Avançar para o conteúdo principal

Necessidade de um cessar-fogo

A guerra que regressou ao Médio Oriente, designadamente à Faixa de Gaza, não pode continuar, sob pena de se agudizar os profundos antagonismos que caracterizam a região. Embora não haja registos, nos últimos anos, de verdadeiros progressos rumo à paz, a perpetuação do conflito que opõe Israel ao Hamas resulta inevitavelmente num agravamento da instabilidade, inviabilizando qualquer processo de paz.

A situação que se está a viver nesta parte do Médio Oriente é de grande complexidade, e nada ajuda o extremar de posições, apoiando intransigentemente o lado palestiniano ou o lado israelita. Infelizmente é precisamente isto que está a acontecer. Deste modo, a ofensiva israelita tem o seu fundamento: os ostensivos ataques ao território israelita, levados a cabo pelo Hamas acabariam, mais cedo ou mais tarde, por merecer uma resposta israelita. Todavia, as consequências dessa resposta, em particular se a mesma se traduzir numa verdadeira guerra, poderão ser contraproducentes. Ao invés de se conseguir um efectivo enfraquecimento do movimento radical, corre-se o risco de o fortalecer. Recorde-se que o Hamas demonstra ter uma notável capacidade de vitimização e de utilização estratégica dos habitantes de Gaza.

Note-se que o Hamas, movimento radical que controla a faixa de Gaza, tem vindo a sofrer alguma perda de popularidade junto dos habitantes de Gaza. E apesar do descontentamento que se vive neste território palestiniano se dever a um bloqueio imposto por Israel, os palestinianos de Gaza não têm reconhecido no Hamas as competências para resolver os seus problemas. A qualidade de vida que entretanto se degradou com a guerra já era insuportável para a população de Gaza.

O cessar-fogo é indubitavelmente um imperativo. Israel, ao fazer uma demonstração de força, prova que retaliará sempre que o Hamas atingir território israelita, mas se negociar um cessar-fogo mostrará ao mundo que há um interesse na paz e poderá, simultaneamente, interromper uma guerra que afasta ainda mais Israel dos seus vizinhos do Médio Oriente.

Seria portanto importante que o processo de fragilização de movimentos radicais como o Hamas continuasse. E isso só pode ser feito se a população de Gaza conhecer uma melhoria significativa da qualidade de vida e não o contrário; isso só pode ser alcançado quando a população de Gaza, como a da Cisjordânia deixarem de ver em Israel um inimigo cujo principal objectivo é continuar a subjugação do povo palestiniano. É possível dissociar a população de Gaza do Hamas, mesmo sabendo que foi essa mesma população que elegeu o movimento radical. O enfraquecimento do Hamas antes do início da incursão israelita era um bom presságio para a paz na região. Tudo isto pode ser deitado por terra com a guerra que ainda se vive na região.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Saídas para os impasses

As últimas semanas têm sido pródigas na divulgação de escândalos envolvendo o primeiro-ministro e as suas obrigações com a Segurança Social e com o Fisco. Percebe-se que os princípios éticos associados ao desempenho de funções políticas são absolutamente ignorados por quem está à frente dos destinos do país - não esquecer que o primeiro-ministro já havia sido deputado antes de se esquecer de pagar as contribuições à Segurança Social. A demissão está fora de questão até porque o afastamento do cargo implica, por parte do próprio, um conjunto de princípios que pessoas como Passos Coelho simplesmente não possuem. A oposição, a poucos meses de eleições, parece preferir que o primeiro-ministro coza em lume brando. E com tanta trapalhada insistimos em não discutir possíveis caminhos e saídas para os impasses com que o país se depara. Governo e oposição (sobretudo o Partido Socialista) agem como se não tivessem de possuir um único pensamento político. Assim, continuamos sem saber o que...

Fim do sigilo bancário

Tudo indica que o sigilo bancário vai ter um fim. O Partido Socialista e o Bloco de Esquerda chegaram a um entendimento sobre a matéria em causa - o Bloco de Esquerda faz a proposta e o PS dá a sua aprovação para o levantamento do sigilo bancário. A iniciativa é louvável e coaduna-se com aquilo que o Bloco de Esquerda tem vindo a propor com o objectivo de se agilizar os mecanismos para um combate eficaz ao crime económico e ao crime de evasão fiscal. Este entendimento entre o Bloco de Esquerda e o Partido Socialista também serve na perfeição os intentos do partido do Governo. Assim, o PS mostra a sua determinação no combate à corrupção e ao crime económico e, por outro lado, aproxima-se novamente do Bloco de Esquerda. Com efeito, a medida, apesar de ser tardia, é amplamente aplaudida e é vista como um passo certo no combate à corrupção, em particular quando a actualidade é fortemente marcada por suspeições e por casos de corrupção. De igual forma, as perspectivas do PS conseguir uma ma...

Outras verdades

 Ontem realizou-se o pior debate da história das presidenciais americanas. Trump, boçal, mentiroso, arrogante e malcriado, versus Biden que, apesar de ter garantido tudo fazer  para não cair na esparrela do seu adversário, acabou mesmo por cair, apelidando-o de mentiroso e palhaço.  Importa reconhecer a incomensurável dificuldade que qualquer ser humano sentiria se tivesse que debater com uma criança sem qualquer educação. Biden não foi excepção. Trump procurou impingir todo o género de mentiras, que aos ouvidos dos seus apoiante soam a outras verdades, verdades superiores à própria verdade. Trump mentiu profusamente, até sobre os seus pretensos apoios. O sheriff de Portland, por exemplo, já veio desmentir que alguma vez tivesse expressado apoio ao ainda Presidente americano. Diz-se por aí que Trump arrastou Biden para a lama. Eu tenho uma leitura diferente: Trump tem vindo a arrastar os EUA para lama. Os EUA, nestes árduos anos, tem vindo a perder influência e reputação ...