Avançar para o conteúdo principal

Mês de Agosto

O mês de Agosto é sinónimo de férias, mas é também sinónimo de abrandamento substancial da seriedade e da solenidade que caracteriza o resto do ano. Talvez essa solenidade seja mais visível no mundo da política e dos políticos. Mas o mês de Agosto não é mais do que o zénite da silly season que, na verdade, começa muito antes desse mês, havendo mesmo quem advogue que a silly season não tem principio nem fim, perpassa o ano inteiro.
O último momento digno de registo no que toca às actividades políticas foi protagonizado pelo Presidente da República. Mas nem esse último momento consegue contrariar o espírito do mês – afinal, falou-se em demasia da forma como o Presidente abordou o assunto, e raras vezes se discutiu o Estatuto Político-Administrativo dos Açores; nem tão-pouco se referiu o facto dos deputados terem aprovado, no Parlamento, o mesmo estatuto por unanimidade. Certamente que estes assuntos ficarão para Setembro
Entretanto, recomenda-se o aproveitamento das férias que por agora começam, apesar de não ser exactamente para todos. Existe, porém, um problema: Setembro será inevitavelmente um mês oneroso para o país. Regressa assim a tal solenidade, mas desta vez com um travo a incapacidade de dar qualquer volta aos problemas.
Com efeito, o primeiro-ministro e os restantes membros do Governo fingem saber o que estão a fazer, mas no fundo têm plena consciência de que não fizeram o suficiente durante estes quase três anos e que agora já é, de certa forma, tarde. Porquê? Porque toda a acção política do Governo está condicionada pela proximidade de eleições. Todavia o Governo do fingimento depara-se com uma séria contrariedade: o resto do país sente demasiado uma crise que vem de fora, mas que poderia ser debelada de forma mais eficiente se o país estivesse estruturalmente preparado para isso.
Finalmente, duas palavras para caracterizar a oposição: incapacidade completa. Uns estão condicionados por anacronismos ideológicos e mostram a sua total incapacidade de apresentar alternativas viáveis; outros esgotam-se na sua própria nulidade, assistindo impotentes ao decréscimo nas intenções de voto; e outros ainda estão enclausurados numa redoma de seriedade que mais não é do que uma forma aparentemente sofisticada de esconder o vazio de ideias. Por agora, tudo é mais ou menos esquecido. Infelizmente, Setembro tem o condão de nos levar de volta para a realidade.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Mais uma indecência a somar-se a tantas outras

 O New York Times revelou (parte) o que Donald Trump havia escondido: o seu registo fiscal. E as revelações apenas surpreendem pelas quantias irrisórias de impostos que Trump pagou e os anos, longos anos, em que não pagou um dólar que fosse. Recorde-se que todos os presidentes americanos haviam revelado as suas declarações, apenas Trump tudo fizera para as manter sem segredo. Agora percebe-se porquê. Em 2016, ano da sua eleição, o ainda Presidente americano pagou 750 dólares em impostos, depois de declarar um manancial de prejuízos, estratégia adoptada nos tais dez anos, em quinze, em que nem sequer pagou impostos.  Ora, o homem que sempre se vangloriou do seu sucesso como empresário das duas, uma: ou não teve qualquer espécie de sucesso, apesar do estilo de vida luxuoso; ou simplesmente esta foi mais uma mentira indecente, ou um conjunto de mentiras indecentes. Seja como for, cai mais uma mancha na presidência de Donald Trump que, mesmo somando indecências atrás de indecências, vai fa

Outras verdades

 Ontem realizou-se o pior debate da história das presidenciais americanas. Trump, boçal, mentiroso, arrogante e malcriado, versus Biden que, apesar de ter garantido tudo fazer  para não cair na esparrela do seu adversário, acabou mesmo por cair, apelidando-o de mentiroso e palhaço.  Importa reconhecer a incomensurável dificuldade que qualquer ser humano sentiria se tivesse que debater com uma criança sem qualquer educação. Biden não foi excepção. Trump procurou impingir todo o género de mentiras, que aos ouvidos dos seus apoiante soam a outras verdades, verdades superiores à própria verdade. Trump mentiu profusamente, até sobre os seus pretensos apoios. O sheriff de Portland, por exemplo, já veio desmentir que alguma vez tivesse expressado apoio ao ainda Presidente americano. Diz-se por aí que Trump arrastou Biden para a lama. Eu tenho uma leitura diferente: Trump tem vindo a arrastar os EUA para lama. Os EUA, nestes árduos anos, tem vindo a perder influência e reputação e Trump é o ma

Normalização do fascismo

O PSD Açores, e naturalmente com a aprovação de Rui Rio, achou por bem coligar-se com o "Chega". Outros partidos como o Iniciativa Liberal (IL) e o CDS fizeram as mesmas escolhas, ainda que o primeiro corra atrás do prejuízo, sobretudo agora que a pandemia teve o condão de mostrar a importância do Estado Social que o IL tão avidamente pretende desmantelar, e o segundo se tenha transformado numa absoluta irrelevância. Porém, é Rui Rio, o mesmo que tem cultivado aquela imagem de moderado, que considera que o "Chega" nos Açores é diferente do "Chega" nacional. Rui Rio, o moderado, considera mesmo que algumas medidas do "Chega" como a estafada redução do Rendimento Social de Inserção é um excelente medida. Alheio às características singulares da região, Rui Rio pensa que com a ajuda do "Chega" vai tirar empregos da cartola para combater a subsidiodependência de que tanto fala, justificando deste modo a normalização que está a fazer de um pa