Avançar para o conteúdo principal

O silêncio do PSD

A ausência de propostas concretas por parte da líder do maior partido da oposição, tem dado azo a uma discussão sobre a estratégia adoptada pelo PSD. A estratégia parece simples: uma contenção ao nível de propostas alternativas às políticas do Governo; limites na profusão de críticas ao Governo, contrariamente ao que era apanágio das últimas lideranças; simplificação do discurso, associado à necessidade de falar a verdade; manutenção da ideia central de que a oposição deve, em primeiro lugar, fazer uma espécie de fiscalização efectiva ao Governo; aposta na imagem da seriedade e credibilidade, assentes numa rigidez quer do discurso, quer das acções.
A estratégia do PSD está, a meu ver, longe de vir a produzir resultados positivos. Na verdade, é muito difícil gerir silêncios em política, o que vem apenas perpetuar a tibieza do partido. O PSD necessita de se diferenciar o mais possível do PS, se não o fizer corre o risco de não ser olhado como uma alternativa ao actual executivo. Este é que é o cerne da questão.
Assim, parece-me pouco plausível que a estratégia de contenção no discurso e a não explicitação de projecto alternativo poderá ser contraproducente para as aspirações do PSD. Além do mais, a parcimónia de palavras da actual líder traduz-se frequentemente por uma confusão própria do discurso pejado de ambiguidade. A questão das obras públicas foi talvez o caso mais paradigmático: gerou-se uma confusão acerca daquilo que a líder do PSD pretendia dizer. Não é de excluir, porém, que a líder do PSD conseguiu, na confusão que criou, pôr em causa as ambições do Governo; mas não foi expedita na manutenção da pressão sobre o Governo.
Em todo o caso, existe um elemento positivo na actuação de Manuela Ferreira Leite que carece de ser sublinhado: o distanciamento da Presidente do PSD relativamente a Alberto João Jardim. Manuela Ferreira Leite não compareceu à famigerada festa do Chão da Lagoa – palco principal de tristes espectáculos protagonizados pelos anteriores líderes do PSD.
Com efeito, estamos ainda relativamente longe das eleições – no espaço de um ano, muito pode ainda acontecer. O que é evidente é que o PSD ainda não conseguiu aproveitar os momentos menos positivos do Governo. A títulode exemplo disso mesmo, refira-se a forma inequívoca como Ferreira Leite abandonou o discurso que foi o centro da sua campanha para as eleições internas – as questões sociais. São estas incongruências aliadas a um silêncio ou meias-palavras que dão origem a todo o tipo de ambiguidades que geram uma confusão que afastará, inevitavelmente, o eleitorado que procura uma clarificação e uma diferenciação entre os partidos. A estratégia do PSD falha clamorosamente na supressão das ambiguidades ao insistir na ausência de clarificação.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Mais uma indecência a somar-se a tantas outras

 O New York Times revelou (parte) o que Donald Trump havia escondido: o seu registo fiscal. E as revelações apenas surpreendem pelas quantias irrisórias de impostos que Trump pagou e os anos, longos anos, em que não pagou um dólar que fosse. Recorde-se que todos os presidentes americanos haviam revelado as suas declarações, apenas Trump tudo fizera para as manter sem segredo. Agora percebe-se porquê. Em 2016, ano da sua eleição, o ainda Presidente americano pagou 750 dólares em impostos, depois de declarar um manancial de prejuízos, estratégia adoptada nos tais dez anos, em quinze, em que nem sequer pagou impostos.  Ora, o homem que sempre se vangloriou do seu sucesso como empresário das duas, uma: ou não teve qualquer espécie de sucesso, apesar do estilo de vida luxuoso; ou simplesmente esta foi mais uma mentira indecente, ou um conjunto de mentiras indecentes. Seja como for, cai mais uma mancha na presidência de Donald Trump que, mesmo somando indecências atrás de indecências, vai fa

Normalização do fascismo

O PSD Açores, e naturalmente com a aprovação de Rui Rio, achou por bem coligar-se com o "Chega". Outros partidos como o Iniciativa Liberal (IL) e o CDS fizeram as mesmas escolhas, ainda que o primeiro corra atrás do prejuízo, sobretudo agora que a pandemia teve o condão de mostrar a importância do Estado Social que o IL tão avidamente pretende desmantelar, e o segundo se tenha transformado numa absoluta irrelevância. Porém, é Rui Rio, o mesmo que tem cultivado aquela imagem de moderado, que considera que o "Chega" nos Açores é diferente do "Chega" nacional. Rui Rio, o moderado, considera mesmo que algumas medidas do "Chega" como a estafada redução do Rendimento Social de Inserção é um excelente medida. Alheio às características singulares da região, Rui Rio pensa que com a ajuda do "Chega" vai tirar empregos da cartola para combater a subsidiodependência de que tanto fala, justificando deste modo a normalização que está a fazer de um pa

Outras verdades

 Ontem realizou-se o pior debate da história das presidenciais americanas. Trump, boçal, mentiroso, arrogante e malcriado, versus Biden que, apesar de ter garantido tudo fazer  para não cair na esparrela do seu adversário, acabou mesmo por cair, apelidando-o de mentiroso e palhaço.  Importa reconhecer a incomensurável dificuldade que qualquer ser humano sentiria se tivesse que debater com uma criança sem qualquer educação. Biden não foi excepção. Trump procurou impingir todo o género de mentiras, que aos ouvidos dos seus apoiante soam a outras verdades, verdades superiores à própria verdade. Trump mentiu profusamente, até sobre os seus pretensos apoios. O sheriff de Portland, por exemplo, já veio desmentir que alguma vez tivesse expressado apoio ao ainda Presidente americano. Diz-se por aí que Trump arrastou Biden para a lama. Eu tenho uma leitura diferente: Trump tem vindo a arrastar os EUA para lama. Os EUA, nestes árduos anos, tem vindo a perder influência e reputação e Trump é o ma