Avançar para o conteúdo principal

Dia de eleições

O povo angolano vai às urnas votar nas legislativas, o clima será muito provavelmente de normalidade, embora todos os dados apontem para uma mais do que provável vitória do partido de José Eduardo dos Santos, o MPLA. Estas eleições poderiam representar uma oportunidade de mudança para Angola, o que parece desde já inverosímil. Apesar de tudo, a ausência de conflitos é já um bom presságio para o futuro do país.
O MPLA tem tudo para vencer, a começar numa máquina partidária incomparável e a culminar no poder inequívoco sobre os principais órgãos de comunicação social; a título de exemplo, o principal canal de televisão angolano tem feito uma cobertura alargada da campanha do MPLA, enquanto a cobertura é mínima no que diz respeito à campanha do principal partido da oposição – a UNITA.
Angola tem vindo a desperdiçar a oportunidade criada com o fim de uma guerra que devastou o país; Angola acabou por se render ao temperamento difícil de um Presidente que se perpetua no poder, enquanto o país se afunda na corrupção e na mais gritante desigualdade social. Estas eleições e as do próximo ano poderiam ser o princípio de mudança para o país. É claro que essa mudança só será possível se as eleições forem transparentes e decorrem dentro das regras democráticas. Seja como for, qualquer mudança de fundo parece ser adiada.
Note-se que o regime de José Eduardo dos Santos continua a ter manifestas dificuldades em viver com a liberdade de imprensa, mesmo fora do seu país. Ora, a proibição imposta à SIC e ao grupo Impresa de fazer a cobertura das eleições legislativas – uma espécie de vingança depois das polémicas declarações de Bob Geldof e dos comentários subsequentes em programas da SIC – é mais um exemplo da difícil convivência do Presidente angolano com a liberdade de expressão e de imprensa.
Este é, de resto, mais um sinal de que a tal mudança que o país tanto necessita ainda parece ser uma miragem, e dificilmente se concretizará enquanto José Eduardo dos Santos se mantiver no poder. Não obstante estes maus sinais, o regime vai ter de mudar: vai ser difícil manter inalterável um país rico em recursos naturais com duas realidades cada vez mais distantes uma da outra. Resta saber se a mudança vai ser imposta pelo povo angolano, através de eleições livres e democráticas. Parece que para já é essa é uma hipótese longínqua.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Mais uma indecência a somar-se a tantas outras

 O New York Times revelou (parte) o que Donald Trump havia escondido: o seu registo fiscal. E as revelações apenas surpreendem pelas quantias irrisórias de impostos que Trump pagou e os anos, longos anos, em que não pagou um dólar que fosse. Recorde-se que todos os presidentes americanos haviam revelado as suas declarações, apenas Trump tudo fizera para as manter sem segredo. Agora percebe-se porquê. Em 2016, ano da sua eleição, o ainda Presidente americano pagou 750 dólares em impostos, depois de declarar um manancial de prejuízos, estratégia adoptada nos tais dez anos, em quinze, em que nem sequer pagou impostos.  Ora, o homem que sempre se vangloriou do seu sucesso como empresário das duas, uma: ou não teve qualquer espécie de sucesso, apesar do estilo de vida luxuoso; ou simplesmente esta foi mais uma mentira indecente, ou um conjunto de mentiras indecentes. Seja como for, cai mais uma mancha na presidência de Donald Trump que, mesmo somando indecências atrás de indecências, vai fa

Outras verdades

 Ontem realizou-se o pior debate da história das presidenciais americanas. Trump, boçal, mentiroso, arrogante e malcriado, versus Biden que, apesar de ter garantido tudo fazer  para não cair na esparrela do seu adversário, acabou mesmo por cair, apelidando-o de mentiroso e palhaço.  Importa reconhecer a incomensurável dificuldade que qualquer ser humano sentiria se tivesse que debater com uma criança sem qualquer educação. Biden não foi excepção. Trump procurou impingir todo o género de mentiras, que aos ouvidos dos seus apoiante soam a outras verdades, verdades superiores à própria verdade. Trump mentiu profusamente, até sobre os seus pretensos apoios. O sheriff de Portland, por exemplo, já veio desmentir que alguma vez tivesse expressado apoio ao ainda Presidente americano. Diz-se por aí que Trump arrastou Biden para a lama. Eu tenho uma leitura diferente: Trump tem vindo a arrastar os EUA para lama. Os EUA, nestes árduos anos, tem vindo a perder influência e reputação e Trump é o ma

Normalização do fascismo

O PSD Açores, e naturalmente com a aprovação de Rui Rio, achou por bem coligar-se com o "Chega". Outros partidos como o Iniciativa Liberal (IL) e o CDS fizeram as mesmas escolhas, ainda que o primeiro corra atrás do prejuízo, sobretudo agora que a pandemia teve o condão de mostrar a importância do Estado Social que o IL tão avidamente pretende desmantelar, e o segundo se tenha transformado numa absoluta irrelevância. Porém, é Rui Rio, o mesmo que tem cultivado aquela imagem de moderado, que considera que o "Chega" nos Açores é diferente do "Chega" nacional. Rui Rio, o moderado, considera mesmo que algumas medidas do "Chega" como a estafada redução do Rendimento Social de Inserção é um excelente medida. Alheio às características singulares da região, Rui Rio pensa que com a ajuda do "Chega" vai tirar empregos da cartola para combater a subsidiodependência de que tanto fala, justificando deste modo a normalização que está a fazer de um pa