro que as investigações produzam resultados rápidos e inequívocos. O esclarecimento cabal desta história pode ser determinante para as aspirações políticas de José Sócrates. Caso contrário, fica a suspeição - o que em política, apesar do engenho do actual primeiro-ministro, é geralmente fatal. Dir-se-á que há o precedente da licenciatura, no qual o primeiro-ministro foi bem sucedido; mas no caso Freeport já foram feitas buscas exaustivas a casa e empresa de um familiar próximo do primeiro-ministro, e as autoridades britânicas parecem determinadas em levar a investigação até ao fim
(http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1357183&idCanal=62).

Por fim, dizer apenas que as tentativas de muitos, incluindo do primeiro-ministro, de deixar a suspeição de que alguém está por detrás de tudo isto, lembrando que em 2005 estava-se em campanha eleitoral e que o caso renasce em ano de eleições, parecem-me estapafúrdias. Pelo menos no que diz respeito às investigações das autoridades britânicas, elas de facto existem. O primeiro-ministro poderá, isso sim, queixar-se da importância que a comunicação social tem dado ao caso. Todavia, vivemos em democracia e a liberdade de imprensa, por muitos incómodos que cause, existe. Mas também me parece óbvio que, tratando-se de um familiar próximo do primeiro-ministro, a comunicação social dê a importância que tem dado. Aliás, o jornal Sol já há quinze dias que vinha dando notícias do caso e só agora, com as buscas em casa do tio de José Sócrates, é que o caso ganhou as proporções que todos temos vindo a presenciar.

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