Avançar para o conteúdo principal

O debate sobre o estado da Nação

O debate parlamentar sobre o estado da Nação não trouxe nada de novo; ou melhor, o primeiro-ministro aproveitou a ocasião para anunciar novas medidas sociais com o objectivo de aligeirar a crise que assola os cidadãos. Para além das medidas previamente anunciadas na entrevista da RTP, José Sócrates anunciou mais algumas tentativas, ténues é certo, mas ainda assim tentativas de ajudar as famílias portuguesas, sobretudo as mais desfavorecidas.
A oposição desempenhou o papel a que nos habitou – limitou-se a criticar, sem apresentar alternativas exequíveis às políticas do Governo. O debate foi também marcado pela estreia de Paulo Rangel, líder da bancada parlamentar do PSD. Uma estreia com altos e baixos, mas que ainda assim contraria, em parte, o marasmo do Parlamento.
Mais do que se debater as mesmas conclusões sobre o estado da Nação, importa agora encetar-se umaa discussão sobre soluções que permitam atenuar os efeitos da crise, sem nunca perder de vista as medidas necessárias que permitam viabilizar o futuro do país. É claro que essa discussão ficará adiada, tendo em consideração que agora se aproximam as férias e a já habitual silly season.
O Governo falhou, à semelhança dos seus antecessores, na introdução e execução de mudanças estruturais, não obstante ter conseguido, apesar de tudo ir um pouco mais longe do que os seus antecessores. Mas de um modo geral, este falhanço do Executivo nem sequer mereceu grande atenção por parte de uma oposição gasta e ideologicamente caduca. E se por um lado, é fundamental debelar os efeitos mais imediatos da crise, por outro não se pode continuar a pensar que o país pode continuar na mesma, sem as mudanças que tanto necessita, correndo assim o risco de se perpetuar o atraso num país que continua a ser um case study a nível europeu. Em conclusão, o debate da nação foi mais uma oportunidade perdida para se abordar o esmorecimento do ímpeto reformista do Governo que terá custos onerosos para o país. Talvez não interesse muito à oposição, parte dela responsável pelo actual estado do país, abordar certas questões. O essencial ficou, pois, por discutir. O adiamento dessa discussão é sintomático da falta de qualidade de grande parte da classe política.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Normalização do fascismo

O PSD Açores, e naturalmente com a aprovação de Rui Rio, achou por bem coligar-se com o "Chega". Outros partidos como o Iniciativa Liberal (IL) e o CDS fizeram as mesmas escolhas, ainda que o primeiro corra atrás do prejuízo, sobretudo agora que a pandemia teve o condão de mostrar a importância do Estado Social que o IL tão avidamente pretende desmantelar, e o segundo se tenha transformado numa absoluta irrelevância. Porém, é Rui Rio, o mesmo que tem cultivado aquela imagem de moderado, que considera que o "Chega" nos Açores é diferente do "Chega" nacional. Rui Rio, o moderado, considera mesmo que algumas medidas do "Chega" como a estafada redução do Rendimento Social de Inserção é um excelente medida. Alheio às características singulares da região, Rui Rio pensa que com a ajuda do "Chega" vai tirar empregos da cartola para combater a subsidiodependência de que tanto fala, justificando deste modo a normalização que está a fazer de um pa...

Fim do sigilo bancário

Tudo indica que o sigilo bancário vai ter um fim. O Partido Socialista e o Bloco de Esquerda chegaram a um entendimento sobre a matéria em causa - o Bloco de Esquerda faz a proposta e o PS dá a sua aprovação para o levantamento do sigilo bancário. A iniciativa é louvável e coaduna-se com aquilo que o Bloco de Esquerda tem vindo a propor com o objectivo de se agilizar os mecanismos para um combate eficaz ao crime económico e ao crime de evasão fiscal. Este entendimento entre o Bloco de Esquerda e o Partido Socialista também serve na perfeição os intentos do partido do Governo. Assim, o PS mostra a sua determinação no combate à corrupção e ao crime económico e, por outro lado, aproxima-se novamente do Bloco de Esquerda. Com efeito, a medida, apesar de ser tardia, é amplamente aplaudida e é vista como um passo certo no combate à corrupção, em particular quando a actualidade é fortemente marcada por suspeições e por casos de corrupção. De igual forma, as perspectivas do PS conseguir uma ma...

Mais uma indecência a somar-se a tantas outras

 O New York Times revelou (parte) o que Donald Trump havia escondido: o seu registo fiscal. E as revelações apenas surpreendem pelas quantias irrisórias de impostos que Trump pagou e os anos, longos anos, em que não pagou um dólar que fosse. Recorde-se que todos os presidentes americanos haviam revelado as suas declarações, apenas Trump tudo fizera para as manter sem segredo. Agora percebe-se porquê. Em 2016, ano da sua eleição, o ainda Presidente americano pagou 750 dólares em impostos, depois de declarar um manancial de prejuízos, estratégia adoptada nos tais dez anos, em quinze, em que nem sequer pagou impostos.  Ora, o homem que sempre se vangloriou do seu sucesso como empresário das duas, uma: ou não teve qualquer espécie de sucesso, apesar do estilo de vida luxuoso; ou simplesmente esta foi mais uma mentira indecente, ou um conjunto de mentiras indecentes. Seja como for, cai mais uma mancha na presidência de Donald Trump que, mesmo somando indecências atrás de indecência...