Avançar para o conteúdo principal

China, Jogos Olímpicos e Direitos Humanos

A pouco menos de 10 dias do início dos Jogos Olímpicos, a Amnistia Internacional vem alertar para o facto da China continuar a desrespeitar os direitos humanos, não obstante o compromisso de alterar a grave situação de ostensivo desrespeito dos direitos humanos.
Em primeiro lugar, a China não respeitou um compromisso, beneficiando do estado de graça concedido pela comunidade internacional, cujos líderes lidam bem com esse desrespeito. É inadmissível que o regime chinês continue a utilizar todo o tipo de artifícios com o claro objectivo de impedir a liberdade de impressa e de expressão. Os dissidentes políticos continuam presos, a liberdade de expressão cerceada como forma de manter o regime inexpugnável.
Em segundo lugar, a forma como a China actua no plano internacional padece de uma análise mais clara e mais ponderada. Senão vejamos: a acção do regime chinês em África caracteriza-se pela mais ignominiosa forma de salvaguardar os interesses do regime chinês, adoptando uma postura de desprezo pelos direitos humanos. Interessa apenas o petróleo de que a China tanto necessita para garantir os elevados níveis de crescimento económico.
Se por um lado a associação do regime chinês a regimes corruptos e autocráticos do continente africano é grave, e os sucessivos bloqueios, encabeçados pela China, no âmbito das Nações Unidas a propostas que visam melhorar a vida de muitas populações é de difícil compreensão; por outro, a acção da China no Sudão caracteriza-se pela torpeza. Mesmo depois de a comunidade internacional ter imposto sanções ao regime de al-Bashir e de ter imposto um embargo ao armamento, a China continua a patrocinar um regime, com dinheiro e armamento em troca de petróleo, que é acusado internacionalmente de crimes de genocídio.
O comportamento insidioso da China, dentro e fora de portas, contribui inexoravelmente para o enfraquecimento do espírito olímpico. Aliás, a China contraria largamente os fundamentos do espírito olímpico. Há, no entanto, quem advogue que a organização dos Jogos Olímpicos por parte da China poderá ser decisivo para o futuro do país. Esperar-se-ia, pois, que o regime chinês abandonasse paulatinamente o contínuo desrespeito pelos direitos humanos. Lamentavelmente, parece-me pouco plausível que esse cenário venha a concretizar-se.
Em contrapartida, os Jogos Olímpicos servirão apenas para a China mostrar a sua modernização, em particular no que diz respeito a infra-estruturas e no que diz respeito à capacidade de organização de um evento desta natureza. Mas essa modernização permite esconder um contexto em que vigora o pragmatismo que passa por cima dos direitos humanos, quer no contexto chinês, quer no contexto internacional onde a China se imiscua. Assim, os Jogos Olímpicos estão manchados de forma indelével pelo atropelo aos direitos humanos e, indissociavelmente, ao espírito olímpico. Não passa, portanto, de uma farsa alimentada pelo apoio incondicional a um regime insidioso que conta com a complacência da comunidade internacional que mostra assim a sua hipocrisia.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Mais uma indecência a somar-se a tantas outras

 O New York Times revelou (parte) o que Donald Trump havia escondido: o seu registo fiscal. E as revelações apenas surpreendem pelas quantias irrisórias de impostos que Trump pagou e os anos, longos anos, em que não pagou um dólar que fosse. Recorde-se que todos os presidentes americanos haviam revelado as suas declarações, apenas Trump tudo fizera para as manter sem segredo. Agora percebe-se porquê. Em 2016, ano da sua eleição, o ainda Presidente americano pagou 750 dólares em impostos, depois de declarar um manancial de prejuízos, estratégia adoptada nos tais dez anos, em quinze, em que nem sequer pagou impostos.  Ora, o homem que sempre se vangloriou do seu sucesso como empresário das duas, uma: ou não teve qualquer espécie de sucesso, apesar do estilo de vida luxuoso; ou simplesmente esta foi mais uma mentira indecente, ou um conjunto de mentiras indecentes. Seja como for, cai mais uma mancha na presidência de Donald Trump que, mesmo somando indecências atrás de indecências, vai fa

Outras verdades

 Ontem realizou-se o pior debate da história das presidenciais americanas. Trump, boçal, mentiroso, arrogante e malcriado, versus Biden que, apesar de ter garantido tudo fazer  para não cair na esparrela do seu adversário, acabou mesmo por cair, apelidando-o de mentiroso e palhaço.  Importa reconhecer a incomensurável dificuldade que qualquer ser humano sentiria se tivesse que debater com uma criança sem qualquer educação. Biden não foi excepção. Trump procurou impingir todo o género de mentiras, que aos ouvidos dos seus apoiante soam a outras verdades, verdades superiores à própria verdade. Trump mentiu profusamente, até sobre os seus pretensos apoios. O sheriff de Portland, por exemplo, já veio desmentir que alguma vez tivesse expressado apoio ao ainda Presidente americano. Diz-se por aí que Trump arrastou Biden para a lama. Eu tenho uma leitura diferente: Trump tem vindo a arrastar os EUA para lama. Os EUA, nestes árduos anos, tem vindo a perder influência e reputação e Trump é o ma

Normalização do fascismo

O PSD Açores, e naturalmente com a aprovação de Rui Rio, achou por bem coligar-se com o "Chega". Outros partidos como o Iniciativa Liberal (IL) e o CDS fizeram as mesmas escolhas, ainda que o primeiro corra atrás do prejuízo, sobretudo agora que a pandemia teve o condão de mostrar a importância do Estado Social que o IL tão avidamente pretende desmantelar, e o segundo se tenha transformado numa absoluta irrelevância. Porém, é Rui Rio, o mesmo que tem cultivado aquela imagem de moderado, que considera que o "Chega" nos Açores é diferente do "Chega" nacional. Rui Rio, o moderado, considera mesmo que algumas medidas do "Chega" como a estafada redução do Rendimento Social de Inserção é um excelente medida. Alheio às características singulares da região, Rui Rio pensa que com a ajuda do "Chega" vai tirar empregos da cartola para combater a subsidiodependência de que tanto fala, justificando deste modo a normalização que está a fazer de um pa