Avançar para o conteúdo principal

Tempos difíceis para o Presidente da República

Os últimos dias têm sido marcados pelo caso BPN e por algumas das suas consequências mais imediatas. E como não poderia deixar de ser, o caso ganhou contornos políticos. As conjecturas parecem ser mais do que os factos propriamente ditos, mas a verdade é que o próprio Presidente da República já se insurgiu contra tentativas (justificadas ou nem tanto) de associar a sua pessoa ao caso.
Há, no entanto, uma questão que incomodará certamente o Presidente da República - o Conselheiro de Estado Dias Loureiro cujo nome é reiteradamente enunciado cada vez que se fala do assunto. Dias Loureiro desempenhou um cargo de extraordinária importância dentro do grupo e, apesar da suas justificações, há muita dificuldade em perceber como é que alguém que desempenhou funções tão importantes não tinha conhecimento mais detalhado do que se estava a passar.
A celeuma em volta de Dias Loureiro não cessará enquanto este não se demitir. Mas há também um silêncio a resvalar para a cumplicidade tanto no PSD como no PS. Aliás, o PS mostrou-se irredutivelmente contra qualquer espécie de audição de Dias Loureiro no Parlamento. E mesmo que a Assembleia da República não seja o local mais apropriado para ouvir o ex-dirigente do banco, não deixa de ser curioso observar a perserverança mostrada pelo PS em não ouvir Dias Loureiro. Perserverança essa que é muito mais tímida noutras questões.
Os próximos dias e semanas serão seguramente pródigos em desenvolvimentos sobre o caso BPN. Afinal de contas, esta história tem todos os ingredientes para perdurar: conta pois com a prisão de um banqueiro e com a polémica em volta de um Conselheiro de Estado. O Presidente da República atravessa assim um dos períodos mais conturbados da sua Presidência.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Saídas para os impasses

As últimas semanas têm sido pródigas na divulgação de escândalos envolvendo o primeiro-ministro e as suas obrigações com a Segurança Social e com o Fisco. Percebe-se que os princípios éticos associados ao desempenho de funções políticas são absolutamente ignorados por quem está à frente dos destinos do país - não esquecer que o primeiro-ministro já havia sido deputado antes de se esquecer de pagar as contribuições à Segurança Social. A demissão está fora de questão até porque o afastamento do cargo implica, por parte do próprio, um conjunto de princípios que pessoas como Passos Coelho simplesmente não possuem. A oposição, a poucos meses de eleições, parece preferir que o primeiro-ministro coza em lume brando. E com tanta trapalhada insistimos em não discutir possíveis caminhos e saídas para os impasses com que o país se depara. Governo e oposição (sobretudo o Partido Socialista) agem como se não tivessem de possuir um único pensamento político. Assim, continuamos sem saber o que...

Fim do sigilo bancário

Tudo indica que o sigilo bancário vai ter um fim. O Partido Socialista e o Bloco de Esquerda chegaram a um entendimento sobre a matéria em causa - o Bloco de Esquerda faz a proposta e o PS dá a sua aprovação para o levantamento do sigilo bancário. A iniciativa é louvável e coaduna-se com aquilo que o Bloco de Esquerda tem vindo a propor com o objectivo de se agilizar os mecanismos para um combate eficaz ao crime económico e ao crime de evasão fiscal. Este entendimento entre o Bloco de Esquerda e o Partido Socialista também serve na perfeição os intentos do partido do Governo. Assim, o PS mostra a sua determinação no combate à corrupção e ao crime económico e, por outro lado, aproxima-se novamente do Bloco de Esquerda. Com efeito, a medida, apesar de ser tardia, é amplamente aplaudida e é vista como um passo certo no combate à corrupção, em particular quando a actualidade é fortemente marcada por suspeições e por casos de corrupção. De igual forma, as perspectivas do PS conseguir uma ma...

Outras verdades

 Ontem realizou-se o pior debate da história das presidenciais americanas. Trump, boçal, mentiroso, arrogante e malcriado, versus Biden que, apesar de ter garantido tudo fazer  para não cair na esparrela do seu adversário, acabou mesmo por cair, apelidando-o de mentiroso e palhaço.  Importa reconhecer a incomensurável dificuldade que qualquer ser humano sentiria se tivesse que debater com uma criança sem qualquer educação. Biden não foi excepção. Trump procurou impingir todo o género de mentiras, que aos ouvidos dos seus apoiante soam a outras verdades, verdades superiores à própria verdade. Trump mentiu profusamente, até sobre os seus pretensos apoios. O sheriff de Portland, por exemplo, já veio desmentir que alguma vez tivesse expressado apoio ao ainda Presidente americano. Diz-se por aí que Trump arrastou Biden para a lama. Eu tenho uma leitura diferente: Trump tem vindo a arrastar os EUA para lama. Os EUA, nestes árduos anos, tem vindo a perder influência e reputação ...