
Todavia, a caricatura poderá não cumprir o objectivo a que se propunha, podendo mesmo provocar o efeito contrário. Nessa caricatura vê-se Barack Obama vestido com trajes muçulmanos, cumprimentando a sua mulher que ostenta uma metralhadora. O acontecimento tem lugar na Sala Oval, decorada com uma pintura de Bin Laden e onde se vê a bandeira americana a arder na lareira. A imagem é indubitavelmente provocadora, e apesar de tentar criticar as associações que alguns fazem entre o candidato presidencial Barack Obama e o terrorismo, não consegue ser feliz.
Não obstante as críticas que possam recair sobre a caricatura da revista, liberal, The New Yorker, também é verdade que não passou pela cabeça de ninguém pretender censurar ou impedir que a imagem possa ser publicada. É de mau gosto, pode ter interpretações erradas e até pode ter algum efeito prejudicial para a campanha de Barack Obama, mas não se pode ceder à tentação de exercer qualquer cerceamento no que diz respeito à liberdade de expressão. Os Americanos não cederam a essa tentação.
A polémica prossegue nos próximos dias. Recorde-se que a revista em questão tem uma orientação liberal e, por conseguinte, mais próxima da candidatura do senador democrata. A polémica caricatura tinha como intenção mostrar os exageros e preconceitos que pululam na cabeça de muitos americanos. Acontece que a imagem é talvez demasiado forte, trazendo à memória acontecimentos ainda não totalmente ultrapassados. A utilização da imagem de Bin Laden e a bandeira americana a arder numa associação com o casal Obama, não podia ter um outro resultado que não fosse a polémica.
Fica, no entanto, um elemento positivo a reter: a candidatura de Barack Obama não parece ter feito qualquer pressão para impedir que a imagem fosse publicada – e socorrendo-me do editorial do jornal Público de ontem, se tudo isto se passasse na Europa, o destino dessa caricatura de mau gosto poderia muito bem ter outro destino.
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