Avançar para o conteúdo principal

Relatório da SEDES

A associação para o desenvolvimento económico e social (SEDES) veiculou, em vésperas de debate sobre o Estado da Nação, as conclusões do seu relatório. Recorde-se que, em Fevereiro, a SEDES já tinha divulgado um relatório cujas principais conclusões diziam respeito ao clima de crispação que se vivia no país. Este relatório aponta noutro sentido – o abrandamento ou abandono das reformas que o Governo tinha proposto executar, em virtude das pressões do calendário eleitoral.
E se por um lado é verdade que a SEDES não traz nada de particularmente novo à discussão, por outro, é também uma realidade que o Governo mudou de rumo, como já se referiu neste mesmo blogue. Em traços gerais, o Governo e, em particular, o primeiro-ministro começou por controlar os seus habituais episódios de irascibilidade e intransigência, substituindo-os por uma postura de maior tolerância, abertura e até compreensão. Reeleição a quanto obrigas!
Em todo o caso, se a mudança tivesse sido apenas de estilo, talvez até agradecêssemos. Todavia, as mudanças estruturais que o país necessita ficaram pelo caminho. O caso mais evidente é o da Saúde. Saiu o ministro, mudou-se o rumo que já estava traçado.
Mas há mais exemplos, e a SEDES faz questão de sublinhar a área da Saúde, mas também da Educação. O relatório, ou pelo menos a parte que foi divulgada pela comunicação social, faz referência ao abandono do ímpeto reformista da ministra, sublinhando a “perda de fôlego” de Maria de Lurdes Rodrigues. A SEDES acrescenta ainda uma crítica à “descredibilização do sistema”, à “forma de organização e elaboração dos exames que, desde há muito, não segue padrões técnicos internacionais”. O relatório da SEDES faz ainda referência “às atitudes de complacência e rebaixamento dos padrões de exigência” como sendo a melhor forma de tornar os pobres em ainda mais pobres.
No cômputo geral, a SEDES critica o abrandamento genérico das reformas previstas nesta legislatura, realçando os momentos menos felizes do Executivo de José Sócrates quando afirmou o fim da crise orçamental, as cedências a grupos de pressão, a redução de impostos e a aposta em grandes investimentos públicos
De um modo geral, as críticas da SEDES fazem todo o sentido, não constituindo, contudo, uma revelação. Há quem critique a utilidade destes relatórios e quem se insurja contra a divulgação dos mesmos em vésperas do debate parlamentar sobre o estado da Nação. Mas não podemos ignorar a importância de relatórios desta natureza, apesar do carácter extemporâneo dos mesmos, para o enriquecimento e aprofundamento do debate político.
Em conclusão, referir apenas a forma como o relatório alerta para o período de estabilidade do PSD como forma de este partido estar a caminhar no sentido de se constituir como alternativa credível ao Governo. Se esta é uma análise certeira da SEDES, é o que vamos ver.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Saídas para os impasses

As últimas semanas têm sido pródigas na divulgação de escândalos envolvendo o primeiro-ministro e as suas obrigações com a Segurança Social e com o Fisco. Percebe-se que os princípios éticos associados ao desempenho de funções políticas são absolutamente ignorados por quem está à frente dos destinos do país - não esquecer que o primeiro-ministro já havia sido deputado antes de se esquecer de pagar as contribuições à Segurança Social. A demissão está fora de questão até porque o afastamento do cargo implica, por parte do próprio, um conjunto de princípios que pessoas como Passos Coelho simplesmente não possuem. A oposição, a poucos meses de eleições, parece preferir que o primeiro-ministro coza em lume brando. E com tanta trapalhada insistimos em não discutir possíveis caminhos e saídas para os impasses com que o país se depara. Governo e oposição (sobretudo o Partido Socialista) agem como se não tivessem de possuir um único pensamento político. Assim, continuamos sem saber o que...

Fim do sigilo bancário

Tudo indica que o sigilo bancário vai ter um fim. O Partido Socialista e o Bloco de Esquerda chegaram a um entendimento sobre a matéria em causa - o Bloco de Esquerda faz a proposta e o PS dá a sua aprovação para o levantamento do sigilo bancário. A iniciativa é louvável e coaduna-se com aquilo que o Bloco de Esquerda tem vindo a propor com o objectivo de se agilizar os mecanismos para um combate eficaz ao crime económico e ao crime de evasão fiscal. Este entendimento entre o Bloco de Esquerda e o Partido Socialista também serve na perfeição os intentos do partido do Governo. Assim, o PS mostra a sua determinação no combate à corrupção e ao crime económico e, por outro lado, aproxima-se novamente do Bloco de Esquerda. Com efeito, a medida, apesar de ser tardia, é amplamente aplaudida e é vista como um passo certo no combate à corrupção, em particular quando a actualidade é fortemente marcada por suspeições e por casos de corrupção. De igual forma, as perspectivas do PS conseguir uma ma...

Outras verdades

 Ontem realizou-se o pior debate da história das presidenciais americanas. Trump, boçal, mentiroso, arrogante e malcriado, versus Biden que, apesar de ter garantido tudo fazer  para não cair na esparrela do seu adversário, acabou mesmo por cair, apelidando-o de mentiroso e palhaço.  Importa reconhecer a incomensurável dificuldade que qualquer ser humano sentiria se tivesse que debater com uma criança sem qualquer educação. Biden não foi excepção. Trump procurou impingir todo o género de mentiras, que aos ouvidos dos seus apoiante soam a outras verdades, verdades superiores à própria verdade. Trump mentiu profusamente, até sobre os seus pretensos apoios. O sheriff de Portland, por exemplo, já veio desmentir que alguma vez tivesse expressado apoio ao ainda Presidente americano. Diz-se por aí que Trump arrastou Biden para a lama. Eu tenho uma leitura diferente: Trump tem vindo a arrastar os EUA para lama. Os EUA, nestes árduos anos, tem vindo a perder influência e reputação ...