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A força do PC

Realizou-se, no passado fim-de-semana, o congresso do PCP. Com efeito, não são só as sondagens que nos mostram um PCP mais forte do que aquilo a que nos tinha habituado nos últimos anos. De facto, o congresso deste fim-de-semana mostrou um partido em crescimento. De qualquer forma, cresce o PCP como tem crescido o Bloco de Esquerda, acompanhando o descontentamento dos cidadãos e o descrédito em alguma classe política, designadamente do PSD e do PS.
O congresso do partido mostrou também um PCP um pouco diferente do costume. O PCP deste congresso sublinhou a sua marca ideológica, deixando antever algum contentamento mal disfarçado com os males do capitalismo. Não deixa, porém, de ser curioso ver um partido ideologicamente falido regojizar-se com a suposta falência do actual modelo económico.
O PCP está mais forte porque cresceu em intenções de voto, mas também porque depois de décadas de frustrações e desilusões vê uma luzinha ao fundo do túnel - a possibilidade do capitalismo se destruir, uma espécie de autofagia. Esta "profecia" de Marx corresponde também a um dos principais anseios dos comunistas. De resto, são vísiveis os sinais de contentamento de quem anda há decadas à espera de um momento como este que agora estamos a viver. Esquecem-se, contudo, que a possibilidade do capitalismo regenerar-se é imensa e que muitos poucos estariam interessados em regressar a um modelo marxista-leninista.
De um modo geral, o PCP vai alimentando a ilusão que pode crescer mais. Do meu ponto de vista, será muito difícil assistir a esse crescimento. O PCP terá de dividir os dividendos do descontentamento com o Bloco de Esquerda e com outros movimentos da Esquerda. Nem tão-pouco é por acaso que o Partido Comunista elegeu o Bloco de Esquerda e até Manuel Alegre como inimigos que desvirtuam uma certa esquerda. E por outro lado, esta crise que atravessamos dificilmente será o último estertor do capitalismo. Resta ao PCP aproveitar o bom momento que atravessa, esquecendo o carácter efémero do mesmo.

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