Avançar para o conteúdo principal

Eleições no PSD

Depois de mais um debate televisivo – o anterior tinha sido pautado pela exuberância da apresentadora – a campanha dos diferentes intervenientes aproxima-se do fim. Este debate terá sido consideravelmente mais elucidativo do que anterior, e os candidatos conseguiram expor de forma mais profícua as suas ideias.
Estas eleições para a liderança do maior partido da oposição têm dado um contributo positivo para o debate político em Portugal. E se há quem crítica as “directas” como forma de escolher um líder de um partido, não é menos verdade que esta forma de eleição tem a vantagem de ser propícia à discussão de ideias.
Numa altura em que muito se crítica, e com razão, a falta de debate político, os candidatos à presidência do PSD mostraram que existe diversidade no seio dos partidos e que esse debate é, apesar de tudo, possível. Essa diversidade enriquece o debate e contribui para a consolidação democrática.
Dir-se-á que os candidatos não foram capazes de expor convenientemente os seus projectos e que existe um vasto rol de temas que ficou de fora da discussão. Contudo, não é fácil explanar sobre determinados assuntos, cuja complexidade é indubitável, em apenas 15 minutos de televisão. Certamente que os militantes do partido, designadamente os que ouviram os candidatos, tiveram a oportunidade de entender o rumo que cada candidato quer dar ao partido e ao país.
A candidatura de Manuela Ferreira Leite é considerada a favorita. A ex-ministra das Finanças aposta na seriedade e no respeito interno que tem e mostra ser mais prudente nas propostas que apresenta para o país. A sua experiência é uma faca de dois gumes – ora é uma mais-valia, ora é demasiado onerosa e potencialmente comprometedora. Genericamente, esta candidatura merece dois elogios: um que se prende com a coerência de que Ferreira Leite não abdica, e outra que está relacionada com a ênfase dada aos problemas sociais que o país atravessa.
Pedro Passos Coelho parece ter tido alguns problemas com a questão do liberalismo que caracteriza a sua posição ideológica, isso terá sido, porém, mais notório no anterior debate. Importa contudo sublinhar a coragem política de Passos Coelho em ter afirmado ser liberal, num país em que isso pode ser contraproducente. Por outro lado, o candidato foi exímio no tratamento que deu à sua alegada falta de experiência, alegando por diversas vezes ser preferível não ter muita experiência do que ter a experiência de outros candidatos.
Pedro Santana Lopes continua a ser prodigioso nos debates e nas intervenções públicas. Essa é seguramente a grande vantagem de um candidato que tem um passado complicado, não obstante as intenções demonstradas de uma alegada regeneração. Quanto ao estilo continua muito próximo do populismo que, afinal, sempre o caracterizou.
E finalmente, Mário Patinha Antão, um candidato que sempre foi relegado para um segundo plano, mas que cujas intervenções nos debates se pautaram pela estruturação do seu projecto e pela acutilância das suas intervenções.
Um destes candidatos será o próximo líder do PSD. Tudo indica que será Ferreira Leite. Todavia, não é de descartar a possibilidade de surgir uma surpresa. Afinal de contas, não seria a primeira vez que isso acontece num partido que se encontra manifestamente dividido, mas que luta ainda assim pela viabilidade política.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Normalização do fascismo

O PSD Açores, e naturalmente com a aprovação de Rui Rio, achou por bem coligar-se com o "Chega". Outros partidos como o Iniciativa Liberal (IL) e o CDS fizeram as mesmas escolhas, ainda que o primeiro corra atrás do prejuízo, sobretudo agora que a pandemia teve o condão de mostrar a importância do Estado Social que o IL tão avidamente pretende desmantelar, e o segundo se tenha transformado numa absoluta irrelevância. Porém, é Rui Rio, o mesmo que tem cultivado aquela imagem de moderado, que considera que o "Chega" nos Açores é diferente do "Chega" nacional. Rui Rio, o moderado, considera mesmo que algumas medidas do "Chega" como a estafada redução do Rendimento Social de Inserção é um excelente medida. Alheio às características singulares da região, Rui Rio pensa que com a ajuda do "Chega" vai tirar empregos da cartola para combater a subsidiodependência de que tanto fala, justificando deste modo a normalização que está a fazer de um pa...

Outras verdades

 Ontem realizou-se o pior debate da história das presidenciais americanas. Trump, boçal, mentiroso, arrogante e malcriado, versus Biden que, apesar de ter garantido tudo fazer  para não cair na esparrela do seu adversário, acabou mesmo por cair, apelidando-o de mentiroso e palhaço.  Importa reconhecer a incomensurável dificuldade que qualquer ser humano sentiria se tivesse que debater com uma criança sem qualquer educação. Biden não foi excepção. Trump procurou impingir todo o género de mentiras, que aos ouvidos dos seus apoiante soam a outras verdades, verdades superiores à própria verdade. Trump mentiu profusamente, até sobre os seus pretensos apoios. O sheriff de Portland, por exemplo, já veio desmentir que alguma vez tivesse expressado apoio ao ainda Presidente americano. Diz-se por aí que Trump arrastou Biden para a lama. Eu tenho uma leitura diferente: Trump tem vindo a arrastar os EUA para lama. Os EUA, nestes árduos anos, tem vindo a perder influência e reputação ...

Fim do sigilo bancário

Tudo indica que o sigilo bancário vai ter um fim. O Partido Socialista e o Bloco de Esquerda chegaram a um entendimento sobre a matéria em causa - o Bloco de Esquerda faz a proposta e o PS dá a sua aprovação para o levantamento do sigilo bancário. A iniciativa é louvável e coaduna-se com aquilo que o Bloco de Esquerda tem vindo a propor com o objectivo de se agilizar os mecanismos para um combate eficaz ao crime económico e ao crime de evasão fiscal. Este entendimento entre o Bloco de Esquerda e o Partido Socialista também serve na perfeição os intentos do partido do Governo. Assim, o PS mostra a sua determinação no combate à corrupção e ao crime económico e, por outro lado, aproxima-se novamente do Bloco de Esquerda. Com efeito, a medida, apesar de ser tardia, é amplamente aplaudida e é vista como um passo certo no combate à corrupção, em particular quando a actualidade é fortemente marcada por suspeições e por casos de corrupção. De igual forma, as perspectivas do PS conseguir uma ma...