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PCP e FARC

Numa altura em que o mundo manifesta o seu contentamento com a libertação de Ingrid Betancourt e de outros prisioneiros das FARC, o Partido Comunista decidiu não acompanhar esse momento de regozijo. O PCP não condena a força de guerrilha colombiana, o que de facto, não é propriamente uma surpresa. O PCP não tem sido conhecido pelas suas condenações a inúmeras injustiças cometidas um pouco por todo o mundo – a infâmia chinesa relativamente ao Tibete é apenas um exemplo. Na verdade, o PCP insurge-se contra a política externa norte-americana secundada, genericamente, pela União Europeia.
A última festa do Avante - a famigerada festa do partido - contou com o braço político das FARC, e corre a notícia de que este ano, a situação repetir-se-á. Não interessa que a guerrilha colombiana leve a cabo uma luta terrorista, nem tão pouco interessará saber a forma como as FARC se financiam. É claro que a libertação dos reféns, em particular, de Ingrid Betancourt passa ao lado de um partido cego, anacrónico e ideologicamente caduco.
A luta das FARC nunca será legítima enquanto esta organização terrorista insistir em ser isso mesmo – uma organização terrorista. E o PCP, conspurcado por uma cegueira ideológica e maravilhado com a luta de guerrilha, não percebe isso, ou recusa a perceber.
É lamentável que o Partido Comunista emita um comunicado onde manifesta as condolências pela morte dos líderes das FARC e mostre um desprezo inadmissível pela liberdade dos reféns. O comportamento do Partido Comunista é sintomático do pior que existe neste partido – a ideologia sobrepõe-se a tudo o resto, incluindo os mais básicos princípios democráticos.
Seria importante que, em 2009, o PCP fosse também lembrado por estas suas idiossincrasias. O PCP que olhe para o povo francês e aprenda o que é a luta legítima pela liberdade; e essencialmente, os dirigentes do PCP e seus apoiantes que olhem, nem que seja por um momento, para a coragem de Ingrid Betancourt e aprendam alguma coisa com a sua luta pela liberdade e pelos princípios democráticos.
Hoje, o ataque de nervos do PCP, no parlamento, e uma tentativa, chumbada, de congratulação pela libertação de Betancourt, sem mencionar as FARC, mostram a verdadeira natureza do Partido Comunista Português. É possível discutir-se a forma como o governo colombiano desenvolve a sua luta contra este grupo armado, podemos até discutir a qualidade da democracia colombiana; mas o que não podemos ocultar é a índole terrorista de um grupo que recorre e que vive do narcotráfico e de sequestros para implementar, à força, um governo marxista. Por outras palavras, vale tudo para as FARC. Chocante é assistir a partidos políticos europeus a mostrarem a sua solidariedade com assassinos e raptores.

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