Portugal atravessa um período em que se cruzam crises de natureza diversa, mas com ligações profundas entre si: o país já atravessava uma crise económica há quase uma década a que se junta agora uma crise internacional de contornos inauditos; mas o país atravessa também outro tipo de crises, designadamente uma crise moral e de confiança. Os casos do BPN e do BPP vêm por a nu essas mesmas crises que, de facto, contribuem para a fragilização da própria democracia.
Com efeito, a consolidação democrática é um processo contínuo e que se torna mais sólido quando os cidadãos confiam nas instituições democráticas. Em Portugal essa confiança tem vindo a sofrer uma preocupante deterioração. Senão vejamos: há uma dificuldade acentuada em confiar numa parte da classe política – a Assembleia da República não é o órgão de prestígio que deveria ser, e a ausência de deputados numa importante votação (em véspera de fim-de-semana prolongado) é sintomática disso mesmo.
De igual forma, a promiscuidade entre políticos e grandes negócios, seja no sector da construção, seja no da alta finança, é outro elemento que gera desconfiança. Além disso, este caso do BPN e do BPP em que é evidente a participação directa ou não de figuras dos dois principais partidos em situações que, amiúde, raiam a ilicitude; ao mesmo tempo que assistimos ao esforço hercúleo do Governo de salvar essas instituições, sob pretexto do famigerado risco sistémico ou, mais recentemente, para salvar os depósitos, geram um descontentamento e consolidam a desconfiança que os cidadãos têm na classe política. Por outro lado, a ideia que se generalizou que a punição raras vezes é uma realidade para os mais poderosos que, geralmente, estão intimamente ligados ao mundo da política, a par da ideia de uma justiça inoperante, são mais elementos que sustentam a tese segundo a qual as crises que atravessamos são nefastas para a própria democracia.
Em síntese existe um mal-estar latente que constitui um perigo para a própria democracia. E este é provavelmente o maior desafio para a democracia portuguesa. A equação é, pois, simples: à crise económica, soma-se uma crise de confiança que se agudiza depois de tanta promiscuidade e imoralidade.
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