Avançar para o conteúdo principal

A crise financeira e as consequências para Portugal

O primeiro-ministro tem manifestado um relativo optimismo que, até certo ponto, é saudável. Contudo, há um pouco a tendência para deixar a ideia de que Portugal vai sair quase incólume a esta crise, e se por um lado, parece que o sistema financeiro português é mais sólido do que muitos outros e, por isso mesmo, poderá não sair muito prejudicado por esta crise; por outro, não é menos verdade que uma crise cujas dimensões nem sequer são bem visíveis, afecta a economia no seu conjunto. A dúvida a existir deve incidir sobre o impacto e a sua dimensão para a economia do país.
Além do mais, Portugal que tem maiores dificuldades em recuperar, resultado da existência de deficiências estruturais que continuam a condicionar a capacidade que o país tem de atrair e consolidar projectos de investimento. Continuamos a ser uma população activa pouco e mal formada; continuamos a ter uma carga fiscal que está longe de ser das mais atractivas da UE; os tribunais afundam-se na morosidade e na ineficiência; a Administração Pública é pesada e funciona manifestamente mal, e o seu habitat natural é o infindável mundo da burocracia.
Importa, porém, fazer o seguinte reparo: o actual Executivo conseguiu reduzir consideravelmente o défice, permitindo assim que o país consiga ter mais argumentos para fazer face à crise financeira. Apesar do défice ter sido reduzido muito graças ao aumento extraordinário de receitas (leia-se: aumento de impostos), a verdade é que essa consolidação das contas públicas contribui decisivamente para o crescimento económico, para o emprego e para a captação de investimento.
No que diz respeito à crise financeira e aos seus impactos para o nosso país, refira-se a inevitabilidade desses impactos, tendo em conta a nossa dependência, em matéria de crédito, em relação ao exterior. Ora, os bancos portugueses, para fazerem face à procura interna, endividam-se externamente e, nas actuais circunstâncias, esse endividamento poderá ter consequências menos positivas. Este parece ser, de facto, o grande problema dos bancos portugueses.
Similarmente, a actual crise terá consequências directas na economia portuguesa, muito devido à dificuldade de financiamento. Com efeito, havendo maiores dificuldades no acesso ao crédito, haverá menos investimento e, consequentemente, menos emprego. Vender-se-á menos produtos dependentes do crédito bancário, e isso terá impacto, particularmente, no imobiliário. O aumento das taxas de juros poderá impulsionar o aumento do desemprego e das falências. Provavelmente, poderá registar-se uma diminuição das exportações, com todas as consequências inerentes.
Todavia, o petróleo tem vindo a baixar, pelas piores razões como se percebe, mas ainda assim os efeitos positivos, na actual conjuntura, são significativos. Acresce a isso a queda no preço das matérias-primas e queda da taxa de inflação, e consegue-se vislumbrar no horizonte algumas boas notícias que poderão determinar uma redução na taxa directora. No entanto, Portugal sofrerá as consequências da falta de liquidez no sistema financeiro e da desconfiança que por lá reina – o país está endividado, o que significa que tem mais dificuldades em suportar um aumento das taxas de juro; o país é muito dependente do crédito que, na conjuntura actual, escasseia.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Saídas para os impasses

As últimas semanas têm sido pródigas na divulgação de escândalos envolvendo o primeiro-ministro e as suas obrigações com a Segurança Social e com o Fisco. Percebe-se que os princípios éticos associados ao desempenho de funções políticas são absolutamente ignorados por quem está à frente dos destinos do país - não esquecer que o primeiro-ministro já havia sido deputado antes de se esquecer de pagar as contribuições à Segurança Social. A demissão está fora de questão até porque o afastamento do cargo implica, por parte do próprio, um conjunto de princípios que pessoas como Passos Coelho simplesmente não possuem. A oposição, a poucos meses de eleições, parece preferir que o primeiro-ministro coza em lume brando. E com tanta trapalhada insistimos em não discutir possíveis caminhos e saídas para os impasses com que o país se depara. Governo e oposição (sobretudo o Partido Socialista) agem como se não tivessem de possuir um único pensamento político. Assim, continuamos sem saber o que...

Fim do sigilo bancário

Tudo indica que o sigilo bancário vai ter um fim. O Partido Socialista e o Bloco de Esquerda chegaram a um entendimento sobre a matéria em causa - o Bloco de Esquerda faz a proposta e o PS dá a sua aprovação para o levantamento do sigilo bancário. A iniciativa é louvável e coaduna-se com aquilo que o Bloco de Esquerda tem vindo a propor com o objectivo de se agilizar os mecanismos para um combate eficaz ao crime económico e ao crime de evasão fiscal. Este entendimento entre o Bloco de Esquerda e o Partido Socialista também serve na perfeição os intentos do partido do Governo. Assim, o PS mostra a sua determinação no combate à corrupção e ao crime económico e, por outro lado, aproxima-se novamente do Bloco de Esquerda. Com efeito, a medida, apesar de ser tardia, é amplamente aplaudida e é vista como um passo certo no combate à corrupção, em particular quando a actualidade é fortemente marcada por suspeições e por casos de corrupção. De igual forma, as perspectivas do PS conseguir uma ma...

Outras verdades

 Ontem realizou-se o pior debate da história das presidenciais americanas. Trump, boçal, mentiroso, arrogante e malcriado, versus Biden que, apesar de ter garantido tudo fazer  para não cair na esparrela do seu adversário, acabou mesmo por cair, apelidando-o de mentiroso e palhaço.  Importa reconhecer a incomensurável dificuldade que qualquer ser humano sentiria se tivesse que debater com uma criança sem qualquer educação. Biden não foi excepção. Trump procurou impingir todo o género de mentiras, que aos ouvidos dos seus apoiante soam a outras verdades, verdades superiores à própria verdade. Trump mentiu profusamente, até sobre os seus pretensos apoios. O sheriff de Portland, por exemplo, já veio desmentir que alguma vez tivesse expressado apoio ao ainda Presidente americano. Diz-se por aí que Trump arrastou Biden para a lama. Eu tenho uma leitura diferente: Trump tem vindo a arrastar os EUA para lama. Os EUA, nestes árduos anos, tem vindo a perder influência e reputação ...