A frase em epígrafe ilustra bem as intenções do Governo português face à inevitabilidade do encerramento do campo de prisioneiros Guantánamo. Os presos detidos em Guantánamo são, na sua maioria, presos ilegais e essa razão é mais do que suficiente para Portugal não fazer a oferta que agora foi feita. Afinal de contas, parece haver aqui laivos de cumplicidade com as trapalhadas americanas, e Guantánamo foi seguramente uma das maiores trapalhadas da Administração Bush. E essa cumplicidade existe a nível europeu.Não deixa também de ser irónico que o mesmo Governo que sempre se refugiou no silêncio quanto às políticas da Administração Bush, e precisamente sobre Guantánamo, seja agora o mesmo a ser pioneiro em mostrar disponibilidade para receber estes presos. Um dos argumentos que sustenta a ideia de receber os detidos em Guantánamo prende-se com a impossibilidade de os mesmos regressarem aos seus países de origem. Mas mesmo nessas circunstâncias, Portugal não deve receber presos que foram detidos ilegalmente. Aliás, o problema deve ser resolvido por quem o criou, com a cooperação de outros países, mas não a este nível. A Administração Bush deve ser responsabilizada. E se os membros da Administração Bush foram tão lestos a criar um campo de prisioneiros à revelia dos direitos humanos, também o deveriam ser quanto ao seu encerramento e ao destino dos presos.Portugal pode cooperar na procura de uma solução para Guantánamo, mas a proposta do Governo português foi, no mínimo, extemporânea. O Governo pode e deve mostrar disponbilidade para cooperar com o novo Presidente americano, Barack Obama, mas receber presos que foram detidos ilegalmente e que mantidos presos à margem da lei, parece-me ser uma decisão manifestamente errada.
As últimas semanas têm sido pródigas na divulgação de escândalos envolvendo o primeiro-ministro e as suas obrigações com a Segurança Social e com o Fisco. Percebe-se que os princípios éticos associados ao desempenho de funções políticas são absolutamente ignorados por quem está à frente dos destinos do país - não esquecer que o primeiro-ministro já havia sido deputado antes de se esquecer de pagar as contribuições à Segurança Social. A demissão está fora de questão até porque o afastamento do cargo implica, por parte do próprio, um conjunto de princípios que pessoas como Passos Coelho simplesmente não possuem. A oposição, a poucos meses de eleições, parece preferir que o primeiro-ministro coza em lume brando. E com tanta trapalhada insistimos em não discutir possíveis caminhos e saídas para os impasses com que o país se depara. Governo e oposição (sobretudo o Partido Socialista) agem como se não tivessem de possuir um único pensamento político. Assim, continuamos sem saber o que...
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