Avançar para o conteúdo principal

Violência regressa ao Tibete

Esta semana tem sido marcada pelo regresso da violência à região autónoma do Tibete, em particular na capital Lhasa. Manifestações contra o regime chinês têm vindo a ser fortemente reprimidas, e fala-se na morte de pelo menos dez pessoas, fazendo o devido desconto consequência do branqueamento de informações levado a cabo pelas autoridades de Pequim. Há quem advogue que estas são as maiores manifestações desde 1989, altura em que foi decretada a lei marcial. As manifestações contam com a participação de monges e da população tibetana.
Recorde-se que a região do Tibete foi ocupada pela China em 1951 e, por altura da inefável Revolução cultural, a política de força do regime chinês custou a vida de centenas de milhar de vítimas. A ocupação chinesa deste território é arbitrária e a actuação do regime chinês não se coaduna com os mais básicos Direitos Humanos. De facto, a tortura, a repressão, a destruição da cultura tibetana, o repúdio pelos aspectos religiosos, a coarctação de liberdades são, ainda hoje, uma realidade no Tibete, e cujos responsáveis contam com o beneplácito da vasta maioria da comunidade internacional.
A relação entre as manifestações e os Jogos Olímpicos é uma evidência. O povo tibetano está a aproveitar a proximidade dos Jogos Olímpicos, a decorrer na China, e a subsequente visibilidade, para alertar novamente o mundo para a situação no Tibete. O Dalai Lama, prémio Nobel da Paz precisamente em 1989, corre o mundo alertando para a necessidade de uma autonomia de facto do Tibete, facto que exaspera profundamente o regime chinês. Lamentavelmente, o Dalai Lama apenas pode contar com uma compreensão mais ou menos tímida de alguns líderes internacionais, e nada mais do que isso.
As razões que explicam o esquecimento do mundo em relação ao Tibete são bastante claras: ninguém está interessado em causar transtorno ao irascível regime chinês, até porque a China é hoje, e será ainda mais amanhã, uma potência económica e um parceiro de peso nas relações internacionais. Existe uma quase subserviência da comunidade internacional relativamente à China; assim, neste contexto, a violência no Tibete é apenas um facto a lamentar.
Aproxima-se o evento mais esperado na China, os Jogos Olímpicos. Ora, já aqui se escreveu que a China, tratando-se de um regime totalitário que desrespeita incessantemente os Direitos Humanos, não deveria ser o palco de um evento cuja espírito não é consentâneo com os sucessivos atropelos aos Direitos Humanos. De resto, o povo do Tibete vai intensificar os seus protestos, cavalgando na visibilidade dos Jogos Olímpicos, o que vai trazer dificuldades acrescidas às autoridades chinesas.
De notar que a China continua a olhar para o Tibete, e para outras regiões, como uma ameaça permanente. Não esquecendo igualmente o interesse estratégico que este território desperta na China.
Com o aproximar dos Jogos Olímpicos, vamos certamente assistir a um recrudescimento da repressão como resposta às manifestações do povo tibetano. Os tibetanos manifestam a sua insatisfação, a China responde com a violência, o Dalai Lama viaja pelo mundo proferindo o discurso da paz e da libertação, e a comunidade internacional escolhe o silêncio ou as parcas e incipientes palavras para justificar a sua inércia voluntária.

Comentários

camila disse…
como começou esta violêcia entre o tibete e a china
Ver artigo "China e o Tibete" de Maio de 2008. Talvez possa ser mais esclarecedor sobre as causas da violência entre a China e o Tibete.

Mensagens populares deste blogue

Saídas para os impasses

As últimas semanas têm sido pródigas na divulgação de escândalos envolvendo o primeiro-ministro e as suas obrigações com a Segurança Social e com o Fisco. Percebe-se que os princípios éticos associados ao desempenho de funções políticas são absolutamente ignorados por quem está à frente dos destinos do país - não esquecer que o primeiro-ministro já havia sido deputado antes de se esquecer de pagar as contribuições à Segurança Social. A demissão está fora de questão até porque o afastamento do cargo implica, por parte do próprio, um conjunto de princípios que pessoas como Passos Coelho simplesmente não possuem. A oposição, a poucos meses de eleições, parece preferir que o primeiro-ministro coza em lume brando. E com tanta trapalhada insistimos em não discutir possíveis caminhos e saídas para os impasses com que o país se depara. Governo e oposição (sobretudo o Partido Socialista) agem como se não tivessem de possuir um único pensamento político. Assim, continuamos sem saber o que...

Fim do sigilo bancário

Tudo indica que o sigilo bancário vai ter um fim. O Partido Socialista e o Bloco de Esquerda chegaram a um entendimento sobre a matéria em causa - o Bloco de Esquerda faz a proposta e o PS dá a sua aprovação para o levantamento do sigilo bancário. A iniciativa é louvável e coaduna-se com aquilo que o Bloco de Esquerda tem vindo a propor com o objectivo de se agilizar os mecanismos para um combate eficaz ao crime económico e ao crime de evasão fiscal. Este entendimento entre o Bloco de Esquerda e o Partido Socialista também serve na perfeição os intentos do partido do Governo. Assim, o PS mostra a sua determinação no combate à corrupção e ao crime económico e, por outro lado, aproxima-se novamente do Bloco de Esquerda. Com efeito, a medida, apesar de ser tardia, é amplamente aplaudida e é vista como um passo certo no combate à corrupção, em particular quando a actualidade é fortemente marcada por suspeições e por casos de corrupção. De igual forma, as perspectivas do PS conseguir uma ma...

Outras verdades

 Ontem realizou-se o pior debate da história das presidenciais americanas. Trump, boçal, mentiroso, arrogante e malcriado, versus Biden que, apesar de ter garantido tudo fazer  para não cair na esparrela do seu adversário, acabou mesmo por cair, apelidando-o de mentiroso e palhaço.  Importa reconhecer a incomensurável dificuldade que qualquer ser humano sentiria se tivesse que debater com uma criança sem qualquer educação. Biden não foi excepção. Trump procurou impingir todo o género de mentiras, que aos ouvidos dos seus apoiante soam a outras verdades, verdades superiores à própria verdade. Trump mentiu profusamente, até sobre os seus pretensos apoios. O sheriff de Portland, por exemplo, já veio desmentir que alguma vez tivesse expressado apoio ao ainda Presidente americano. Diz-se por aí que Trump arrastou Biden para a lama. Eu tenho uma leitura diferente: Trump tem vindo a arrastar os EUA para lama. Os EUA, nestes árduos anos, tem vindo a perder influência e reputação ...