Começámos agora a assistir ao regozijo colectivo em torno da selecção nacional, o que só por si merece uma tentativa de se explicar as razões de tamanha euforia.
Com efeito, todos se juntam em redor de uma equipa de futebol que enverga as cores nacionais, numa competição europeia onde figuram as grandes potências europeias, potências económicas entenda-se. Ora, só através do futebol podemos reviver momentos de grandeza entretanto desvanecidos. A grandeza de outros tempos não regressará, mas podemos ainda assim ambicionar ser os melhores da Europa – no futebol. E será assim que Portugal levará o seu nome mais longe, através do futebol, de tal forma que um dia o país mais ocidental da Europa será conhecido como o Brasil da Europa do futebol.
É também curioso verificar que durante o decorrer destes rituais de apoio à selecção, todos são iguais, não há verdadeiramente diferenças; desde o sapateiro ao ministro da nação todos são iguais – uma espécie de nivelamento social de carácter efémero.
O espectáculo em si é apelativo: é colorido e sonoro, é o palco ideal para rituais colectivos nos quais a educação e a sensatez ficam de fora. Em suma, tudo é permitido verbalmente e todos se unem em torno dos símbolos da tribo.
Por outro lado, não esquecer que o país atravessa uma crise que, tão cedo, não dará sinais de atenuamento. Por conseguinte, o futebol é uma espécie de anestesia que faz esquecer o país triste e a caminho da inviabilidade. Assim, quando os Portugueses se deparam com a evidência de viverem num beco sem saída, sentem poucos motivos de orgulho. É aqui que entra o espectáculo efusivo da selecção; é também isto que faz milhões sentirem de forma tão entusiástica a selecção.
Note-se igualmente que o futebol serve de pretexto para pessoas que passam a vida a criticar os outros, esquecer as invejas e as ideias preconcebidas durante algumas horas. De igual modo a questão da responsabilidade é merecedora de análise, em particular num país em que a mesma atravessa historicamente uma crise. Se a selecção vencer, será uma vitória de todos nós, se perderem, a responsabilidade será dos jogadores, da equipa técnica.
Esta anestesia até seria relativamente inócua se a participação cívica fosse uma realidade. É preocupante verificar que só nos unimos e damos sinal de vida em dois momentos, manifestando o nosso contentamento ou descontentamento: ou quando estão em causa os nossos interesses, unimo-nos a quem partilha as mesmas preocupações, normalmente inseridas em grupos sociais, ou em torno do futebol.
Quando se aborda esta questão, é recorrente refutar-se utilizando o argumento do patriotismo. Muito bem, mas será este o melhor modo de se afirmar patriota, em particular quando esta é a única forma de manifestar esse patriotismo bacoco. Quando na generalidade dos problemas ou nos refugiamos no nosso próprio egoísmo, arrebanhados em volta dos nossos interesses pessoais e pouco preocupados com o destino do país até percebermos que esse destino é indissociável do nosso; ou afirmamos o nosso interesse em fazermos parte de Espanha, porque somos incapazes de resolver os nossos problemas e eles (Espanhóis) já demonstraram capacidades desconhecidas entre nós.
Finalmente, dizer apenas que entre as vitórias da selecção e as benesses do Governo (subsídios e lançamento de grandes obras públicas), o mês de Junho passará num instante. Entretanto o Verão está mesma aí à porta e com ele vêm as férias. Para bom entendedor, meia palavra basta.
Com efeito, todos se juntam em redor de uma equipa de futebol que enverga as cores nacionais, numa competição europeia onde figuram as grandes potências europeias, potências económicas entenda-se. Ora, só através do futebol podemos reviver momentos de grandeza entretanto desvanecidos. A grandeza de outros tempos não regressará, mas podemos ainda assim ambicionar ser os melhores da Europa – no futebol. E será assim que Portugal levará o seu nome mais longe, através do futebol, de tal forma que um dia o país mais ocidental da Europa será conhecido como o Brasil da Europa do futebol.
É também curioso verificar que durante o decorrer destes rituais de apoio à selecção, todos são iguais, não há verdadeiramente diferenças; desde o sapateiro ao ministro da nação todos são iguais – uma espécie de nivelamento social de carácter efémero.
O espectáculo em si é apelativo: é colorido e sonoro, é o palco ideal para rituais colectivos nos quais a educação e a sensatez ficam de fora. Em suma, tudo é permitido verbalmente e todos se unem em torno dos símbolos da tribo.
Por outro lado, não esquecer que o país atravessa uma crise que, tão cedo, não dará sinais de atenuamento. Por conseguinte, o futebol é uma espécie de anestesia que faz esquecer o país triste e a caminho da inviabilidade. Assim, quando os Portugueses se deparam com a evidência de viverem num beco sem saída, sentem poucos motivos de orgulho. É aqui que entra o espectáculo efusivo da selecção; é também isto que faz milhões sentirem de forma tão entusiástica a selecção.
Note-se igualmente que o futebol serve de pretexto para pessoas que passam a vida a criticar os outros, esquecer as invejas e as ideias preconcebidas durante algumas horas. De igual modo a questão da responsabilidade é merecedora de análise, em particular num país em que a mesma atravessa historicamente uma crise. Se a selecção vencer, será uma vitória de todos nós, se perderem, a responsabilidade será dos jogadores, da equipa técnica.
Esta anestesia até seria relativamente inócua se a participação cívica fosse uma realidade. É preocupante verificar que só nos unimos e damos sinal de vida em dois momentos, manifestando o nosso contentamento ou descontentamento: ou quando estão em causa os nossos interesses, unimo-nos a quem partilha as mesmas preocupações, normalmente inseridas em grupos sociais, ou em torno do futebol.
Quando se aborda esta questão, é recorrente refutar-se utilizando o argumento do patriotismo. Muito bem, mas será este o melhor modo de se afirmar patriota, em particular quando esta é a única forma de manifestar esse patriotismo bacoco. Quando na generalidade dos problemas ou nos refugiamos no nosso próprio egoísmo, arrebanhados em volta dos nossos interesses pessoais e pouco preocupados com o destino do país até percebermos que esse destino é indissociável do nosso; ou afirmamos o nosso interesse em fazermos parte de Espanha, porque somos incapazes de resolver os nossos problemas e eles (Espanhóis) já demonstraram capacidades desconhecidas entre nós.
Finalmente, dizer apenas que entre as vitórias da selecção e as benesses do Governo (subsídios e lançamento de grandes obras públicas), o mês de Junho passará num instante. Entretanto o Verão está mesma aí à porta e com ele vêm as férias. Para bom entendedor, meia palavra basta.
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