Avançar para o conteúdo principal

Processo Casa Pia

Falar deste processo, como de outros dos quais não se conhece ainda uma decisão do Tribunal, levanta vários problemas, sobretudo relacionados com a presunção de inocência dos arguidos. Como é sobejamento conhecido, este processo é o grande teste à Justiça portuguesa. Justiça essa que não há forma de conhecer melhores dias. Depois de tantos falhanços, a convicção generalizada é de que o processo Casa Pia será mais um falhanço a engrossar uma lista que já vai longa.
Por outro lado, a questão incontornável das vítimas - pode-se ter dúvidas em relação a muita coisa, mas há uma admissão que aqueles jovens foram vítimas de abusos sexuais, o que justificou a atribuição de indeminizações às vítimas. Se a Justiça falhar, isso constitui nova tormenta para quem teve fé na Justiça e viu todas as expectativas serem goradas. Não se exclui a possibilidade de novos traumas emergirem de um falhanço da Justiça.
E finalmente, há um outro ângulo que não pode ser analisado de forma dispicienda e que se prende com a própria imagem da Casa Pia e de instituições cuja principal função é salvaguardar o bem-estar dos que se encontram em situação de maior fragilidade. A imagem da instituição em causa foi severamente afectada pelo escândalo. Até hoje há dificuldades em perceber como é que foi possível que todas as situações atrozes que hoje são conhecidas tivessem sido envoltas num manto de silêncio, durante décadas. Hoje, a Casa Pia tem um longo caminho a percorrer no sentido de expurgar o fantasma da pedofilia. Certamente que se trata de um processo díficil, mas sem dúvida possível.
Em suma, o processo Casa Pia, ou melhor, o desfecho do mesmo, terá consequências a vários níveis. O país aguarda já um pouco impaciente uma conclusão. A descrença que muitos cidadãos têm na Justiça poderá mesmo sair reforçada com um dos casos que mais abalou o país, não deixando de fora alguma classe política que se refugiou, amiúde, nas famigeradas teorias da cabala.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Saídas para os impasses

As últimas semanas têm sido pródigas na divulgação de escândalos envolvendo o primeiro-ministro e as suas obrigações com a Segurança Social e com o Fisco. Percebe-se que os princípios éticos associados ao desempenho de funções políticas são absolutamente ignorados por quem está à frente dos destinos do país - não esquecer que o primeiro-ministro já havia sido deputado antes de se esquecer de pagar as contribuições à Segurança Social. A demissão está fora de questão até porque o afastamento do cargo implica, por parte do próprio, um conjunto de princípios que pessoas como Passos Coelho simplesmente não possuem. A oposição, a poucos meses de eleições, parece preferir que o primeiro-ministro coza em lume brando. E com tanta trapalhada insistimos em não discutir possíveis caminhos e saídas para os impasses com que o país se depara. Governo e oposição (sobretudo o Partido Socialista) agem como se não tivessem de possuir um único pensamento político. Assim, continuamos sem saber o que...

Fim do sigilo bancário

Tudo indica que o sigilo bancário vai ter um fim. O Partido Socialista e o Bloco de Esquerda chegaram a um entendimento sobre a matéria em causa - o Bloco de Esquerda faz a proposta e o PS dá a sua aprovação para o levantamento do sigilo bancário. A iniciativa é louvável e coaduna-se com aquilo que o Bloco de Esquerda tem vindo a propor com o objectivo de se agilizar os mecanismos para um combate eficaz ao crime económico e ao crime de evasão fiscal. Este entendimento entre o Bloco de Esquerda e o Partido Socialista também serve na perfeição os intentos do partido do Governo. Assim, o PS mostra a sua determinação no combate à corrupção e ao crime económico e, por outro lado, aproxima-se novamente do Bloco de Esquerda. Com efeito, a medida, apesar de ser tardia, é amplamente aplaudida e é vista como um passo certo no combate à corrupção, em particular quando a actualidade é fortemente marcada por suspeições e por casos de corrupção. De igual forma, as perspectivas do PS conseguir uma ma...

Outras verdades

 Ontem realizou-se o pior debate da história das presidenciais americanas. Trump, boçal, mentiroso, arrogante e malcriado, versus Biden que, apesar de ter garantido tudo fazer  para não cair na esparrela do seu adversário, acabou mesmo por cair, apelidando-o de mentiroso e palhaço.  Importa reconhecer a incomensurável dificuldade que qualquer ser humano sentiria se tivesse que debater com uma criança sem qualquer educação. Biden não foi excepção. Trump procurou impingir todo o género de mentiras, que aos ouvidos dos seus apoiante soam a outras verdades, verdades superiores à própria verdade. Trump mentiu profusamente, até sobre os seus pretensos apoios. O sheriff de Portland, por exemplo, já veio desmentir que alguma vez tivesse expressado apoio ao ainda Presidente americano. Diz-se por aí que Trump arrastou Biden para a lama. Eu tenho uma leitura diferente: Trump tem vindo a arrastar os EUA para lama. Os EUA, nestes árduos anos, tem vindo a perder influência e reputação ...