Avançar para o conteúdo principal

A impossibilidade da paz

O cessar-fogo entre o Hamas e o Israel começa a dar sinais evidentes de fraqueza. De facto, as expectativas gerais quanto a este cessar-fogo sempre foram diminutas, mas agora os sinais de que o mesmo dificilmente se manterá tornam-se cada vez mais evidentes. A certeza da guerra e a impossibilidade da paz redundam invariavelmente na instabilidade que se vive em toda a região.

A impossibilidade da paz prende-se com vários factores, a começar com a natureza e ideologia do movimento radical Hamas. Este movimento tem sido, em vários momentos,o responsável pelo fim das tréguas entre os dois lados. E no essencial, o Hamas inviabiliza a paz no momento em que rejeita e existência de um Estado israelita; ou dito de outro modo, não haverá paz enquanto não coexistirem dois estados: um israelita e outro palestiniano. Paralelamente, o Hamas mantém relações de alguma proximidade com países como o Irão e a Síria. E no caso específico do Irão, importa sublinhar os elementos que tanto o regime iraniano como o Hamas têm em comum, designadamente o fim do Estado hebraico.

Por outro lado, a paz será sempre uma possibilidade remota enquanto Israel insistir em manter um bloqueio à Faixa de Gaza impossibilitando estes habitantes de sequer aspirarem a ter o mínimo de dignidade e de qualidade de vida. Ora, o Hamas poderia ser fragilizado pelo enfraquecimento do apoio da população, mas isso será inexequível enquanto a população de Gaza continuar a viver revoltada e sem o mínimo de dignidade. Israel, na senda de castigar o Hamas, acaba por prejudicar indelevelmente a população de Gaza.

E por último, não esquecer que no seio dos próprios palestinianos existem divisões insanáveis. Aliás, o Hamas, que controla a Faixa de Gaza, tem péssimas relações com a Fatah da Autoridade Palestiniana que controla a Cisjordânia. Haverá certamente quem advogue que estas divisões são fomentadas por Israel, mas a realidade é esta: como é que o povo palestiniano pode aspirar a ter um Estado independente quando os seus representantes não se entendem ao ponto de existirem duas zonas controladas separadamente.

Estas são apenas algumas razões que contribuem para a impossibilidade de haver paz nesta região do Médio Oriente e, indissociavelmente, o cessar-fogo que parece cada vez mais fragilizado acabará mesmo por cessar. É também evidente que uma questão tão complexa como o conflito israelo-palestiniano não tem uma solução milagrosa e, se quisermos analisar as razões que inviabilizam a paz na região, não podemos descurar a questão das fronteiras, em particular as de 1967, do radicalismo que também existe em Israel e da pouca participação dos Estados Unidos e dos países da região num processo de estabilização.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Mais uma indecência a somar-se a tantas outras

 O New York Times revelou (parte) o que Donald Trump havia escondido: o seu registo fiscal. E as revelações apenas surpreendem pelas quantias irrisórias de impostos que Trump pagou e os anos, longos anos, em que não pagou um dólar que fosse. Recorde-se que todos os presidentes americanos haviam revelado as suas declarações, apenas Trump tudo fizera para as manter sem segredo. Agora percebe-se porquê. Em 2016, ano da sua eleição, o ainda Presidente americano pagou 750 dólares em impostos, depois de declarar um manancial de prejuízos, estratégia adoptada nos tais dez anos, em quinze, em que nem sequer pagou impostos.  Ora, o homem que sempre se vangloriou do seu sucesso como empresário das duas, uma: ou não teve qualquer espécie de sucesso, apesar do estilo de vida luxuoso; ou simplesmente esta foi mais uma mentira indecente, ou um conjunto de mentiras indecentes. Seja como for, cai mais uma mancha na presidência de Donald Trump que, mesmo somando indecências atrás de indecências, vai fa

Outras verdades

 Ontem realizou-se o pior debate da história das presidenciais americanas. Trump, boçal, mentiroso, arrogante e malcriado, versus Biden que, apesar de ter garantido tudo fazer  para não cair na esparrela do seu adversário, acabou mesmo por cair, apelidando-o de mentiroso e palhaço.  Importa reconhecer a incomensurável dificuldade que qualquer ser humano sentiria se tivesse que debater com uma criança sem qualquer educação. Biden não foi excepção. Trump procurou impingir todo o género de mentiras, que aos ouvidos dos seus apoiante soam a outras verdades, verdades superiores à própria verdade. Trump mentiu profusamente, até sobre os seus pretensos apoios. O sheriff de Portland, por exemplo, já veio desmentir que alguma vez tivesse expressado apoio ao ainda Presidente americano. Diz-se por aí que Trump arrastou Biden para a lama. Eu tenho uma leitura diferente: Trump tem vindo a arrastar os EUA para lama. Os EUA, nestes árduos anos, tem vindo a perder influência e reputação e Trump é o ma

Normalização do fascismo

O PSD Açores, e naturalmente com a aprovação de Rui Rio, achou por bem coligar-se com o "Chega". Outros partidos como o Iniciativa Liberal (IL) e o CDS fizeram as mesmas escolhas, ainda que o primeiro corra atrás do prejuízo, sobretudo agora que a pandemia teve o condão de mostrar a importância do Estado Social que o IL tão avidamente pretende desmantelar, e o segundo se tenha transformado numa absoluta irrelevância. Porém, é Rui Rio, o mesmo que tem cultivado aquela imagem de moderado, que considera que o "Chega" nos Açores é diferente do "Chega" nacional. Rui Rio, o moderado, considera mesmo que algumas medidas do "Chega" como a estafada redução do Rendimento Social de Inserção é um excelente medida. Alheio às características singulares da região, Rui Rio pensa que com a ajuda do "Chega" vai tirar empregos da cartola para combater a subsidiodependência de que tanto fala, justificando deste modo a normalização que está a fazer de um pa