Avançar para o conteúdo principal

É preciso que seja feita justiça

Radovan Karadzic foi preso na Sérvia. Trabalhava disfarçado num consultório. Foi preso o homem mais procurado da Europa, um dos responsáveis pelas maiores atrocidades cometidas na Europa desde a Segunda Guerra Mundial. Aguarda-se a sua extradição para a Holanda, onde será julgado, em Haia, no Tribunal Penal Internacional.
A Sérvia cumpre assim mais um requisito na senda de entrar na União Europeia. Recorde-se que a UE tem vindo a exigir à Sérvia a detenção de criminosos de guerra. Karadzic foi responsável pelo maior massacre na Europa, em Srebrenica e responsável também pelo cerco a Sarajevo. Falta a detenção do chefe militar Ratko Mladic.
Não obstante as suspeitas de que esta detenção não terá sido inocente e que poderia ter ocorrido há mais tempo, a verdade é que a detenção de Karadzic é uma excelente notícia para as vítimas dos seus crimes. Espera-se agora que seja feita justiça.
Se fizermos um exercício no sentido de recordar as atrocidades cometidas por Karadzic, não conseguimos evitar relembrar os acontecimentos mais abjectos: assassinatos, violações em massa, campos de concentração, tortura, genocídio. Por todas estas razões o nacionalista Radovan Karadzic merece um castigo exemplar, que ficará ainda assim longe daquilo que lhe é imputado.
Nem mesmo a detenção de um criminoso de guerra consegue ser consensual. Há quem considere vital relembrar que ocorreram outras atrocidades nos Balcãs, cuja responsabilidade não terá sido dos Sérvios; outros preferem reiterar as suas habituais manifestações de antiamericanismo, aproveitando a oportunidade para criticar a política externa americana, mesmo que essas críticas sejam desprovidas de fundamento. O que interessará é sublinhar que o TPI também deveria deter o Presidente norte-americano. Compara-se o incomparável, mas serve os intentos de quem não se conforma com a posição hegemónica dos EUA, em detrimento do falhanço de ideologias caducas.
Radovan Karadzic, líder dos Sérvios Bósnios, cujo partido foi apoiado por Milosevic, encetou um combate contra Bósnios e Croatas na Bósnia. Recorreu a atrocidades inimagináveis para vencer essa luta; utilizou uma retórica inflamada de nacionalismo para legitimar essa luta; deixou um rasto de destruição e morte que fez lembrar, salvaguardando as devidas distâncias, os crimes praticados pelo regime nazi durante a Segunda Guerra Mundial.
Por todas estas razões, exige-se justiça em Haia. Essa justiça é importante para a Sérvia que detém um assassino (faltando ainda outros) e o entrega à justiça internacional; é importante para a Europa que mostra assim que quem pratica crimes hediondos não fica impune; e é essencial para as vítimas e familiares das vítimas. E embora o Mundo esteja repleto de assassinos que deveriam fazer companhia a Karadzic, em Haia, a detenção do ex-líder Sérvio da Bósnia é um importante passo para a justiça.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Normalização do fascismo

O PSD Açores, e naturalmente com a aprovação de Rui Rio, achou por bem coligar-se com o "Chega". Outros partidos como o Iniciativa Liberal (IL) e o CDS fizeram as mesmas escolhas, ainda que o primeiro corra atrás do prejuízo, sobretudo agora que a pandemia teve o condão de mostrar a importância do Estado Social que o IL tão avidamente pretende desmantelar, e o segundo se tenha transformado numa absoluta irrelevância. Porém, é Rui Rio, o mesmo que tem cultivado aquela imagem de moderado, que considera que o "Chega" nos Açores é diferente do "Chega" nacional. Rui Rio, o moderado, considera mesmo que algumas medidas do "Chega" como a estafada redução do Rendimento Social de Inserção é um excelente medida. Alheio às características singulares da região, Rui Rio pensa que com a ajuda do "Chega" vai tirar empregos da cartola para combater a subsidiodependência de que tanto fala, justificando deste modo a normalização que está a fazer de um pa...

Direitos e referendo

CDS e Chega defendem a realização de um referendo para decidir a eutanásia, numa manobra táctica, estes partidos procuram, através da consulta directa, aquilo que, por constar nos programas de quase todos os partidos, acabará por ser uma realidade. O referendo a direitos, sobretudo quando existe uma maioria de partidos a defender uma determinada medida, só faz sentido se for olhada sob o prisma da táctica do desespero. Não admira pois que a própria Igreja, muito presa ao seu ideário medieval, seja ela própria apologista da ideia de um referendo. É que desta feita, e através de uma gestão eficaz do medo e da desinformação, pode ser que se chumbe aquilo que está na calha de vir a ser uma realidade. Para além das diferenças entre os vários partidos, a verdade é que parece existir terreno comum entre PS, BE, PSD (com dúvidas) PAN,IL e Joacine Katar Moreira sobre legislar sobre esta matéria. A ideia do referendo serve apenas a estratégia daqueles que, em minoria, apercebendo-se da su...

Outras verdades

 Ontem realizou-se o pior debate da história das presidenciais americanas. Trump, boçal, mentiroso, arrogante e malcriado, versus Biden que, apesar de ter garantido tudo fazer  para não cair na esparrela do seu adversário, acabou mesmo por cair, apelidando-o de mentiroso e palhaço.  Importa reconhecer a incomensurável dificuldade que qualquer ser humano sentiria se tivesse que debater com uma criança sem qualquer educação. Biden não foi excepção. Trump procurou impingir todo o género de mentiras, que aos ouvidos dos seus apoiante soam a outras verdades, verdades superiores à própria verdade. Trump mentiu profusamente, até sobre os seus pretensos apoios. O sheriff de Portland, por exemplo, já veio desmentir que alguma vez tivesse expressado apoio ao ainda Presidente americano. Diz-se por aí que Trump arrastou Biden para a lama. Eu tenho uma leitura diferente: Trump tem vindo a arrastar os EUA para lama. Os EUA, nestes árduos anos, tem vindo a perder influência e reputação ...