O fim-de-semana foi pródigo em acontecimentos, mais não seja porque o maior partido português mudou de liderança. Mas não terá sido esse o grande acontecimento do fim-de-semana, pelo menos na percepção da comunicação social. A selecção nacional, entre partidas e chegadas, teve um amplo tratamento na comunicação social – directos, entrevistas, festas coloridas, recepção do Presidente da República –, um país inteiro a abraçar o sonho de vencer o campeonato europeu de futebol.
Todos os canais de televisão mostraram ad nauseum as mesmas imagens, os mesmos rostos, as mesmas palavras, as mesmas minudências, as mesmas inanidades. O entretenimento, em Portugal, toma conta dos corações e do discernimento das pessoas.
É claro que o entretenimento faz parte da vida, e ainda bem que é assim; mas não se justifica que assuntos mais prementes fiquem relegados para um segundo plano porque não são tão coloridos nem tão esfuziantes. Há tempo e espaço para tudo.
Dir-se-á que o povo está cansado de ouvir falar de crise e mais ainda de política. Compreende-se que assim seja. Os Portugueses já ouvem falar de crise há quase uma década, ainda que a conjuntura económica internacional – marcada pela crise financeira, crise do petróleo e crise alimentar – manifestamente não tenha sido a principal responsável pela crise económica e social do país. Todavia, a conjuntura internacional desfavorável vem agravar mais os problemas estruturais de um país que não soube aproveitar as oportunidades.
De igual forma, a política é um tema cada vez mais distante do interesse dos Portugueses. A culpa é de uma classe política preocupada consigo própria e caracterizada, em larga medida, pela inépcia. A verdade, contudo, é que a crise internacional é, em última análise, consequência da tibieza da política e da ausência de lideranças políticas. Consequentemente, por mais enfadonho que o tema seja, por mais cinzento que seja, por mais incertezas que nos suscite, é ainda a melhor forma de se resolver os problemas. Não são os mercados que vão apresentar soluções para melhorar o bem-estar social dos cidadãos, são os políticos e organizações como os sindicatos que, curiosamente, são quem tem vindo a perder força mundialmente.
Regressando a Portugal, importa referir que esta anestesia geral cria as condições ideais para se governar em tempo de crise. No fundo, o mês de futebol proporciona ao Governo uma espécie de tréguas que serão quebradas esporadicamente pelo descontentamento mais evidente de sectores da economia que têm dificuldades em fazer face a aumentos consecutivos dos combustíveis e aos movimentos internos do partido do Governo, cujas faces mais visíveis têm sido a de Mário Soares e de Manuel Alegre.
Por outro lado importa refutar a ideia de que a abordagem a temas como o da crise possa ser potencialmente alarmante. Pelo contrário, é fundamental que as pessoas sejam informadas da actual situação e dos cenários previstos para os próximos meses – não adianta esconder as evidências na esperança que o problema desapareça. O Governo tentou empreender esta estratégia e a mesma acabou por revelar-se contraproducente. Por outro lado, as mudanças na liderança do PSD não podem ser relativizadas por parte da comunicação social, nem que seja porque Manuela Ferreira Leite é uma forte candidata ao cargo de primeira-ministra.
Por fim, dizer apenas que este texto perderia força se a televisão não fosse o maná que é para uma vasta maioria de Portugueses. Assim sendo, é a televisão, designadamente os canais que emitem em sinal aberto que mais alimentam as massas de espectáculos e menos daquilo que realmente determina a vida de cada um de nós. Repito: há tempo e espaço para tudo, não se invertam, porém, as prioridades. Uma sociedade informada e participativa é também determinante para o desenvolvimento dos países. Não é por acaso que se fala num outro défice, que não o das contas públicas – o défice da sociedade civil.
Todos os canais de televisão mostraram ad nauseum as mesmas imagens, os mesmos rostos, as mesmas palavras, as mesmas minudências, as mesmas inanidades. O entretenimento, em Portugal, toma conta dos corações e do discernimento das pessoas.
É claro que o entretenimento faz parte da vida, e ainda bem que é assim; mas não se justifica que assuntos mais prementes fiquem relegados para um segundo plano porque não são tão coloridos nem tão esfuziantes. Há tempo e espaço para tudo.
Dir-se-á que o povo está cansado de ouvir falar de crise e mais ainda de política. Compreende-se que assim seja. Os Portugueses já ouvem falar de crise há quase uma década, ainda que a conjuntura económica internacional – marcada pela crise financeira, crise do petróleo e crise alimentar – manifestamente não tenha sido a principal responsável pela crise económica e social do país. Todavia, a conjuntura internacional desfavorável vem agravar mais os problemas estruturais de um país que não soube aproveitar as oportunidades.
De igual forma, a política é um tema cada vez mais distante do interesse dos Portugueses. A culpa é de uma classe política preocupada consigo própria e caracterizada, em larga medida, pela inépcia. A verdade, contudo, é que a crise internacional é, em última análise, consequência da tibieza da política e da ausência de lideranças políticas. Consequentemente, por mais enfadonho que o tema seja, por mais cinzento que seja, por mais incertezas que nos suscite, é ainda a melhor forma de se resolver os problemas. Não são os mercados que vão apresentar soluções para melhorar o bem-estar social dos cidadãos, são os políticos e organizações como os sindicatos que, curiosamente, são quem tem vindo a perder força mundialmente.
Regressando a Portugal, importa referir que esta anestesia geral cria as condições ideais para se governar em tempo de crise. No fundo, o mês de futebol proporciona ao Governo uma espécie de tréguas que serão quebradas esporadicamente pelo descontentamento mais evidente de sectores da economia que têm dificuldades em fazer face a aumentos consecutivos dos combustíveis e aos movimentos internos do partido do Governo, cujas faces mais visíveis têm sido a de Mário Soares e de Manuel Alegre.
Por outro lado importa refutar a ideia de que a abordagem a temas como o da crise possa ser potencialmente alarmante. Pelo contrário, é fundamental que as pessoas sejam informadas da actual situação e dos cenários previstos para os próximos meses – não adianta esconder as evidências na esperança que o problema desapareça. O Governo tentou empreender esta estratégia e a mesma acabou por revelar-se contraproducente. Por outro lado, as mudanças na liderança do PSD não podem ser relativizadas por parte da comunicação social, nem que seja porque Manuela Ferreira Leite é uma forte candidata ao cargo de primeira-ministra.
Por fim, dizer apenas que este texto perderia força se a televisão não fosse o maná que é para uma vasta maioria de Portugueses. Assim sendo, é a televisão, designadamente os canais que emitem em sinal aberto que mais alimentam as massas de espectáculos e menos daquilo que realmente determina a vida de cada um de nós. Repito: há tempo e espaço para tudo, não se invertam, porém, as prioridades. Uma sociedade informada e participativa é também determinante para o desenvolvimento dos países. Não é por acaso que se fala num outro défice, que não o das contas públicas – o défice da sociedade civil.
Comentários